III Bimestre - Ecumenismo e Dialogo Inter Religioso

ECUMENISMO

Ecumenismo é a busca da unidade entre todas as igrejas cristãs. É um processo de entendimento que reconhece e respeita a diversidade entre as igrejas. A ideia de ecumenismo é exatamente reunir o mundo cristão. Na prática, porém, o movimento compreende diversas religiões inclusive aquela não cristã.
O ecumenismo procura estabelecer boas relações de amizade entre pessoas e igrejas diferentes. Realiza trabalhos em conjunto para ajudar os necessitados e lutar por justiça. Realiza celebrações e orações em conjunto para causa da unidade, e realiza estudos sobre as doutrinas das várias igrejas, em busca de métodos novos para tratar as divergências. O termo ecumenismo teve origem no grego “”oikoumene” que significava “o mundo civilizado”. Na Bíblia a palavra oikoumene é traduzida como “todo” e “universal”.

Origem do ecumenismo
No período de formação da Igreja uma de suas principais características era a união, a solidariedade e o amor fraternal, porém, ao longo dos séculos esse ideal foi se desintegrando. A grande divisão teve início entre cristãos latinos e gregos, que teve seu cume no século XI. Mais tarde, no século XVI houve a separação entre católicos e protestantes, em seguida outras divisões foram surgindo ao longo da história.
Na Europa e nos Estados Unidos foram criadas várias sociedades que reuniam presbiterianos, metodista, batistas e episcopais, que se reuniam em prol da mesma causa. O precursor do ecumenismo foi o missionário Carey, que em 1810 sonhava com uma conferência missionária internacional, que não se realizou. O movimento missionário que se conhece hoje surgiu a partir de 1910, em Edimburgo, na Escócia. A principal expressão desse movimento é o Conselho Mundial de Igrejas, criado na Holanda em 1948.

Ecumenismo no Brasil
No Brasil o organismo mais importante do ecumenismo é o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), fundada em novembro de 1982, na cidade de Porto Alegre (RS).  Seus Membros hoje são a Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e a Igreja Católica Ortodoxa Siriana do Brasil.

A origem do “Ecumenismo”
O Movimento ecumênico foi oficializado em 1910, em Edimburgo (Escócia), por um grupo de pessoas pertencentes a diferentes religiões. O termo “ecumenismo” origina-se do grego “oikoumene”, que, antigamente, designava “o mundo habitado ou civilizado”, em oposição ao “mundo bárbaro”. O termo grego “oikoumene”, em algumas passagens bíblicas, traduz-se por “todo”. Por exemplo: “E aconteceu naqueles dias que saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo se alistasse” (Lc. 2:1). O “todo” aqui é “oikoumene”. Portanto, ecumênico é o “geral”, o “universal”. A idéia do ecumenismo é exatamente a de “reunir “todo” o mundo cristão”. Na prática, porém, o movimento abarca todas as religiões, inclusive a não-cristãs.

TIPOS DE ECUMENISMO

Ecumenismo espiritual (ou oração)
O ecumenismo espiritual é composto de dois elementos: conversão do coração e reforma deviana, juntamente com a oração pela unidade. "Esta conversão do coração e da santidade da vida, juntamente com as orações privadas e públicas pela unidade dos cristãos, deve ser considerada como a alma de todo o movimento ecumênico e pode corretamente chamar espiritualismo espiritual.

Ecumenismo institucional
É aquele promovido, promovido e realizado pelas igrejas, e dentro dessas instituições há uma estagnação do Concílio Ecumênico das Igrejas, sem equivalente na história do cristianismo. Não é uma Igreja, não é uma super igreja, nem é a Igreja do futuro. Nem é um "conselho universal" no sentido católico ou ortodoxo do termo, nem poderia ser igualado a um "sínodo", de acordo com a terminologia de muitas igrejas reformadas.

Ecumenismo da caridade
O amor é o arquiteto da comunhão entre as pessoas e entre as comunidades. Se nos amamos, nossa comunhão é mais profunda e orientada para a perfeição. O amor é dirigido a Deus uma fonte perfeita de comunhão para encontrar a força para despertar essa mesma comunhão entre o povo e entre as Comunidades, ou para restabelecê-lo entre os cristãos ainda divididos.

Ecumenismo teológico ou doutrinal
Isso deve ser feito por especialistas. Já existem muitas "comissões mistas" formadas por Teólogos católicos e algumas das igrejas. É impossível enumerar os frutos que produziram esses trabalhos. Nesse tipo de ecumenismo, uma palavra é fundamental:


"Diálogo".
A atitude de diálogo situa-se ao nível da natureza da pessoa e da sua dignidade, sendo que a separação das igrejas se deu, principalmente, por motivos teológicos e endopolíticos, ainda presentes entre as diferentes igrejas. Para tentar salvar essas diferenças, inúmeros colóquios, encontros e diálogos foram levantados em diferentes níveis, que buscam verdadeiros passos rumo à unidade dos cristãos em plenitude. É inegável que existem outras dimensões ecumênicas que não são estritamente doutrinárias e que, não resolvidas, uma possível unidade cristã é dificilmente credível.

Ecumenismo social (ou prático)
As relações entre os cristãos antecipam e exigem a partir de agora qualquer colaboração prática possível nas diferentes esferas: pastoral, cultural, social e até mesmo no testemunho da mensagem do Evangelho. A oração ecumênica é uma verdadeira "escola do ecumenismo", é um caminho dinâmico para a unidade. A unidade da ação leva à plena unidade da fé. Aos olhos do mundo, a cooperação entre os cristãos assume as dimensões do testemunho cristão comum e se torna um instrumento de evangelização para o benefício de um e do outro.

ECUMENISMO NO CATECISMO DA IGREJA

Batismo fundamento do ecumenismo
Os que hoje em dia nascem em comunidades que surgiram de tais rupturas "e estão imbuídos da fé em Cristo não podem ser argüidos de pecado de separação, e a Igreja católica os abraça com fraterna reverência e amor... Justificados pela fé recebida no Batismo; estão incorporados em Cristo, e por isso com razão são honrados com o nome de cristãos e merecidamente reconhecidos pelos filhos da Igreja católica como irmãos no Senhor".
O Batismo constitui o fundamento da comunhão entre todos os cristãos, também com os que ainda não estão em comunhão plena com a Igreja católica: "Com efeito, aqueles que crêem em Cristo e foram validamente batizados acham-se em certa comunhão, embora não perfeita, com a Igreja católica. (...) Justificados pela fé no Batismo, são incorporados a Cristo e, por isso, com razão, são honrados com o nome de cristãos e merecidamente reconhecidos pelos filhos da Igreja católica como irmãos no Senhor". "O Batismo, pois, constitui o vínculo sacramental da unidade que liga todos os que foram regenerados por ele."

Causas da falta de ecumenismo
Na realidade, "nesta una e única Igreja de Deus, já desde os primórdios, surgiram algumas cisões, que o Apóstolo censura com vigor como condenáveis. Dissensões mais amplas nasceram nos séculos posteriores. Comunidades não pequenas separaram-se da plena comunhão com a Igreja católica, por vezes não sem culpa de homens de ambas as partes". As rupturas que ferem a unidade do Corpo de Cristo (distinguem-se a heresia, a apostasia e o cisma) não acontecem sem os pecados dos homens:
"Ubi peccata sunt, ibi multitudo, ibi schismata, ibi haereses, ibi discussiones. Ubi autem virtus, ibi singularitas, ibi unio, ex quo omnium credentium erat cor unum et anima una. - Onde estão os pecados, aí está a multiplicidade (das crenças), aí o cisma, aí as heresias, aí as controvérsias. Onde, porém, está a virtude, aí está a unidade, aí a comunhão, em força disso, os crentes eram um só coração e uma só alma.

Consequências da falta de ecumenismo
A missão da Igreja exige o esforço rumo à unidade dos cristãos. Efetivamente, "as divisões entre cristãos impedem a Igreja de realizar a plenitude da catolicidade que lhe é própria naqueles filhos que, embora lhe pertençam pelo batismo, estão separados da plena comunhão com ela. Não só isso, mas também para a própria Igreja se torna tanto mais difícil exprimir, na realidade de sua plena catolicidade sob todos os aspectos"

Efeitos do diálogo ecumênico
Em muitas regiões, graças ao diálogo ecumênico, as comunidades cristãs envolvidas conseguiram criar uma pastoral comum para os casamentos mistos. Sua tarefa é ajudar esses casais a viver sua situação particular à luz da fé. Deve também ajudá-los a superar as tensões entre as obrigações que um tem para com o outro e suas obrigações para com suas comunidades eclesiais, além de incentivar o desabrochar daquilo que lhes é comum na fé e o respeito por tudo que os separa.

Razões para se buscar a unidade ecumênica
"A única Igreja de Cristo (...) é aquela que nosso Salvador depois de sua Ressurreição, entregou a Pedro para que fosse seu pastor e confiou a ele e aos demais Apóstolos para propagá-la e regê-la... Esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como uma sociedade, subsiste na ( "subsistit in") Igreja Católica governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele":
O Decreto sobre o Ecumenismo, do Concílio Vaticano II, explicita: "Pois somente por meio da Igreja católica de Cristo, 'a qual é meio geral de salvação', pode ser atingida toda a plenitude dos meios de salvação. Cremos que o Senhor confiou todos os bens da Nova Aliança somente ao Colégio Apostólico, do qual Pedro é o chefe, a fim de constituir na terra um só Corpo de Cristo, ao qual é necessário que se incorporem plenamente todos os que, de que alguma forma, já pertencem ao Povo de Deus".
Além disso, "muitos elementos de santificação e de verdade existem fora dos limites visíveis da Igreja católica": "A palavra escrita de Deus, a vida da graça, a fé, a esperança, a caridade, outros dons interiores do Espírito Santo e outros elementos visíveis" O espírito de Cristo serve-se dessas igrejas e comunidades eclesiais como meios de salvação cuja força vem da plenitude de graça e de verdade que Cristo confiou à Igreja católica. Todos esses bens provêm de Cristo e levam a Ele e chamam, por eles mesmos, para a "unidade católica".

RUMO À UNIDADE
A unidade, "Cristo a concedeu, desde o início, à sua Igreja, e nós cremos que ela subsiste sem possibilidade de ser perdida na Igreja católica e esperamos que cresça, dia após dia, até a consumação dos séculos". Cristo dá sempre à sua Igreja o dom da unidade, mas a Igreja deve sempre orar e trabalhar para manter, reforçar e aperfeiçoar a unidade que Cristo quer para ela. Por isso Jesus mesmo orou na hora de sua Paixão, e não cessa de orar ao Pai pela unidade de seus discípulos: "... Que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles esteja me nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste" (Jo 17,21). O desejo de reencontrar a unidade de todos os cristãos é um dom de Cristo e convite do Espírito Santo
Para responder adequadamente a este apelo, exigem-se:
·         Uma renovação permanente da Igreja em uma fidelidade maior à sua vocação. Esta renovação é a mola do movimento rumo à unidade.
·         a conversão do coração, "com vistas a viver mais puramente segundo o Evangelho", pois e a infidelidade dos membros ao dom de Cristo que causa as divisões;
·         a oração em comum, pois "a conversão do coração e a santidade de vida, juntamente com as preces particulares e públicas pela unidade dos cristãos, devem ser consideradas a alma de todo o movimento ecumênico e, com razão, podem ser chamadas de ecumenismo espiritual";
·         conhecimento fraterno recíproco,
·         a formação ecumênica dos fiéis e especialmente dos presbíteros;
·         diálogo entre os teólogos e os encontros entre os cristãos diferentes Igrejas e comunidades;
·          a colaboração entre cristãos nos diversos campos do serviço aos homens.
A preocupação de realizar a união "diz respeito à Igreja inteira, fiéis e pastores". Mas é preciso também "ter consciência de que este projeto sagrado, a reconciliação de todos os cristãos na unidade de uma só e única Igreja de Cristo, ultrapassa as forças e as capacidades humanas". Por isso depositamos toda a nossa esperança "na oração de Cristo pela Igreja, no amor do Pai por nós e no poder do Espírito Santo"

CONSELHO NACIONAL DE IGREJAS CRISTÃS NO BRASIL
O CONIC nasceu no ano de 1982, em Porto Alegre (RS). Sua criação é fruto de um longo processo de articulação entre as igrejas Católica Apostólica Romana, Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Episcopal Anglicana do Brasil e Metodista. As primeiras conversas para a criação do Conselho ocorreram em 1975. Foram realizadas 13 reuniões entre as presidências nacionais das igrejas acima citadas para, em 1982, definir-se pela criação.
 A mensagem final da Assembleia que deu origem ao Conselho apresentou a MISSÃO de “colocar-se a serviço da unidade das igrejas, empenhando-se em acompanhar a realidade brasileira, confrontado-a com o Evangelho e as exigências do Reino de Deus”. É compromisso do CONIC, portanto, desde aquele tempo, atuar em favor da dignidade e dos direitos e deveres das pessoas, até como forma de fidelidade à mensagem evangélica.
 Hoje, com sede em Brasília (DF), o CONIC mantém entre os seus objetivos a promoção das relações ecumênicas entre as igrejas e o fortalecimento do testemunho conjunto das igrejas-membro na defesa dos Direitos Humanos. Para alcançar tal meta, as igrejas que compõem o CONIC (veja quais) vivenciam uma parceria de diálogo, de valorização da vida humana, de amizade fraterna e de convivência enquanto entidades que buscam um caminho comum.

·         Missão:
Fortalecer o testemunho ecumênico das Igrejas-membro, fomentar o diálogo inter-religioso e promover a interlocução com organizações da sociedade civil e governo para a incidência pública em favor de políticas que promovam a justiça e a paz.
·         Visão:
Ser um organismo com um maior número de Igrejas-membro, comprometidas com o ecumenismo, fortalecido em sua dinâmica regional, reconhecido pelas Igrejas, organismos ecumênicos, movimentos sociais, agências parceiras e governo brasileiro como interlocutor que contribui para a promoção da justiça e da paz.
·         Valores:
Ecumenismo, diálogo inter-religioso, promoção e defesa dos direitos humanos e promoção de uma cultura de paz.

IGREJAS MEMBRO
·         Aliança de Batistas do Brasil - ABB
·         Igreja Católica Apostólica Romana - ICAR
·         Igreja Episcopal Anglicana do Brasil - IEAB
·         Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - IECLB
·         Igreja Presbiteriana Unida - IPU
·         Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia – ISOA

Pai Nosso - Versão ecumênica
Pai nosso que estás nos céus.
Santificado seja o teu nome,
venha o Teu reino.
Seja feita a tua vontade,
assim na terra como no céu.
O pão nosso de cada dia nos dá hoje,
perdoa-nos as nossas ofensas
assim como nós perdoamos a quem tem nos ofendido.
E não nos deixes cair em tentação,
mas livra-nos do mal,
pois teu é o reino,
o poder e a glória para sempre.
Amém.

DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

Com relativa frequência, os seres humanos têm grandes deficiências na questão do diálogo, no entanto, a interação do conhecimento é essencial para tomar decisões e ampliar informações sobre um campo específico. Inclusive no campo da religião.
Ter uma mente aberta
O diálogo inter-religioso é um claro exemplo. A que se refere este tipo de conversa? Estar disponível à escuta ativa e à colaboração entre pessoas que têm o mesmo credo religioso.
Este intercâmbio pode ser dado de forma privada no contexto íntimo de uma amizade entre duas pessoas com crenças diferentes, mas também pode ser realizada de forma pública entre duas instituições públicas. Este tipo de encontro é muito positivo porque significa ir além dos seus próprios preconceitos e crenças para atender o respeito, os costumes religiosos e as crenças de uma cultura diferente.
Por que é tão importante o diálogo inter-religioso? Porque em alguns casos, pode ajudar os protagonistas desta conversa a perceber que é algo a mais daquilo que nos une do que nos separa. Por exemplo, a ideia de um Deus único está presente nas religiões monoteístas. Da mesma forma, a prática do bem está presente nas mais variadas crenças.
Em certas ocasiões, uma religião olha para outra com certo receio, uma que a busca pela verdade é vivenciada de forma absoluta a partir do interior de uma religião. No entanto, o diálogo inter-religioso permite criar um contexto de debate comum, onde o respeito ao próximo é um valor fundamental.

Diálogo inter-religioso: O desafio do nosso tempo
O diálogo inter-religioso é o grande desafio que se apresenta hoje à Igreja, de um modo particular neste mundo da globalização que se está a afirmar perante os olhos estupefactos tanto dos que a aprovam como dos que dela discordam. Alguém já vai dizendo que não estamos simplesmente perante uma época de mudanças, mas sim de uma mudança de época.
Confrontados com o choque de civilizações, que ameaça levantar-se no horizonte dos começos do século XXI, os olhares viram-se para as religiões que delas fazem parte como componentes substanciais. As religiões são, por isso, chamadas a contas. “Não haverá paz entre as nações sem a paz entre as religiões. Não haverá paz entre as religiões sem o diálogo entre as religiões. Não haverá diálogo entre as religiões se não se investigam os fundamentos das religiões” – assim nos apresenta o tema Hans Küng na primeira página do seu último livro O Islão – História, Presente, Futuro.
O diálogo inter-religioso é um tema que se foi impondo gradualmente a partir dos debates verificados na aula conciliar, desde 1962 a 1965. O Papa Paulo VI começou a sua primeira encíclica Ecclesiam Suam de 1964 dizendo que “a Igreja faz-se palavra, mensagem, colóquio… A origem transcendente do diálogo está na mesma intenção de Deus. A Revelação, quer dizer, a relação sobrenatural instaurada com a humanidade, pode ser representada num diálogo com que o Verbo de Deus se expressa na Encarnação e, portanto no Evangelho”. A esta justificação teológica do diálogo oferecida por Paulo VI, e na mesma direcção, seguiram-se os documentos conciliares Lumen Gentium, Ad Gentes, Gaudium et Spes e sobretudo Dignitatis Humanae e Nostra Aetate.
Podemos considerar que a porta de abertura para a reflexão sobre o diálogo inter-religioso, que viria a desenvolver-se posteriormente, está nestas palavras do concílio que diz, no número 22 da Gaudium et Spes: “E o que fica dito vale não só para os cristãos, mas para todos os homens de boa vontade, em cujos corações a graça opera ocultamente… Com efeito, já que por todos morreu Cristo e a vocação última de todos os homens é realmente uma só, a saber, a divina, devemos manter que o Espírito Santo a todos dá a possibilidade de se associarem a este mistério pascal, por um modo só de Deus conhecido.” Os teólogos não têm tido tarefa fácil ao tentar oferecer pistas para uma compreensão desta afirmação conciliar e do papel das outras religiões em relação com a salvação operada por Cristo. Trata-se de uma salvação pessoal em cuja ação toma parte também a comunidade social e religiosa a que a pessoa está ligada.
A declaração Dignitatis Humanae veio consagrar a liberdade religiosa e afirmar a dignidade da consciência que deve ser respeitada. A declaração Nostra Aetate, por seu lado, afirmou a estima e o reconhecimento que a Igreja Católica tem pelos valores presentes nas outras religiões, expressamente no Hinduísmo, Budismo, Islamismo, Judaísmo. Estas “reflectem não raramente um raio da verdade que ilumina todos os homens». A declaração conciliar não ignora a herança histórica das contendas com o Islão: “Surgiram entre cristãos e muçulmanos não poucas discórdias e ódios, e este sagrado Concílio exorta todos a que, esquecendo o passado, sinceramente se exercitem na compreensão mútua e juntos defendam e promovam a justiça social, os bens morais e a paz e liberdade para todos os homens.”

Conhecimento recíproco
O diálogo inter-religioso não era só teoria a expor mas compromisso a assumir. Por isso, de imediato, se pensou em criar, em 1964, um organismo operativo: o Secretariado para os Não Cristãos, a que viria a suceder mais tarde o Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso. Presentemente, o cardeal Poupard preside a este Conselho, juntamente com o Conselho para a Cultura. Há lógica na união dos dois conselhos, por via das relações entre ambos e entre religiões e culturas. Corremos o risco de confundir as coisas, quando não se sabe distinguir o que é problema cultural e problema religioso, e o que é do âmbito profano e do âmbito especificamente religioso.
O Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso elaborou dois documentos que marcaram o caminho do diálogo: Diálogo e Missão, de 1984, e Diálogo e Anúncio, de 1991. Sobretudo este último tratou de aspectos muito específicos. No número 9 definiu o diálogo como «conjunto das relações inter-religiosas, positivas e construtivas, com pessoas e comunidades de outros credos para um conhecimento mútuo e um enriquecimento recíproco». Sublinhou, no número 14, que o diálogo requer «justa e correta avaliação teológica das outras tradições religiosas». Chamou a atenção, no número 17, para a “presença de valores positivos não só na vida religiosa de cada crente das outras tradições religiosas, mas também nas mesmas tradições religiosas a que eles pertencem... presença ativa de Deus pelo Verbo e a ação universal do Espírito”. Elogiou, no número 27, as experiências genuínas das religiões, como a oração, dizendo que «toda a oração autêntica é suscitada pelo Espírito Santo, o qual está misteriosamente presente no coração de cada homem, quer seja cristão quer não”. Valorizou, no número 29, a ascese e as práticas religiosas, afirmando que “é através da prática daquilo que é bom nas suas próprias tradições religiosas, e segundo os ditames da sua consciência, que os membros das outras religiões respondem afirmativamente ao convite de Deus e recebem a salvação em Jesus Cristo mesmo se não o reconhecem como o seu Salvador”. Sugeriu também, nos número 32 e 36, a oportunidade de uma certa autocrítica, a fazer pelos cristãos, ao sublinhar que «os próprios cristãos devem aceitar ser postos em discussão... o modo como compreendem a própria salvação e a vivem pode ter necessidade de purificação”; e ao admitir que “a Igreja mesma «enquanto “instituição humana e terrena,” e não só os seus membros, tem sempre necessidade de renovação e reforma”. E concluiu, no número 41, que “o diálogo sincero supõe aceitar reciprocamente a existência das diferenças, ou também das contradições e respeitar a livre decisão que as pessoas tomam em conformidade com a própria consciência”.

Formas de diálogo
O mesmo documento passa, depois, a descrever as diversas formas de diálogo. Podemos descrevê-las e enumerá-las da seguinte forma. Antes de mais temos o “diálogo de vida”. A vida moderna põe as várias religiões em contato constante. Por exemplo, hoje com o fenómeno das migrações, facilmente todos fazemos a experiência de ter de tratar, trabalhar e conviver com pessoas de outras culturas e confissões religiosas. Depois, temos o «diálogo de obras»: por esta expressão entendemos o diálogo que se estabelece quando pessoas de diferentes tradições religiosas se unem para realizar iniciativas sociais e humanitárias em colaboração. Seguidamente, falamos de “diálogo dos intercâmbios teológicos”, a forma de diálogo que se revela muito preciosa para superar incompreensões e preconceitos. Por último, e nesta linha de pensamento e ação, falamos também de “diálogo das experiências religiosas”, a forma de diálogo mais enriquecedora mas que exige também o acompanhamento mais cuidadoso.
No número 48, o documento recorda o que o diálogo exige aos cristãos: «os cristãos não se devem esquecer que Deus também se manifestou de qualquer modo aos seguidores das outras tradições religiosas» e que “a plenitude da verdade recebida em Jesus Cristo não dá aos cristãos individualmente a graça de terem assimilado de modo pleno essa verdade... devem estar dispostos a aprender e a receber dos outros... os valores positivos das suas tradições... vencer os preconceitos inveterados, rever as ideias preconcebidas e aceitar que a sua fé seja purificada”.

 Visão positiva
Os documentos sobre o diálogo e a reflexão que se lhes seguiram apresentam o diálogo como um fator positivo, de aprofundamento da própria fé, e não como elemento negativo que a leva a enfraquecer. O Diálogo e Anúncio, no número 50, diz mesmo que “o diálogo, longe de lhes enfraquecer a fé, torná-la-á mais profunda... compreenderão mais claramente os elementos distintivos da mensagem cristã e a presença operante do mistério de Jesus Cristo para além dos confins visíveis da Igreja e do rebanho cristão”.
É caso para recordar o refrão: “Quem conhece uma religião só, não conhece nenhuma religião.” Nesse sentido são de louvar os esforços que se estão a fazer para preparar manuais de educação religiosa que ajudam os professores e catequistas a passar aos jovens alunos e educandos uma informação e formação mais ecuménica e aberta ao pluralismo religioso e intercultural.
Podemos ver o diálogo inter-religioso como fazendo parte da história da salvação. O Génesis diz-nos que tudo teve início pela Palavra, o logos, de Deus. Deus diz e a sua palavra faz ser. A Palavra de Deus é o mediador imediato entre Deus e as criaturas. Através da palavra cria-se um movimento dialógico entre Criador e criatura, na salvaguarda da diferença ontológica. Com a vinda de Cristo «a palavra faz-se carne» e Ele é o fulcro do movimento unificador e relacional entre Deus e a sua criação. Cristo é a Palavra que se faz alguém vivente; com Ele o transcendente faz-se presente no imanente, numa relação criadora/reveladora entre Deus e o ser criado por excelência – o homem.

Único Logos
No diálogo inter-religioso, uma das questões mais problemáticas é a que se refere ao lugar de Jesus Cristo na criação, na revelação e no caminho de salvação das pessoas e dos povos. Para o cristianismo, ele é «único» e ocupa um lugar central tanto em relação à teologia da revelação como da salvação. Cristo e a sua função mediadora única são um impedimento ao diálogo? O desafio para os cristãos é transformarem esta dificuldade em oportunidade e pensarem o diálogo desde Cristo.
Em Cristo a Palavra da criação e a da revelação são um único logos que se abre à diversidade e se relaciona com ela num diálogos contínuo. Mediante a palavra de Deus em sentido “transcendente” tudo é criado, mediante a palavra de Deus em «sentido humano”, em Jesus, recria-se a relação originária do homem com Deus.
Se Cristo é o logos através do qual Deus cria todas as coisas e se Cristo, mesmo que Filho é um todo com Deus Pai, não é então possível separar a palavra do sujeito falante, o Deus que cria e o Deus que se revela, através do seu fazer-se homem, falando palavras de homem. Bem o põe em relevo o início do Evangelho de S. João: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava voltado para Deus e o Verbo era Deus... E o Verbo se fez homem e habitou ente nós.” Cristo torna-se palavra de Deus para os homens e palavra de Deus entre os homens. N’Ele a palavra de Deus e as palavras dos homens ressoam juntas.

Cristo como paradigma
Ele é o diálogo por excelência, é o espaço, o centro e a fonte do movimento relacional entre as diversas linguagens dos homens e de Deus. Por isso quem dialoga põe a sua relação pessoal com os outros no interior da relação que Deus quer fomentar com os homens.
Para os cristãos, Jesus Cristo torna-se o paradigma de referência para toda a relação autenticamente dialógica. O logos divino, num processo de gratuita auto comunicação que só se justifica à luz da liberdade e do amor, sai da morada inacessível da própria transcendência e imerge na contingência do finito, apresentando-se ao mundo como «médium» de relação, inaugurando assim uma nova modalidade de comunicação de Deus com o homem e dos homens entre si. Cristo é dialogo enquanto Deus que se faz homem e homem que é Deus, mediador único entre criação e revelação, símbolo fundador, unificação de dois opostos, homem e Deus.
A relação dialógica deve ser assim entendida como relação de diferentes logo, conceitos, sensações, ações expressas em palavras a dizer ao outro e a escutar do outro. Cristo é o símbolo absoluto, o diálogo originário, a pedra de alicerce do sentido de todo diálogo inter-humano. Ele mesmo diz: “onde dois ou três se encontram reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles” (Mt 18, 20).
Por isso, e em conclusão, à luz destes conceitos talvez melhor seria falarmos de triálogo e recordarmos que para se conseguir um diálogo inter-religioso mais eficaz precisamos de colocar Cristo entre nós e os nossos interlocutores, ouvirmos as suas sugestões e estarmos disponíveis à sua inspiração.

A doutrina da Igreja sobre o diálogo inter-religioso
Em nossos dias é comum ouvir falar de diálogo inter-religioso, como se fosse um imperativo do Evangelho a Igreja abrir-se ao mundo para entrar em contato com todas as religiões e correntes ideológicas, sempre com o propósito de servir a humanidade e tornar a vida aqui na terra menos dura.
Dizem os adeptos do diálogo inter-religioso que entre os sérios problemas da atualidade que a Igreja poderia ajudar a resolver irmanada com as várias "religiões e filosofias da humanidade" estão o problema da paz, da "discriminação", da "intolerância" e da "exclusão das minorias".
Como se vê, é uma visão completamente humanista, antropocêntrica, utópica, que sonha com um paraíso na terra, que não vê a religião como uma virtude moral que tem por objeto o culto devido a Deus. É uma visão que, por princípio, desvirtua a religião, desligando-a do problema da salvação da alma.
Santo Tomás de Aquino na Suma Teológica, na primeira questão do tratado da virtude da religião, pergunta se a religião ordena o homem exclusivamente a Deus e é categórico, taxativo, na resposta afirmativa. E respondendo à objeção baseada na epístola de São Tiago (a religião pura e imaculada aos olhos de Deus Pai é visitar os órfãos e as viúvas em suas tribulações e conservar-se incorrupto neste século), diz que  a religião tem duas espécies de atos: uns são atos próprios e imediatos pelos quais o homem se ordena só a Deus, tais como sacrifícios, adoração etc; outros atos da religião são praticados mediante outras virtudes sobre os quais a virtude da religião impera ordenando-os ao serviço divino. (Cf. Suma Teológica, IIª IIªe. q.81, a. 1)
Para São Tomás, portanto, a verdadeira virtude da religião é incompatível com uma visão humanista em que o homem esteja no centro de tudo. Para ele, é inadmissível uma frase muito em voga "o homem é a estrada da Igreja", como se a Igreja devesse ouvir sempre as aspirações e caprichos do homem que quer ser a sua própria lei ou transformar a religião numa espécie de terapia em que o culto divino se converteria em sessão de cura dos males da mente e do corpo, em que o pecado seria reduzido a mera doença que aflige apenas o homem mas não ofende a Deus. Enfim, uma religião que consola o homem mas se esquece de Deus. Para Santo Tomás, mediante a virtude da religião, todas as atividades humanas, por mais seculares que sejam, de alguma forma se ordenam à glória de Deus e à salvação das almas. É inconcebível uma ação filantrópica que faça abstração do fim último. É inconcebível que a Igreja trabalhe para o bem do mundo, como a ONU, relegando a segundo plano sua missão própria.
Aliás, na exposição da virtude da religião, São Tomás simplesmente desenvolve com argumentos filosóficos e teológicos aquilo que o simples bom senso diz e já tinha sido explanado pelos clássicos e pelos padres da Igreja. Por exemplo, Santo Agostinho diz: o homem bom usa das coisas da terra para gozar de Deus, o iníquo serve-se de Deus para gozar dos bens da terra.
Por isso, o propalado diálogo inter-religioso só pode ser legítimo e justificado se se subordinar à missão específica da Igreja, i. e., a salvação da alma. A Igreja tem de ser corajosa aos olhos de todo o mundo ao afirmar-se solenemente como único e exclusivo meio de salvação disposto por Deus para todos o homens. Tem de ser corajosa e formular um juízo negativo sobre todas as religiões falsas, que, como tais, são antes um obstáculo para a salvação do que um meio para chegar à verdade, não obstante a boa fé e a ignorância invencível de muitos dos seus sequazes. A verdade é intolerante. O bem é exclusivista. Bonum ex integra causa, malum ex quocumque defectu, diz Santo Tomás. Não basta dizer que, apesar de deficientes, as grandes religiões da humanidade contêm elementos de verdade, defendem valores da ordem moral natural ou que há pontos de união entre a Igreja e as religiões falsas. O mal não pede a exclusão do bem, pede um lugar ao seu lado, dizia o pe. Dulac. Hoje, o mundo relativista e maçônico da ONU pede à Igreja que aceite a seu lado todas as religiões para construir um novo mundo, um mundo em que o homem ocupe o lugar de Deus ou invente um deus a serviço do Homem.
Por essa razão, com clarividência, o grande papa Gregório XVI, na encíclica Mirari vos (1832), diz: "Nosso Senhor Jesus Cristo enviou seus apóstolos para pregar e ensinar a todas as nações, ou seja, derrubar todas as religiões existentes, a fim de então estabelecer em toda a terra a única religião cristã e assim substituir todas as crenças dos diferentes povos pela unidade do dogma católico expresso na pregação Dele próprio. E prevendo, na sua presciência, os movimentos e divisões que sua doutrina iria incitar, Ele não se deteve e não permitiu concessões, mas declarou que tinha vindo ao mundo para trazer não a paz, mas a espada, a fim de separar o bem do mal e a verdade da mentira."
A conclusão só pode ser uma: um suposto diálogo inter-religioso honesto, sério, franco, útil não pode esconder a verdade fundamental: a Igreja trabalha para a conversão de todos os homens à única religião verdadeira, que é ela mesma, pois que fundada pelo Verbo Encarnado. Outro diálogo inter-religioso só pode ser um sofisma ou artifício da maçonaria para implantar a religião do Homem-deu

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