IV Bimestre: 3° Ano Ens. Médio - FILOSOFIA, SOCIEDADE E RELIGIÃO
FILOSOFIA, SOCIEDADE E RELIGIÃO
1.
Religião e Sociedade
A Religião é um dos assuntos que mais rende polêmica
no mundo atualmente. Isso porque existem várias delas pelos quatro cantos do
planeta (contabilizado um total de 3 mil religiões existentes no mundo, fato
este que pode contribuir para as polêmicas) e muitos são os conflitos motivados
por entraves entre as doutrinas. A influência de tais seitas na vida da
sociedade é outro assunto para lá de polemizado. Isso se deve aos constantes
atos de violência envolvendo o fanatismo religioso, fato este que leva a morte
de várias pessoas inocentes.
Neste
artigo, vamos debater um pouco mais sobre a influência religiosa que existe
entre o meio social nos tempos mais arcaicos até os mais contemporâneos. Além
disso, iremos ver também sobre as religiões com maior número de adeptos no
mundo.
2.
A Religião desde os Primórdios da Sociedade
Desde
a invenção da escrita, há mais de três mil anos antes do nascimento de Cristo,
muito se falava em seres de ordem superiores e divindades, que julgavam
controlar todas as ações terrestres, começando pela luz do sol a até mesmo a
movimentação dos rios em seus leitos, por exemplo. Prova disso é a atribuição a
esses fenômenos a responsabilidade de um determinado deus. É por conta disso
que, em alguns povos, cultuava-se o deus Sol, a deusa Água, o deus Ar, entre
outros.
Não
podemos afirmar, com clareza, a existência de religiões de períodos que
antecedem a invenção da escrita, por causa da não detecção de elementos que
possam comprovar que a sociedade daquela época praticava ritos ou tinham
crenças. Entretanto, isso pode ser comprovado mais adiante, com a evolução das
pesquisas tanto arqueológicas quanto de ordem histórica.
Com
a evolução humana, foi possível a inscrição de forma legível, sobre os costumes
e tradições de um determinado povo. Podemos comprovar isso através dos desenhos
feitos nas pedras de cavernas ou rochedos, as quais recebem o nome de pintura
rupestre. Nesses desenhos, são retratados fatos e acontecimentos do cotidiano
daquelas pessoas, onde podem estar retratados, por exemplo, a caça, a pesca,
plantações, danças, enfim, costumes próprios daquela época.
Mas,
foi somente com a escrita que os rituais religiosos começaram a aparecer. Foram muitas as inscrições encontradas
relatando rituais, crenças e também mitos envolvendo algum deus ou divindade
superior. Desde os anos que antecederam
o nascimento de Cristo até os dias de hoje, muitas seitas e doutrinas surgiram,
cada qual com suas regras e deveres.
Podemos destacar uma religião que exerceu enorme
influência na vida da sociedade, desde os primeiros séculos depois de Cristo,
passando pela Idade Média e chegando a alguns anos antes do século XX: a Igreja
Católica.
Uma
vertente do Cristianismo, o catolicismo, de início, era perseguido por outras
religiões, tratando todos aqueles que se submetiam a seguir tal religião de uma
maneira nada humana. Somente depois, com o início do declínio do império
romano, é que a ICAR (sigla de Igreja Católica Apostólica Romana) começou a
crescer e a se tornar uma importante instituição no meio social.
Depois
do poderio adquirido pela Igreja, a mesma passou a influenciar, e muito, na
vida da sociedade, juntamente com a nobreza e as autoridades da época. Tamanha
era a sua influência, que todas as decisões, mesmo elas sendo do Estado,
deveriam ser analisadas pela Igreja e terem o seu aval. Naquela época, o
pagamento de indulgências era comum, bem como a compra de “pedaços” no paraíso,
para onde os cristãos têm crença de ir depois que morrerem.
E,
assim, perdurou por muitos séculos, até que o protestantismo entrou em cena, em
meados da Idade Média. Martinho Lutero, um sacerdote, não concordando com
algumas regras da Igreja resolveu se afastar e criar a Igreja Protestante, que
é remetida hoje às Igrejas Evangélicas. A partir daí, iniciou-se o declínio da
Igreja Católica, mas que não a impediu de ainda ser uma instituição de renome e
influência. Atualmente, cerca de 30% da população mundial (para ser mais exato:
2,2 bilhões de pessoas) são adeptas do catolicismo, e as decisões que acontecem
no Vaticano, sede oficial da Igreja que fica em Roma, na Itália, são notícia em
toda a imprensa, nacional e, obviamente, internacional.
3.
A Religião e a Sociedade
Como
podemos perceber nos parágrafos anteriores, a religião tem uma grande
influência não só na vida das pessoas, mas também nas decisões políticas e –
não muito – nas relações econômicas.
Nos tempos atuais, também podemos ver vários conflitos
entre países envolvendo seitas e doutrinas. Por exemplo, os ataques terroristas
que comumente acontecem no Oriente Médio e em países da África, na maioria das
vezes, têm origem em desavenças religiosas.
Por
conta disso, várias campanhas já foram lançadas por várias entidades
religiosas, com o propósito de dar fim ao fanatismo religioso, dando espaço a
todos as religiões e aos fiéis de cada uma delas.
Como
já dito anteriormente, o Cristianismo experimentou um declínio depois da Idade
Média, com as revoluções e a fundação da Igreja Protestante por Martinho
Lutero. O que é mais conflitante é que a sede da Igreja Católica está
localizada justamente no continente – Vaticano, Roma, na Itália – ou seja, um
dos berços da religião católica. Todavia, em países da América e da África, o
crescimento do Catolicismo, bem como das outras vertentes cristãs, continua a
todo vapor.
Especialistas
sugerem que esses locais serão os novos pólos das religiões cristãs. No Brasil,
por exemplo, está localizado o maior templo mariano de todo o mundo: o
Santuário Nacional de Aparecida, ou Basílica de Aparecida, que está localizada
na cidade de Aparecida do Norte, no estado de São Paulo.
As
Maiores religiões presentes no mundo são o Cristianismo e o Islamismo. O
Cristianismo, como se sabe, foi uma religião fundada por Jesus Cristo, e tem a
Bíblia como sua orientadora, já que nela contém toda a palavra e todos os
mandamentos de Jesus Cristo. Já no Islamismo, o Alcorão é o livro sagrado de
tal religião. Além disso, Maomé é considerado por eles como o último profeta
divino, diferentemente do Cristianismo.
4.
Filosofia da Religião
A
Filosofia da Religião é um ramo filosófico que investiga a esfera espiritual
inerente ao homem, do ponto de vista da metafísica, da antropologia e da ética.
Ela levanta questionamentos fundamentais, tais como: o que é a religião? Deus
existe? Há vida depois da morte? Como se explica o mal? Estas e outras
perguntas, idéias e postulados religiosos são estudados por esta disciplina.
Há
uma infinidade de religiões, compostas de distintas modalidades de adoração,
mitologias e experiências espirituais, mas geralmente os estudiosos se
concentram na pesquisa das principais vertentes espirituais, como o Judaísmo, o
Cristianismo e o Islamismo, pois elas oferecem um sistema lógico e elaborado
sobre o comportamento do planeta e de todo o Universo, enquanto as orientais
normalmente se centram em uma determinada filosofia de vida. Os filósofos têm
como objetivo descobrir se o olhar espiritual sobre o Cosmos é realmente
verdadeiro.
Em suas pesquisas o filósofo da religião adota como
instrumentos teóricos a metodologia histórico-crítica comparativa, que
contrapõe as mais diversas religiões, espacial e temporalmente, para perceber
suas semelhanças e o que as distingue, logrando assim visualizar o núcleo
central dos eventos religiosos; a filológica, que realiza a investigação dos
vários idiomas, comparando-os e buscando expressões usadas para se referir ao
sagrado, estabelecendo assim o que elas têm em comum; e a antropológica, que
resgata o passado espiritual dos povos ancestrais e dos contemporâneos, seus
institutos, suas convicções, seus ritos e seus valores. Cabe à Filosofia da
Religião realizar uma correta associação destes distintos métodos, para assim
perceber claramente o que é essencial nas religiões.
Em
todas as religiões vigentes no Ocidente há algo em comum, a fé em Deus. A
Divindade é vista como um Ser sem corpo e eterno, criador de tudo que há,
extremamente generoso e perfeito, todo-poderoso, ou seja, onipotente,
conhecedor de tudo, portanto onisciente, presente em toda parte, melhor
dizendo, onipresente. Esta é a imagem teísta de Deus, aquela que proclama sua
existência. São Tomás de Aquino defende pelo menos cinco argumentos a favor da
presença de Deus no Universo, entre eles o ontológico, o cosmológico e o do
desígnio. Estas idéias foram renovadas pelos pensadores modernos Alvin
Plantinga e Richard Swinburne, que tornaram estes conceitos mais complexos. A
compreensão de Deus pode ser racional, portanto do âmbito da Teologia Natural,
ou percebida do ponto de vista da fé, constituindo a Teologia Revelada.
Anteriormente
ao século XX, a trajetória filosófica ocidental procurava explicar alguns
ângulos das tradições pagãs, do judaísmo e do Cristianismo, ao passo que no
Oriente, em práticas espirituais como o hinduísmo, o budismo e o taoísmo, não é
fácil perceber até que ponto uma pesquisa é de natureza religiosa ou
filosófica. Não é fácil para esta disciplina delimitar um objeto de estudo
adequado, do ponto de vista religioso. Segundo estes filósofos, mesmo que se
alcance uma caracterização correta de Deus, ainda resta encontrar uma razão
para se pretender sua existência.
Embora
na Idade Média tenham surgido muitas teorias que se pretendem capazes de provar
que Deus existe, a partir do século XVIII houve uma guinada na mentalidade
humana, e muitos dos argumentos defendidos na era medieval perderam sua
validade. Assim, muitos filósofos religiosos têm suas próprias prevenções
contra a cultura religiosa popular, como Kant e Feuerbach, o qual estimulou o
estudo das religiões do ângulo social e antropológico destas convicções espirituais,
caminho seguido até hoje por grande parte dos filósofos desta disciplina.
5.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A
filosofia pode ser entendida como: reflexão sobre tudo o que se nos oferece ao
intelecto; busca compartilhada da verdade; busca do entendimento racional do
tipo mais fundamental.
A
religião é a ligação com o objeto que a pessoa considera sagrado. Sistema de
crenças não testáveis existentes para uma ou mais deidades, e as práticas que
acompanham a adoração e os sacrifícios.
Cada
ciência estuda a religião de um modo peculiar. A psicologia da religião estuda
os modos como as ideias religiosas são adquiridas e mantidas. A sociologia da
religião estuda os componentes sociais (coesão e divisão) das crenças
religiosas. A história das religiões estuda a sua emergência e influência no
campo social e político.
6.
CONCEITO DE FILOSOFIA DA RELIGIÃO
A
filosofia da religião, nada mais é do que um dos segmentos de estudos da
filosofia. Seu principal objetivo é estudar a dimensão espiritual do homem a
partir de uma perspectiva filosófica com indagações e pesquisas sobre a
essência do fenômeno. Algumas das perguntas em que se baseiam os estudos da
filosofia da religião são:
O
que é a religião?
Deus
existe?
Há
vida após a morte?
Filosofia
da religião – por analogia com a filosofia da ciência, filosofia da arte etc. –
nada mais é do que a reflexão filosófica sobre a religião.
7.
MÉTODOS USADOS PARA ESTUDO
Os
métodos usados para esse estudo são o antropológico, filológico e
histórico-crítico comparativo:
Antropológico: reconstrução do passado religioso com base na
etnologia, ou seja, no estudo dos povos primitivos e atuais.
Filológico: comparação das línguas para encontrar palavras que
são usadas para descrição e expressão do sagrado, além das raízes comuns.
Histórico-crítico comparativo: comparação entre várias religiões no tempo e no
espaço, buscando encontrar elementos em comum e díspares para descobrir o que
constitui a essência do fenômeno religioso.
8.
A HISTÓRIA DA FILOSOFIA DA RELIGIÃO
No
início, a filosofia visava encontrar esclarecimentos a alguns aspectos do
paganismo, do judaísmo e do cristianismo.
A teologia negativa gira em torno da afirmação de que Deus só pode ser
conhecido quando negamos que os termos ruins possam ser aplicados à ele. É
impossível chegar a uma descrição do Ser Supremo, mas mesmo que se chegue a
essa descrição, continua-se a ter o problema relacionado à razão pela qual se
corresponde algo a essa descrição.
Durante
a época medieval, foram desenvolvidas muitas tentativas de demonstração da
existência de Deus. Entre elas estão as cinco vias de São Tomás de Aquino e o
argumento ontológico de Santo Anselmo. A maioria delas, no entanto, com a
evolução da mentalidade humana perderam sua validade a partir do século XVIII,
apesar de ainda hoje convencerem algumas pessoas e filósofos. Dessa forma,
filósofos religiosos passaram a adotar formas de prevenção contra a cultura
religiosa popular, como o estudo das religiões com uma visão social e
antropológica, forma que é seguida por filósofos até os dias de hoje.
9.
FILOSOFIA DA RELIGIÃO, TEOLOGIA E FILOSOFIA RELIGIOSA
A
filosofia da religião difere tanto da teologia quanto da filosofia religiosa.
Enquanto a filosofia da religião procura questionar os aspectos religiosos, a
filosofia religiosa é substancialmente uma filosofia da salvação, que desde o
início se move num terreno religioso e não o abandona em todo o seu trajeto. A
teologia, por seu turno, é a formulação sistemática das crenças religiosas. Se
fosse um ramo da teologia, faltar-lhe-ia a liberdade intelectual inerente à
pesquisa filosófica. Impedir-lhe-ia de questionar a existência de Deus e os
dogmas essenciais da religião em estudo.
10. UM TRATADO
COMPLETO DE FILOSOFIA DA RELIGIÃO
Um
completo tratado sobre filosofia da religião teria de investigar a natureza da
religião e tratar de todos os principais conceitos das diferentes religiões.
Como não há uma definição de religião universalmente aceita, ela acaba
representando um fato para o psicólogo, outro para o antropólogo e outro ainda
para marxista etc. Em decorrência disso, há inúmeras teorias sobre a religião:
antropológicas, psicológicas, marxistas etc.
11. CONCEITOS E
PROBLEMAS A SEREM ANALISADOS
A filosofia da religião procura analisar criticamente
os conceitos de Deus, da adoração, da salvação, da vida eterna etc. Em seus
estudos, procura comparar diversas expressões religiosas com o avanço das
descobertas científicas. Os principais problemas são: A existência de Deus, sua
ligação com esse mundo sensível, o problema do mal, a relação entre moral e
religião e as relações entre alma e corpo.
12. EXPLICITANDO OS
PROBLEMAS
A
existência de Deus. Como demonstrar a sua existência? Como é Deus? O enunciado
“Deus existe” implica justificar de Deus juntamente com a natureza de
Deus.
Sua
ligação com esse mundo sensível. Deus criou o mundo? Ele é transcendente
(exterior) ou imanente (interior) ao Universo? Cuida do mundo ou se limita a
concebê-lo e colocá-lo em movimento? Controla os homens ou os deixa entregues à
sua livre vontade?
O
problema do mal. Se Deus é onipotente, porque existe o mal?
A
relação entre moral e religião. Será possível uma moral sem religião? Existem
princípios morais comuns a todas as religiões?
As
relações entre a alma e o corpo. Existe a alma? Ela é imortal? Que função
desempenha? Como coexiste com o corpo? Depois da morte, ela voltará a se reunir
a ele?
13. ALGUMAS ATITUDES
FILOSÓFICAS DIANTE DA RELIGIÃO
Desde
a Antiguidade até a Idade Moderna, os filósofos tentaram dar uma resposta à
atitude do ser humano diante da religião. Platão, por exemplo, afirmava a ideia
do Bem, ou seja, a ideia do Divino como concentração do racional, do bom e do
belo. Os estóicos defenderam que o próprio mundo é o Deus racional, submetido à
lógica de seu pensamento. Newton fala-nos de um Deus como o arquiteto do
Universo. A revolução científica dos séculos XVI e XVII concebe o criador como
uma máquina perfeita. Hegel formulou um panteísmo dinâmico em que as três
etapas da realidade, ideia, natureza e espírito, poderiam confundir-se com uma
divindade não- transcendente do mundo. Nietzsche anunciou a morte de Deus.
A
ideia religiosa entra, por fim, em contato com a psicanálise. Freud dizia que a
religião era uma neurose obsessiva. Para ele, “Seria muito agradável que Deus
existisse, e que houvesse criado o mundo, e que sua providência fosse
benevolente. Seria excelente que existisse uma ordem moral no Universo, e que
existisse uma vida futura; mas é muito surpreendente que tudo isso coincida com
o que todos nós somos obrigados a desejar que exista.”
14. O PROBLEMA CENTRAL: CONCEITO DE DEUS
O
problema central do estudo da filosofia da religião funda-se no conceito de
Deus. Todos os demais elementos, principalmente na tradição judaico-cristã,
dependem deste conceito, que fornecerá o material necessário para um amplo
debate em torno do assunto. Todas as religiões do ocidente contêm, de acordo
com a filosofia da religião, um ponto em comum: a fé em Deus. Dessa forma, a
divindade é um ser sem corpo e que possui vida eterna, visto como o criador de
todas as coisas. Além disso, de acordo com as religiões, Deus é generoso,
perfeito, onipotente, onisciente e onipresente.
15.
EM OUTRAS
PALAVRAS
Podemos
entender a religião, de uma forma ampla, como um sistema de crenças e as
práticas a elas referentes. Em quase todas as culturas há pelo menos uma
expressão que possamos chamar de religiosa. Essas expressões diferem entre si,
quanto à origem e conceitos principais, mas costumam partir da tentativa do
homem de encontrar respostas a problemas para os quais a razão humana não seria
suficiente. Uma pergunta bastante inquietante e que ainda não podemos responder
precisamente por meio da ciência é a respeito da vida após a morte.
As religiões espiritualistas, ou seja, que acreditam
na existência de um corpo mortal e de uma alma imortal, podem enfrentar esse
problema criando teorias baseadas em algum livro que se considera escrito a
partir de uma revelação de Deus, como o Alcorão para os muçulmanos, o Bhagavad
Gita para os hindus e a Bíblia para os cristãos, por exemplo, ou por meio da
transmissão oral de revelações individuais feitas a alguém que se considera
capaz de se comunicar com o plano sagrado, como são os profetas, médiuns e
babalorixás.
Ou
seja, na esfera da religião, não se necessita de uma demonstração racional para
aquilo que se professa como verdade, mas a fé não é necessariamente oposta à
razão. O termo “filosofia da religião”, que aparece a partir do século XIX, é a
parte da filosofia que se ocupa de examinar racionalmente as explicações
religiosas. A existência ou não de Deus foi uma questão que movimentou o
pensamento de muitos filósofos desde a Antiguidade, como Tomás de Aquino,
Agostinho de Hipona e Nicolau de Cusa.
16.
Contexto
histórico:
O
cenário histórico que serve de pano de fundo para a discussão desses pensadores
é o desenvolvimento e ascensão do Cristianismo e grande influência da Igreja
Católica como instituição social. Se o Império Romano se esfacelava, a Igreja
acumulou grande riqueza material. Se o Império Romano sofria ataques de povos
bárbaros, a Igreja desempenhava o papel de conciliadora entre a nobreza feudal.
A
fé cristã, segundo a doutrina da Igreja Católica, era a verdade mais elevada.
Qualquer ato que discordasse do postulado pela Igreja era considerado uma
heresia. Todas as investigações filosóficas e científicas tinham que partir do
pressuposto de que a verdade já havia sido revelada pelo próprio Deus. A única
tarefa possível à ciência e à filosofia era a comprovação racional da fé.
Muitos pensadores cristãos investiram nesse trabalho e tentaram, a partir da filosofia
grega ou contra ela, convencer os descrentes.
Entre
esses pensadores, podemos incluir os “padres apologistas”, ou seja, aqueles
padres que mostravam a superioridade da fé cristã em relação ao paganismo ou
politeísmo. Esses padres, como Orígenes, Justino e Tertuliano, rejeitavam o
recurso às filosofias gregas. Importante lembrar que, nessa época, as obras de
Platão e Aristóteles estavam desaparecidas e o conhecimento que se tinha delas
passava pelo prisma dos filósofos estoicos e neoplatônicos e, por isso,
apresentavam elementos místicos ou comportamentos que a Igreja considerava
“imorais”.
17.
FÉ E RAZÃO
Vamos
analisar os conceitos sobre Deus a partir de alguns filósofos.
Platão: diz que não há um deus criador de tudo, mas existe
um responsável pela organização do mundo denominado por Platão de Demiurgo
(Artífice) que criou o mundo material “imperfeito” ao contemplar o mundo
perfeito das Ideias.
Aristóteles: Deus é o primeiro motor “tudo o que é movido é
movido por alguma outra coisa”, e o primeiro motor movimenta todas as coisas e
não é movido por nada. Na obra Metafísica o primeiro motor é denominado THEÓS
(Deus em grego) pelo filósofo estagirita.
Plotino: Deus é uno e as coisas que emanam desta fonte não se
separam dela. O mundo é parte de Deus.
Filosofia Cristã: a ideia de que o mundo emana de Deus não é
fundamentada, por que Deus é puro, homogêneo e não pode ser dividido. “Ao criar
Deus estava separado do mundo.”
Na
História da Filosofia muitos pensadores utilizaram a razão para provar a
existência de Deus como Aristóteles (Primeiro Motor), São Tomás de Aquino
(Inteligência Ordenadora).
Segundo
o filósofo Immanuel Kant a razão é limitada em vários aspectos, sendo assim,
com a razão o homem não prova a existência de Deus, mas no livro Crítica da
Razão Prática o filósofo alemão diz que a racionalidade objetiva está envolvida
com a vontade.
É
na VONTADE livre que podemos provar a existência de Deus.
A
VONTADE é a consciência moral é o DEVER que está ligado ao real e ao bem,
portanto esta busca pelo bem nos leva a Deus, pois Deus é o sumo bem.
18.
Discurso
filosófico e discurso religioso
A)
Discurso filosófico: é marcado pelo questionamento sucessivo, por criticar a
fundamentação sobre o saber afirmado, o método utilizado pela filosofia é
racional o filósofo deve usar a razão crítica (argumentação lógico-racinal).
B)
Discurso religioso: apresenta-se com uma narrativa marcada por metáforas,
parábola e analogias. Também é um discurso acrítico sem fundamentação crítica.
Exemplo
O
texto abaixo tem características do discurso filosófico
“
Toda a arte e toda investigação, bem como toda ação e toda a escolha, visam a
um bem qualquer; e por isso foi dito, não se razão, que o bem é aquilo a que as
coisas tendem. Mas entre os fins observa-se uma certa diversidade: alguns são
atividades, outros são produtos distintos das atividades das quais resultam; e
onde há fins distintos das ações, tais fins são, por natureza, mais excelentes
do que as ultimas.
Mas
como muitas são as ações, artes e ciências, muitas também são as finalidades. O
fim da medicina é a saúde, o da construção naval de navios (...).
Se
existe, então para as coisas, algum fim, que desejamos por si mesmo e tudo o
mais é desejado por causa dele; e se nem toda coisa escolhemos visando à outra
(porque se fosse assim, o processo se repetiria até o infinito, e inútil e
vazio seria o nosso desejar), evidentemente tal fim deve ser o bem, ou melhor,
o sumo bem.” Aristóteles, Ética a Nicômaco. São Paulo, Martin Claret. 2002. Pg
17.
Neste
texto pode-se perceber a (argumentação lógico-raciona) em que o autor propõe
uma tese central (busca do sumo bem) utilizando argumentos secundários (todas
as coisas tem uma finalidade; a construção naval de navios) para reforçar sua
teoria.
O
texto abaixo tem características do discurso religioso (mítico-religioso)
“...
Narciso tinha uma irmã gêmea, com quem era imensamente parecido. Os dois jovens
eram muito belos. A jovem morreu; Narciso, que amava muito, sentiu uma dor
enorme e, num dia em que se viu numa fonte, julgou a princípio ver a irmã, e
isso consolou-o do seu desgosto. Embora soubesse perfeitamente que não era a
irmã quem via, ganhou o hábito de se olhar nas fontes, para se consolar da sua
perda... (Gabriel Chalita, Vivendo a Filosofia. São Paulo, Atual. 2004. Pg 22.)
Neste
trecho é narrada a história de Narciso que segundo a mitologia morreu adorando
a própria imagem no rio, por isso termo narcisista é usado até hoje para
designar pessoas que massageiam o próprio ego.
19.
Santo
Agostinho e Santo Tomás de Aquino
No entanto, as obras de maior destaque são as de Santo
Agostinho, que pertencia à Patrística, e as de Santo Tomás de Aquino, que
pertencia à Escolástica. A Patrística é o nome que se dá ao conjunto das
produções intelectuais a respeito da revelação cristã, a maior parte delas de
autoria de padres que perceberam a necessidade de argumentação racional para
consolidar os preceitos cristãos entre as autoridades e o povo. Santo
Agostinho, seu principal expoente, estabelece que a principal diferença entre a
fé e a razão é que, pela fé, conseguimos compreender coisas inalcançáveis por
meio da razão. Mas isso não torna fé e razão contraditórias: para o filósofo, a
fé revela verdades de forma intuitiva, verdades que são confirmadas pelo
exercício racional. A alma humana só poderia conhecer a verdade das coisas se
iluminada por Deus.
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