III Bimestre - Ecumenismo e Dialogo Inter Religioso
ECUMENISMO
Ecumenismo
é a busca da unidade entre todas as igrejas cristãs. É um processo de
entendimento que reconhece e respeita a diversidade entre as igrejas. A ideia
de ecumenismo é exatamente reunir o mundo cristão. Na prática, porém, o movimento
compreende diversas religiões inclusive aquela não cristã.
O
ecumenismo procura estabelecer boas relações de amizade entre pessoas e igrejas
diferentes. Realiza trabalhos em conjunto para ajudar os necessitados e lutar
por justiça. Realiza celebrações e orações em conjunto para causa da unidade, e
realiza estudos sobre as doutrinas das várias igrejas, em busca de métodos
novos para tratar as divergências. O termo ecumenismo teve origem no grego
“”oikoumene” que significava “o mundo civilizado”. Na Bíblia a palavra
oikoumene é traduzida como “todo” e “universal”.
Origem do ecumenismo
No
período de formação da Igreja uma de suas principais características era a
união, a solidariedade e o amor fraternal, porém, ao longo dos séculos esse
ideal foi se desintegrando. A grande divisão teve início entre cristãos latinos
e gregos, que teve seu cume no século XI. Mais tarde, no século XVI houve a
separação entre católicos e protestantes, em seguida outras divisões foram
surgindo ao longo da história.
Na
Europa e nos Estados Unidos foram criadas várias sociedades que reuniam
presbiterianos, metodista, batistas e episcopais, que se reuniam em prol da
mesma causa. O precursor do ecumenismo foi o missionário Carey, que em 1810
sonhava com uma conferência missionária internacional, que não se realizou. O
movimento missionário que se conhece hoje surgiu a partir de 1910, em
Edimburgo, na Escócia. A principal expressão desse movimento é o Conselho
Mundial de Igrejas, criado na Holanda em 1948.
Ecumenismo no Brasil
No
Brasil o organismo mais importante do ecumenismo é o Conselho Nacional de
Igrejas Cristãs (CONIC), fundada em novembro de 1982, na cidade de Porto Alegre
(RS). Seus Membros hoje são a Igreja
Católica Apostólica Romana, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil,
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e a
Igreja Católica Ortodoxa Siriana do Brasil.
A origem do “Ecumenismo”
O
Movimento ecumênico foi oficializado em 1910, em Edimburgo (Escócia), por um
grupo de pessoas pertencentes a diferentes religiões. O termo “ecumenismo”
origina-se do grego “oikoumene”, que, antigamente, designava “o mundo habitado
ou civilizado”, em oposição ao “mundo bárbaro”. O termo grego “oikoumene”, em
algumas passagens bíblicas, traduz-se por “todo”. Por exemplo: “E aconteceu
naqueles dias que saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o
mundo se alistasse” (Lc. 2:1). O “todo” aqui é “oikoumene”. Portanto, ecumênico
é o “geral”, o “universal”. A idéia do ecumenismo é exatamente a de “reunir
“todo” o mundo cristão”. Na prática, porém, o movimento abarca todas as
religiões, inclusive a não-cristãs.
TIPOS DE ECUMENISMO
Ecumenismo espiritual (ou oração)
O
ecumenismo espiritual é composto de dois elementos: conversão do coração e
reforma deviana, juntamente com a oração pela unidade. "Esta conversão do
coração e da santidade da vida, juntamente com as orações privadas e públicas
pela unidade dos cristãos, deve ser considerada como a alma de todo o movimento
ecumênico e pode corretamente chamar espiritualismo espiritual.
Ecumenismo institucional
É
aquele promovido, promovido e realizado pelas igrejas, e dentro dessas
instituições há uma estagnação do Concílio Ecumênico das Igrejas, sem
equivalente na história do cristianismo. Não é uma Igreja, não é uma super
igreja, nem é a Igreja do futuro. Nem é um "conselho universal" no
sentido católico ou ortodoxo do termo, nem poderia ser igualado a um
"sínodo", de acordo com a terminologia de muitas igrejas reformadas.
Ecumenismo da caridade
O
amor é o arquiteto da comunhão entre as pessoas e entre as comunidades. Se nos
amamos, nossa comunhão é mais profunda e orientada para a perfeição. O amor é
dirigido a Deus uma fonte perfeita de comunhão para encontrar a força para
despertar essa mesma comunhão entre o povo e entre as Comunidades, ou para
restabelecê-lo entre os cristãos ainda divididos.
Ecumenismo teológico ou doutrinal
Isso
deve ser feito por especialistas. Já existem muitas "comissões
mistas" formadas por Teólogos católicos e algumas das igrejas. É
impossível enumerar os frutos que produziram esses trabalhos. Nesse tipo de
ecumenismo, uma palavra é fundamental:
"Diálogo".
A
atitude de diálogo situa-se ao nível da natureza da pessoa e da sua dignidade,
sendo que a separação das igrejas se deu, principalmente, por motivos
teológicos e endopolíticos, ainda presentes entre as diferentes igrejas. Para
tentar salvar essas diferenças, inúmeros colóquios, encontros e diálogos foram
levantados em diferentes níveis, que buscam verdadeiros passos rumo à unidade
dos cristãos em plenitude. É inegável que existem outras dimensões ecumênicas
que não são estritamente doutrinárias e que, não resolvidas, uma possível
unidade cristã é dificilmente credível.
Ecumenismo social (ou prático)
As
relações entre os cristãos antecipam e exigem a partir de agora qualquer colaboração
prática possível nas diferentes esferas: pastoral, cultural, social e até mesmo
no testemunho da mensagem do Evangelho. A oração ecumênica é uma verdadeira
"escola do ecumenismo", é um caminho dinâmico para a unidade. A
unidade da ação leva à plena unidade da fé. Aos olhos do mundo, a cooperação
entre os cristãos assume as dimensões do testemunho cristão comum e se torna um
instrumento de evangelização para o benefício de um e do outro.
ECUMENISMO NO CATECISMO DA IGREJA
Batismo fundamento do ecumenismo
Os
que hoje em dia nascem em comunidades que surgiram de tais rupturas "e
estão imbuídos da fé em Cristo não podem ser argüidos de pecado de separação, e
a Igreja católica os abraça com fraterna reverência e amor... Justificados pela
fé recebida no Batismo; estão incorporados em Cristo, e por isso com razão são
honrados com o nome de cristãos e merecidamente reconhecidos pelos filhos da
Igreja católica como irmãos no Senhor".
O
Batismo constitui o fundamento da comunhão entre todos os cristãos, também com
os que ainda não estão em comunhão plena com a Igreja católica: "Com
efeito, aqueles que crêem em Cristo e foram validamente batizados acham-se em
certa comunhão, embora não perfeita, com a Igreja católica. (...) Justificados
pela fé no Batismo, são incorporados a Cristo e, por isso, com razão, são
honrados com o nome de cristãos e merecidamente reconhecidos pelos filhos da
Igreja católica como irmãos no Senhor". "O Batismo, pois, constitui o
vínculo sacramental da unidade que liga todos os que foram regenerados por
ele."
Causas da falta de ecumenismo
Na
realidade, "nesta una e única Igreja de Deus, já desde os primórdios,
surgiram algumas cisões, que o Apóstolo censura com vigor como condenáveis.
Dissensões mais amplas nasceram nos séculos posteriores. Comunidades não
pequenas separaram-se da plena comunhão com a Igreja católica, por vezes não
sem culpa de homens de ambas as partes". As rupturas que ferem a unidade
do Corpo de Cristo (distinguem-se a heresia, a apostasia e o cisma) não
acontecem sem os pecados dos homens:
"Ubi
peccata sunt, ibi multitudo, ibi schismata, ibi haereses, ibi discussiones. Ubi
autem virtus, ibi singularitas, ibi unio, ex quo omnium credentium erat cor
unum et anima una. - Onde estão os pecados, aí está a multiplicidade (das
crenças), aí o cisma, aí as heresias, aí as controvérsias. Onde, porém, está a
virtude, aí está a unidade, aí a comunhão, em força disso, os crentes eram um
só coração e uma só alma.
Consequências da falta de
ecumenismo
A
missão da Igreja exige o esforço rumo à unidade dos cristãos. Efetivamente,
"as divisões entre cristãos impedem a Igreja de realizar a plenitude da
catolicidade que lhe é própria naqueles filhos que, embora lhe pertençam pelo
batismo, estão separados da plena comunhão com ela. Não só isso, mas também
para a própria Igreja se torna tanto mais difícil exprimir, na realidade de sua
plena catolicidade sob todos os aspectos"
Efeitos do diálogo ecumênico
Em
muitas regiões, graças ao diálogo ecumênico, as comunidades cristãs envolvidas
conseguiram criar uma pastoral comum para os casamentos mistos. Sua tarefa é
ajudar esses casais a viver sua situação particular à luz da fé. Deve também
ajudá-los a superar as tensões entre as obrigações que um tem para com o outro
e suas obrigações para com suas comunidades eclesiais, além de incentivar o
desabrochar daquilo que lhes é comum na fé e o respeito por tudo que os separa.
Razões para se buscar a unidade
ecumênica
"A
única Igreja de Cristo (...) é aquela que nosso Salvador depois de sua
Ressurreição, entregou a Pedro para que fosse seu pastor e confiou a ele e aos
demais Apóstolos para propagá-la e regê-la... Esta Igreja, constituída e
organizada neste mundo como uma sociedade, subsiste na ( "subsistit
in") Igreja Católica governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em
comunhão com ele":
O
Decreto sobre o Ecumenismo, do Concílio Vaticano II, explicita: "Pois
somente por meio da Igreja católica de Cristo, 'a qual é meio geral de
salvação', pode ser atingida toda a plenitude dos meios de salvação. Cremos que
o Senhor confiou todos os bens da Nova Aliança somente ao Colégio Apostólico,
do qual Pedro é o chefe, a fim de constituir na terra um só Corpo de Cristo, ao
qual é necessário que se incorporem plenamente todos os que, de que alguma
forma, já pertencem ao Povo de Deus".
Além
disso, "muitos elementos de santificação e de verdade existem fora dos
limites visíveis da Igreja católica": "A palavra escrita de Deus, a
vida da graça, a fé, a esperança, a caridade, outros dons interiores do
Espírito Santo e outros elementos visíveis" O espírito de Cristo serve-se
dessas igrejas e comunidades eclesiais como meios de salvação cuja força vem da
plenitude de graça e de verdade que Cristo confiou à Igreja católica. Todos
esses bens provêm de Cristo e levam a Ele e chamam, por eles mesmos, para a
"unidade católica".
RUMO À UNIDADE
A
unidade, "Cristo a concedeu, desde o início, à sua Igreja, e nós cremos
que ela subsiste sem possibilidade de ser perdida na Igreja católica e
esperamos que cresça, dia após dia, até a consumação dos séculos". Cristo
dá sempre à sua Igreja o dom da unidade, mas a Igreja deve sempre orar e
trabalhar para manter, reforçar e aperfeiçoar a unidade que Cristo quer para
ela. Por isso Jesus mesmo orou na hora de sua Paixão, e não cessa de orar ao
Pai pela unidade de seus discípulos: "... Que todos sejam um. Como tu,
Pai, estás em mim e eu em ti, que eles esteja me nós, a fim de que o mundo
creia que tu me enviaste" (Jo 17,21). O desejo de reencontrar a unidade de
todos os cristãos é um dom de Cristo e convite do Espírito Santo
Para
responder adequadamente a este apelo, exigem-se:
·
Uma renovação
permanente da Igreja em uma fidelidade maior à sua vocação. Esta renovação é a
mola do movimento rumo à unidade.
·
a conversão do
coração, "com vistas a viver mais puramente segundo o Evangelho",
pois e a infidelidade dos membros ao dom de Cristo que causa as divisões;
·
a oração em
comum, pois "a conversão do coração e a santidade de vida, juntamente com
as preces particulares e públicas pela unidade dos cristãos, devem ser
consideradas a alma de todo o movimento ecumênico e, com razão, podem ser
chamadas de ecumenismo espiritual";
·
conhecimento
fraterno recíproco,
·
a formação
ecumênica dos fiéis e especialmente dos presbíteros;
·
diálogo entre os
teólogos e os encontros entre os cristãos diferentes Igrejas e comunidades;
·
a colaboração entre cristãos nos diversos
campos do serviço aos homens.
A
preocupação de realizar a união "diz respeito à Igreja inteira, fiéis e
pastores". Mas é preciso também "ter consciência de que este projeto
sagrado, a reconciliação de todos os cristãos na unidade de uma só e única
Igreja de Cristo, ultrapassa as forças e as capacidades humanas". Por isso
depositamos toda a nossa esperança "na oração de Cristo pela Igreja, no
amor do Pai por nós e no poder do Espírito Santo"
CONSELHO NACIONAL DE IGREJAS
CRISTÃS NO BRASIL
O
CONIC nasceu no ano de 1982, em Porto Alegre (RS). Sua criação é fruto de um
longo processo de articulação entre as igrejas Católica Apostólica Romana,
Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Episcopal Anglicana do Brasil e
Metodista. As primeiras conversas para a criação do Conselho ocorreram em 1975.
Foram realizadas 13 reuniões entre as presidências nacionais das igrejas acima
citadas para, em 1982, definir-se pela criação.
A mensagem final da Assembleia que deu origem
ao Conselho apresentou a MISSÃO de “colocar-se a serviço da unidade das
igrejas, empenhando-se em acompanhar a realidade brasileira, confrontado-a com
o Evangelho e as exigências do Reino de Deus”. É compromisso do CONIC,
portanto, desde aquele tempo, atuar em favor da dignidade e dos direitos e
deveres das pessoas, até como forma de fidelidade à mensagem evangélica.
Hoje, com sede em Brasília (DF), o CONIC
mantém entre os seus objetivos a promoção das relações ecumênicas entre as
igrejas e o fortalecimento do testemunho conjunto das igrejas-membro na defesa
dos Direitos Humanos. Para alcançar tal meta, as igrejas que compõem o CONIC
(veja quais) vivenciam uma parceria de diálogo, de valorização da vida humana,
de amizade fraterna e de convivência enquanto entidades que buscam um caminho
comum.
·
Missão:
Fortalecer
o testemunho ecumênico das Igrejas-membro, fomentar o diálogo inter-religioso e
promover a interlocução com organizações da sociedade civil e governo para a
incidência pública em favor de políticas que promovam a justiça e a paz.
·
Visão:
Ser
um organismo com um maior número de Igrejas-membro, comprometidas com o
ecumenismo, fortalecido em sua dinâmica regional, reconhecido pelas Igrejas,
organismos ecumênicos, movimentos sociais, agências parceiras e governo
brasileiro como interlocutor que contribui para a promoção da justiça e da paz.
·
Valores:
Ecumenismo,
diálogo inter-religioso, promoção e defesa dos direitos humanos e promoção de
uma cultura de paz.
IGREJAS MEMBRO
·
Aliança de
Batistas do Brasil - ABB
·
Igreja Católica
Apostólica Romana - ICAR
·
Igreja Episcopal
Anglicana do Brasil - IEAB
·
Igreja
Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - IECLB
·
Igreja
Presbiteriana Unida - IPU
·
Igreja Sirian
Ortodoxa de Antioquia – ISOA
Pai Nosso - Versão ecumênica
Pai nosso que estás nos céus.
Santificado seja o teu nome,
venha o Teu reino.
Seja feita a tua vontade,
assim na terra como no céu.
O pão nosso de cada dia nos dá hoje,
perdoa-nos as nossas ofensas
assim como nós perdoamos a quem tem nos ofendido.
E não nos deixes cair em tentação,
mas livra-nos do mal,
pois teu é o reino,
o poder e a glória para sempre.
Amém.
DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
Com
relativa frequência, os seres humanos têm grandes deficiências na questão do
diálogo, no entanto, a interação do conhecimento é essencial para tomar
decisões e ampliar informações sobre um campo específico. Inclusive no campo da
religião.
Ter
uma mente aberta
O
diálogo inter-religioso é um claro exemplo. A que se refere este tipo de
conversa? Estar disponível à escuta ativa e à colaboração entre pessoas que têm
o mesmo credo religioso.
Este
intercâmbio pode ser dado de forma privada no contexto íntimo de uma amizade
entre duas pessoas com crenças diferentes, mas também pode ser realizada de
forma pública entre duas instituições públicas. Este tipo de encontro é muito
positivo porque significa ir além dos seus próprios preconceitos e crenças para
atender o respeito, os costumes religiosos e as crenças de uma cultura
diferente.
Por
que é tão importante o diálogo inter-religioso? Porque em alguns casos, pode
ajudar os protagonistas desta conversa a perceber que é algo a mais daquilo que
nos une do que nos separa. Por exemplo, a ideia de um Deus único está presente
nas religiões monoteístas. Da mesma forma, a prática do bem está presente nas
mais variadas crenças.
Em
certas ocasiões, uma religião olha para outra com certo receio, uma que a busca
pela verdade é vivenciada de forma absoluta a partir do interior de uma
religião. No entanto, o diálogo inter-religioso permite criar um contexto de
debate comum, onde o respeito ao próximo é um valor fundamental.
Diálogo inter-religioso: O desafio
do nosso tempo
O
diálogo inter-religioso é o grande desafio que se apresenta hoje à Igreja, de
um modo particular neste mundo da globalização que se está a afirmar perante os
olhos estupefactos tanto dos que a aprovam como dos que dela discordam. Alguém
já vai dizendo que não estamos simplesmente perante uma época de mudanças, mas
sim de uma mudança de época.
Confrontados
com o choque de civilizações, que ameaça levantar-se no horizonte dos começos
do século XXI, os olhares viram-se para as religiões que delas fazem parte como
componentes substanciais. As religiões são, por isso, chamadas a contas. “Não
haverá paz entre as nações sem a paz entre as religiões. Não haverá paz entre
as religiões sem o diálogo entre as religiões. Não haverá diálogo entre as religiões
se não se investigam os fundamentos das religiões” – assim nos apresenta o tema
Hans Küng na primeira página do seu último livro O Islão – História, Presente,
Futuro.
O
diálogo inter-religioso é um tema que se foi impondo gradualmente a partir dos
debates verificados na aula conciliar, desde 1962 a 1965. O Papa Paulo VI
começou a sua primeira encíclica Ecclesiam Suam de 1964 dizendo que “a Igreja
faz-se palavra, mensagem, colóquio… A origem transcendente do diálogo está na
mesma intenção de Deus. A Revelação, quer dizer, a relação sobrenatural
instaurada com a humanidade, pode ser representada num diálogo com que o Verbo
de Deus se expressa na Encarnação e, portanto no Evangelho”. A esta
justificação teológica do diálogo oferecida por Paulo VI, e na mesma direcção,
seguiram-se os documentos conciliares Lumen Gentium, Ad Gentes, Gaudium et Spes
e sobretudo Dignitatis Humanae e Nostra Aetate.
Podemos
considerar que a porta de abertura para a reflexão sobre o diálogo
inter-religioso, que viria a desenvolver-se posteriormente, está nestas
palavras do concílio que diz, no número 22 da Gaudium et Spes: “E o que fica
dito vale não só para os cristãos, mas para todos os homens de boa vontade, em
cujos corações a graça opera ocultamente… Com efeito, já que por todos morreu
Cristo e a vocação última de todos os homens é realmente uma só, a saber, a
divina, devemos manter que o Espírito Santo a todos dá a possibilidade de se
associarem a este mistério pascal, por um modo só de Deus conhecido.” Os
teólogos não têm tido tarefa fácil ao tentar oferecer pistas para uma
compreensão desta afirmação conciliar e do papel das outras religiões em
relação com a salvação operada por Cristo. Trata-se de uma salvação pessoal em
cuja ação toma parte também a comunidade social e religiosa a que a pessoa está
ligada.
A
declaração Dignitatis Humanae veio consagrar a liberdade religiosa e afirmar a
dignidade da consciência que deve ser respeitada. A declaração Nostra Aetate,
por seu lado, afirmou a estima e o reconhecimento que a Igreja Católica tem
pelos valores presentes nas outras religiões, expressamente no Hinduísmo,
Budismo, Islamismo, Judaísmo. Estas “reflectem não raramente um raio da verdade
que ilumina todos os homens». A declaração conciliar não ignora a herança
histórica das contendas com o Islão: “Surgiram entre cristãos e muçulmanos não
poucas discórdias e ódios, e este sagrado Concílio exorta todos a que,
esquecendo o passado, sinceramente se exercitem na compreensão mútua e juntos
defendam e promovam a justiça social, os bens morais e a paz e liberdade para
todos os homens.”
Conhecimento recíproco
O
diálogo inter-religioso não era só teoria a expor mas compromisso a assumir.
Por isso, de imediato, se pensou em criar, em 1964, um organismo operativo: o
Secretariado para os Não Cristãos, a que viria a suceder mais tarde o
Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso. Presentemente, o cardeal
Poupard preside a este Conselho, juntamente com o Conselho para a Cultura. Há
lógica na união dos dois conselhos, por via das relações entre ambos e entre
religiões e culturas. Corremos o risco de confundir as coisas, quando não se
sabe distinguir o que é problema cultural e problema religioso, e o que é do
âmbito profano e do âmbito especificamente religioso.
O
Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso elaborou dois documentos que
marcaram o caminho do diálogo: Diálogo e Missão, de 1984, e Diálogo e Anúncio,
de 1991. Sobretudo este último tratou de aspectos muito específicos. No número
9 definiu o diálogo como «conjunto das relações inter-religiosas, positivas e
construtivas, com pessoas e comunidades de outros credos para um conhecimento
mútuo e um enriquecimento recíproco». Sublinhou, no número 14, que o diálogo
requer «justa e correta avaliação teológica das outras tradições religiosas».
Chamou a atenção, no número 17, para a “presença de valores positivos não só na
vida religiosa de cada crente das outras tradições religiosas, mas também nas
mesmas tradições religiosas a que eles pertencem... presença ativa de Deus pelo
Verbo e a ação universal do Espírito”. Elogiou, no número 27, as experiências
genuínas das religiões, como a oração, dizendo que «toda a oração autêntica é
suscitada pelo Espírito Santo, o qual está misteriosamente presente no coração de
cada homem, quer seja cristão quer não”. Valorizou, no número 29, a ascese e as
práticas religiosas, afirmando que “é através da prática daquilo que é bom nas
suas próprias tradições religiosas, e segundo os ditames da sua consciência,
que os membros das outras religiões respondem afirmativamente ao convite de
Deus e recebem a salvação em Jesus Cristo mesmo se não o reconhecem como o seu
Salvador”. Sugeriu também, nos número 32 e 36, a oportunidade de uma certa
autocrítica, a fazer pelos cristãos, ao sublinhar que «os próprios cristãos
devem aceitar ser postos em discussão... o modo como compreendem a própria
salvação e a vivem pode ter necessidade de purificação”; e ao admitir que “a
Igreja mesma «enquanto instituição humana e terrena,” e não só os seus
membros, tem sempre necessidade de renovação e reforma”. E concluiu, no número
41, que “o diálogo sincero supõe aceitar reciprocamente a existência das
diferenças, ou também das contradições e respeitar a livre decisão que as
pessoas tomam em conformidade com a própria consciência”.
Formas de diálogo
O
mesmo documento passa, depois, a descrever as diversas formas de diálogo.
Podemos descrevê-las e enumerá-las da seguinte forma. Antes de mais temos o “diálogo
de vida”. A vida moderna põe as várias religiões em contato constante. Por
exemplo, hoje com o fenómeno das migrações, facilmente todos fazemos a
experiência de ter de tratar, trabalhar e conviver com pessoas de outras
culturas e confissões religiosas. Depois, temos o «diálogo de obras»: por esta
expressão entendemos o diálogo que se estabelece quando pessoas de diferentes
tradições religiosas se unem para realizar iniciativas sociais e humanitárias
em colaboração. Seguidamente, falamos de “diálogo dos intercâmbios teológicos”,
a forma de diálogo que se revela muito preciosa para superar incompreensões e
preconceitos. Por último, e nesta linha de pensamento e ação, falamos também de
“diálogo das experiências religiosas”, a forma de diálogo mais enriquecedora
mas que exige também o acompanhamento mais cuidadoso.
No
número 48, o documento recorda o que o diálogo exige aos cristãos: «os cristãos
não se devem esquecer que Deus também se manifestou de qualquer modo aos
seguidores das outras tradições religiosas» e que “a plenitude da verdade
recebida em Jesus Cristo não dá aos cristãos individualmente a graça de terem
assimilado de modo pleno essa verdade... devem estar dispostos a aprender e a
receber dos outros... os valores positivos das suas tradições... vencer os
preconceitos inveterados, rever as ideias preconcebidas e aceitar que a sua fé
seja purificada”.
Visão positiva
Os
documentos sobre o diálogo e a reflexão que se lhes seguiram apresentam o
diálogo como um fator positivo, de aprofundamento da própria fé, e não como
elemento negativo que a leva a enfraquecer. O Diálogo e Anúncio, no número 50,
diz mesmo que “o diálogo, longe de lhes enfraquecer a fé, torná-la-á mais
profunda... compreenderão mais claramente os elementos distintivos da mensagem
cristã e a presença operante do mistério de Jesus Cristo para além dos confins
visíveis da Igreja e do rebanho cristão”.
É
caso para recordar o refrão: “Quem conhece uma religião só, não conhece nenhuma
religião.” Nesse sentido são de louvar os esforços que se estão a fazer para
preparar manuais de educação religiosa que ajudam os professores e catequistas
a passar aos jovens alunos e educandos uma informação e formação mais ecuménica
e aberta ao pluralismo religioso e intercultural.
Podemos
ver o diálogo inter-religioso como fazendo parte da história da salvação. O
Génesis diz-nos que tudo teve início pela Palavra, o logos, de Deus. Deus diz e
a sua palavra faz ser. A Palavra de Deus é o mediador imediato entre Deus e as
criaturas. Através da palavra cria-se um movimento dialógico entre Criador e
criatura, na salvaguarda da diferença ontológica. Com a vinda de Cristo «a
palavra faz-se carne» e Ele é o fulcro do movimento unificador e relacional
entre Deus e a sua criação. Cristo é a Palavra que se faz alguém vivente; com
Ele o transcendente faz-se presente no imanente, numa relação
criadora/reveladora entre Deus e o ser criado por excelência – o homem.
Único Logos
No
diálogo inter-religioso, uma das questões mais problemáticas é a que se refere
ao lugar de Jesus Cristo na criação, na revelação e no caminho de salvação das
pessoas e dos povos. Para o cristianismo, ele é «único» e ocupa um lugar
central tanto em relação à teologia da revelação como da salvação. Cristo e a
sua função mediadora única são um impedimento ao diálogo? O desafio para os
cristãos é transformarem esta dificuldade em oportunidade e pensarem o diálogo
desde Cristo.
Em
Cristo a Palavra da criação e a da revelação são um único logos que se abre à
diversidade e se relaciona com ela num diálogos contínuo. Mediante a palavra de
Deus em sentido “transcendente” tudo é criado, mediante a palavra de Deus em
«sentido humano”, em Jesus, recria-se a relação originária do homem com Deus.
Se
Cristo é o logos através do qual Deus cria todas as coisas e se Cristo, mesmo
que Filho é um todo com Deus Pai, não é então possível separar a palavra do
sujeito falante, o Deus que cria e o Deus que se revela, através do seu
fazer-se homem, falando palavras de homem. Bem o põe em relevo o início do
Evangelho de S. João: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava voltado para
Deus e o Verbo era Deus... E o Verbo se fez homem e habitou ente nós.” Cristo
torna-se palavra de Deus para os homens e palavra de Deus entre os homens.
N’Ele a palavra de Deus e as palavras dos homens ressoam juntas.
Cristo como paradigma
Ele
é o diálogo por excelência, é o espaço, o centro e a fonte do movimento
relacional entre as diversas linguagens dos homens e de Deus. Por isso quem
dialoga põe a sua relação pessoal com os outros no interior da relação que Deus
quer fomentar com os homens.
Para
os cristãos, Jesus Cristo torna-se o paradigma de referência para toda a
relação autenticamente dialógica. O logos divino, num processo de gratuita auto
comunicação que só se justifica à luz da liberdade e do amor, sai da morada
inacessível da própria transcendência e imerge na contingência do finito,
apresentando-se ao mundo como «médium» de relação, inaugurando assim uma nova
modalidade de comunicação de Deus com o homem e dos homens entre si. Cristo é dialogo
enquanto Deus que se faz homem e homem que é Deus, mediador único entre criação
e revelação, símbolo fundador, unificação de dois opostos, homem e Deus.
A
relação dialógica deve ser assim entendida como relação de diferentes logo,
conceitos, sensações, ações expressas em palavras a dizer ao outro e a escutar
do outro. Cristo é o símbolo absoluto, o diálogo originário, a pedra de
alicerce do sentido de todo diálogo inter-humano. Ele mesmo diz: “onde dois ou
três se encontram reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles” (Mt 18, 20).
Por
isso, e em conclusão, à luz destes conceitos talvez melhor seria falarmos de
triálogo e recordarmos que para se conseguir um diálogo inter-religioso mais
eficaz precisamos de colocar Cristo entre nós e os nossos interlocutores,
ouvirmos as suas sugestões e estarmos disponíveis à sua inspiração.
A doutrina da Igreja sobre o
diálogo inter-religioso
Em
nossos dias é comum ouvir falar de diálogo inter-religioso, como se fosse um
imperativo do Evangelho a Igreja abrir-se ao mundo para entrar em contato com
todas as religiões e correntes ideológicas, sempre com o propósito de servir a
humanidade e tornar a vida aqui na terra menos dura.
Dizem
os adeptos do diálogo inter-religioso que entre os sérios problemas da
atualidade que a Igreja poderia ajudar a resolver irmanada com as várias
"religiões e filosofias da humanidade" estão o problema da paz, da
"discriminação", da "intolerância" e da "exclusão das
minorias".
Como
se vê, é uma visão completamente humanista, antropocêntrica, utópica, que sonha
com um paraíso na terra, que não vê a religião como uma virtude moral que tem
por objeto o culto devido a Deus. É uma visão que, por princípio, desvirtua a
religião, desligando-a do problema da salvação da alma.
Santo
Tomás de Aquino na Suma Teológica, na primeira questão do tratado da virtude da
religião, pergunta se a religião ordena o homem exclusivamente a Deus e é
categórico, taxativo, na resposta afirmativa. E respondendo à objeção baseada
na epístola de São Tiago (a religião pura e imaculada aos olhos de Deus Pai é
visitar os órfãos e as viúvas em suas tribulações e conservar-se incorrupto
neste século), diz que a religião tem
duas espécies de atos: uns são atos próprios e imediatos pelos quais o homem se
ordena só a Deus, tais como sacrifícios, adoração etc; outros atos da religião
são praticados mediante outras virtudes sobre os quais a virtude da religião
impera ordenando-os ao serviço divino. (Cf. Suma Teológica, IIª IIªe. q.81, a.
1)
Para
São Tomás, portanto, a verdadeira virtude da religião é incompatível com uma visão
humanista em que o homem esteja no centro de tudo. Para ele, é inadmissível uma
frase muito em voga "o homem é a estrada da Igreja", como se a Igreja
devesse ouvir sempre as aspirações e caprichos do homem que quer ser a sua
própria lei ou transformar a religião numa espécie de terapia em que o culto
divino se converteria em sessão de cura dos males da mente e do corpo, em que o
pecado seria reduzido a mera doença que aflige apenas o homem mas não ofende a
Deus. Enfim, uma religião que consola o homem mas se esquece de Deus. Para
Santo Tomás, mediante a virtude da religião, todas as atividades humanas, por
mais seculares que sejam, de alguma forma se ordenam à glória de Deus e à
salvação das almas. É inconcebível uma ação filantrópica que faça abstração do
fim último. É inconcebível que a Igreja trabalhe para o bem do mundo, como a
ONU, relegando a segundo plano sua missão própria.
Aliás,
na exposição da virtude da religião, São Tomás simplesmente desenvolve com
argumentos filosóficos e teológicos aquilo que o simples bom senso diz e já
tinha sido explanado pelos clássicos e pelos padres da Igreja. Por exemplo,
Santo Agostinho diz: o homem bom usa das coisas da terra para gozar de Deus, o
iníquo serve-se de Deus para gozar dos bens da terra.
Por
isso, o propalado diálogo inter-religioso só pode ser legítimo e justificado se
se subordinar à missão específica da Igreja, i. e., a salvação da alma. A
Igreja tem de ser corajosa aos olhos de todo o mundo ao afirmar-se solenemente
como único e exclusivo meio de salvação disposto por Deus para todos o homens.
Tem de ser corajosa e formular um juízo negativo sobre todas as religiões
falsas, que, como tais, são antes um obstáculo para a salvação do que um meio
para chegar à verdade, não obstante a boa fé e a ignorância invencível de
muitos dos seus sequazes. A verdade é intolerante. O bem é exclusivista. Bonum
ex integra causa, malum ex quocumque defectu, diz Santo Tomás. Não basta dizer
que, apesar de deficientes, as grandes religiões da humanidade contêm elementos
de verdade, defendem valores da ordem moral natural ou que há pontos de união
entre a Igreja e as religiões falsas. O mal não pede a exclusão do bem, pede um
lugar ao seu lado, dizia o pe. Dulac. Hoje, o mundo relativista e maçônico da
ONU pede à Igreja que aceite a seu lado todas as religiões para construir um
novo mundo, um mundo em que o homem ocupe o lugar de Deus ou invente um deus a
serviço do Homem.
Por
essa razão, com clarividência, o grande papa Gregório XVI, na encíclica Mirari
vos (1832), diz: "Nosso Senhor Jesus Cristo enviou seus apóstolos para
pregar e ensinar a todas as nações, ou seja, derrubar todas as religiões
existentes, a fim de então estabelecer em toda a terra a única religião cristã
e assim substituir todas as crenças dos diferentes povos pela unidade do dogma
católico expresso na pregação Dele próprio. E prevendo, na sua presciência, os
movimentos e divisões que sua doutrina iria incitar, Ele não se deteve e não
permitiu concessões, mas declarou que tinha vindo ao mundo para trazer não a
paz, mas a espada, a fim de separar o bem do mal e a verdade da mentira."
A conclusão só pode ser uma: um suposto diálogo
inter-religioso honesto, sério, franco, útil não pode esconder a verdade
fundamental: a Igreja trabalha para a conversão de todos os homens à única
religião verdadeira, que é ela mesma, pois que fundada pelo Verbo Encarnado.
Outro diálogo inter-religioso só pode ser um sofisma ou artifício da maçonaria
para implantar a religião do Homem-deu
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