2° Ano do Ensino Médio: JULGAR: CULTURA DA PAZ, DA RECONCILIAÇÃO E DA JUSTIÇA
A
CF 2018 tem como objetivo geral “Constituir a fraternidade, promovendo a
cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus, como
caminho de superação da violência”. Juntam-se a este, sete objetivos
específicos:
1. Anunciar
a Boa-nova da fraternidade e da paz, estimulando ações concretas que expressem
a conversão e a reconciliação no espírito quaresmal;
2. Analisar
as múltiplas formas de violência, especialmente as provocadas pelo tráfico de
drogas considerando suas causas e consequências na sociedade brasileira;
3. Identificar
o alcance da violência, nas realidades urbana e rural de nosso país, propondo
caminhos de superação, a partir do diálogo, da misericórdia e da justiça, em
sintonia com o Ensino Social da Igreja;
4. Valorizar
a família e a escola como espaços de convivência fraterna, de educação para a
paz e de testemunho do amor e do perdão;
5. Identificar,
acompanhar e reivindicar políticas públicas para superação da desigualdade
social e da violência;
6. Estimular
as comunidades cristãs, pastorais, associações religiosas e movimentos
eclesiais ao compromisso com ações que levem à superação da violência; e
7. Apoiar
os centros de direitos humanos, comissões de justiça e paz, conselhos
paritários de direitos e organizações da sociedade civil que trabalham para a
superação da violência.
VER A REALIDADE
O
Texto-base da CF 2018 apresenta uma metodologia para analisar a situação de
violência no País, conhecida como “Ver, Julgar e Agir”.
O
“Ver” é centrado no conhecimento do problema, por meio de informações, gráficos
e pesquisas. Na Campanha deste ano, o “Ver” foi dividido em três eixos. O
primeiro trata da violência na convivência humana, com a definição do conceito
de violência e dados históricos e culturais. No segundo eixo é tratada a
violência nas estruturas sociais, abordando economia, consumo, desigualdade,
violação de direitos fundamentais e a violência promovida pela lógica do
mercado. Em seguida são fornecidas informações sobre algumas manifestações da
violência na sociedade. Neste eixo, o Texto-base faz “ver” a negligência do
Estado em relação às políticas sociais, quem são as vítimas da violência
(juventude pobre e negra, povos indígenas, mulheres etc.), o conflito pela
terra, a intolerância (de raça, de religião e de gênero), a violência doméstica
e a violência no trânsito, entre outras.
JULGAR COM FIDELIDADE AO EVANGELHO
A
segunda parte do Texto-base é o “Julgar”, que propõe refletir sobre a realidade
apresentada a partir dos ensinamentos do Evangelho. Essa parte do texto também
foi dividida em eixos: Sagrada Escritura e Magistério.
O
primeiro texto bíblico é justamente o que serve como lema da CF: “Vós sois
todos irmãos! (Mt 23,8). Depois, outras passagens, especialmente do Novo
Testamento, indicam o caminho da paz e a atitude de não-violência presentes na
Bíblia. Compõem o segundo eixo de reflexão os documentos sobre o tema
produzidos pela Igreja Católica, as mensagens para o Dia Mundial da Paz escritas
pelos Papas Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI e mensagens do Papa Francisco.
AGIR COMO CRISTÃO
Por
fim, o “Agir” indica ações concretas para a superação da violência, em suas
várias esferas: pessoa e família, comunidade e sociedade. No eixo pessoal e familiar,
a CF 2018 aponta para a conversão, para a cultura da não violência e para a
fraternidade. Ao tratar sobre a vivência na Igreja, o Texto-base oferece
exemplos de conquistas e experiências da comunidade eclesial, indica as obras
sociais como caminho para a superação da violência, afirma a necessidade de
promover uma espiritualidade que desperte para a paz e trata da superação da
intolerância religiosa e da premência em incentivar o ecumenismo e o diálogo
inter-religioso.
Ao
falar sobre a superação da violência na sociedade, a CF 2018 indica áreas
concretas que precisam de atenção, inclusive quanto à legislação e à
implementação de políticas públicas, como o Estatuto da Criança e do
Adolescente; a violência doméstica e a Lei Maria da Penha; os direitos humanos;
a violência contra os jovens; o narcotráfico e a violência política, entre
outras.
A
Campanha da Fraternidade será encerrada dia 25 de março, Domingo de Ramos, com
a Coleta Nacional da Solidariedade. O dinheiro arrecadado será destinado a
obras sociais e entidades que desenvolvem ações pela superação da violência,
tanto em âmbito nacional como diocesano.
ALGUMAS FUNÇÕES DA CAMPANHA DA
FRATERNIDADE (CF):
É
uma campanha quaresmal, que une em si as exigências da conversão, da oração, do
jejum e da doação. Convoca os cristãos a uma maior participação nos sofrimentos
de Cristo como possibilidade de auxílio aos pobres
É
um grande instrumento para desenvolver o espírito quaresmal: conversão,
renovação interior e ação comunitária em preparação da Páscoa.
Meio
para viver os três elementos fundamentais da espiritualidade quaresmal: Oração
– Jejum – esmola
A
CF é especialmente manifestada na evangelização libertadora, clama a renovar a
vida da Igreja, a transformar a sociedade e a partir de temas específicos,
tratados à luz do Projeto de Deus.
FRATERNIDADE E A SUPERAÇÃO DA
VIOLÊNCIA
O
primeiro lugar onde o ser humano aprende a se relacionar é na família. Os
comportamentos e estímulos de superação da violência exercitados na família
balizam as atitudes a serem desenvolvidas na comunidade e na sociedade. Como
bem afirma Humberto Maturana: Não vemos as coisas como são. Vemos as coisas
como somos.
Mas
antes de qualquer processo precisamos compreender o que é a violência:
A
violência direta é que chama mais a atenção. Essa forma de violência acontece
quando uma pessoa usa a força contra outra. Mais de um agressor e mais de uma
vítima podem tomar parte em tal evento. Porém, vemos crescer sempre mais as
formas coletivas e organizadas da prática de violência. De acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS), a violência se caracteriza pelo uso
intencional da força contra si mesmo, contra outra pessoa ou contra um grupo de
pessoas. Essa violência pode resultar em dano físico, sexual, psicológico ou
morte. VIOLÊNCIA – é uma construção social e pessoal e não faz parte da
natureza do ser humano.
MOTIVAÇÕES AO TEMA
·
Os índices da violência no Brasil
superam significativamente os números de países que se encontram em guerra ou
que são vítimas frequentes de atentados terroristas.
·
Discípulos missionários, seguidores de
Jesus Cristo! Arautos da fraternidade e da paz, pois em Cristo somos todos
irmãos e irmãs!
·
A experiência de estar exposto a
situações de violência é relatada por um grande número de brasileiros. Não se
trata de uma percepção isolada e meramente subjetiva.
·
A Quaresma é um tempo forte de
penitência e de mudança de vida.
·
Os quarenta dias desse tempo precioso
são de graça e de bênção.
OBJETIVO GERAL: Construir
a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à
luz da Palavra de Deus, como caminho de superação da violência.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1)
Anunciar a Boa-Nova da fraternidade e da paz, estimulando ações concretas que
expressem a conversão e a reconciliação no espírito quaresmal;
2)
Analisar as múltiplas formas de violência, especialmente as provocadas pelo
tráfico de drogas considerando suas causas e consequências na sociedade
brasileira;
3)
Identificar o alcance da violência, nas realidades urbana e rural de nosso
país, propondo caminhos de superação, a partir do diálogo, da misericórdia e da
justiça, em sintonia com o Ensino Social da Igreja;
4)
Valorizar a família e a escola como espaços de convivência fraterna, de
educação para a paz e de testemunho do amor e do perdão;
5)
Identificar, acompanhar e reivindicar políticas públicas para superação da
desigualdade social e da violência;
6)
Estimular as comunidades cristãs, pastorais, associações religiosas e
movimentos eclesiais ao compromisso com ações que levem à superação da
violência;
7)
Apoiar os centros de direitos humanos, comissões de justiça e paz, conselhos
paritários de direitos e organizações da sociedade civil que trabalham para a
superação da violência.
JULGAR
Lançar
nossos olhares para uma realidade que desafia!
SAGRADA ESCRITURA
·
A violência é um tema abundante na
Sagrada Escritura, sobretudo no AT.
·
Nela encontram-se fortes denúncias dos
danos provocados pela violência, proibições de atos violentos e condenação de
pessoas por atitudes violentas.
·
São frequentes as perguntas sobre o
porquê da presença de tanta violência que contrastam com prescrições e
sugestões de atos violentos punitivos na busca de estabelecer a justiça.
·
O amadurecimento dessa problemática
percorre todo o trajeto da revelação e precisa ser entendido na progressividade
da revelação onde uma leitura superficial poderia comprometer até a imagem de
Deus dentro do cristianismo. [ENVENENAMENTO DA IMAGEM DE DEUS].
O
texto base da CF propõe:
Uma
divisão pedagógica entre Antigo e Novo Testamento. No AT: Deus se apresenta
como misericordioso, não se coloca ao lado da violência e estabelece caminhos
para superá-la. No NT: Culminará na resposta definitiva de Deus para violência,
a superação da violência.
No
Antigo Testamento:
A
comunhão com o projeto amoroso de Deus é rompida pelo pecado.
Algumas
passagens do AT insinuam uma personalidade violenta de Deus... Convocação para
guerras, cânticos de vitória, pena de morte Raiva que se converte em vingança.
Por
isso tais episódios devem ser lidos em seu contexto originário – limites
culturais da época;
Com
o avançar do processo de revelação compreende-se que Deus é misericórdia e nele
não existe violência. Assim, a violência religiosa não se justifica como desejo
ou mandamento divino;
Um
grande pensador filosófico Empédocles (490 a.C. - 430 a.C), afirma que “o que
agrega a matéria é o amor e o que desagrega é o ódio.” Portanto a ausência de
amor e respeito é a fonte da quebra da fraternidade e consequente violência em
todos os níveis em que essa se apresenta.
Inteligentemente,
o pastor evangélico que reformulou o pensamento a cerca dos negros dentro dos
pensamentos cristãos, Martin Luther King dizia que “ ou vivemos todos juntos
como irmãos, ou morremos todos juntos como idiotas.”
No
Antigo Testamento, nas origens: a harmonia
das relações... “E Deus viu que tudo era bom” (Gn 1, 25). Na origem da Bondade
de Deus está o sentido da obra criada e o sentido de ser pessoa.
Ao
ser confrontado sobre a separação entre homem e mulher, Jesus dirá: “Moises
permitiu despedir a mulher, por causa da dureza do vosso coração. Mas não foi
assim desde o princípio” (Mt 19,8). O esquecimento do mandamento do amor e da
ética gestam e despertam a violência;
O
primeiro ato de violência na Sagrada Escritura é o rompimento da relação do
homem com Deus no paraíso. O homem rejeita a convivência amorosa e livre. O
rompimento conduz a uma convivência violenta manifestada no assassinato de Abel
pelo seu irmão Caim (Gn 4,1-16). Dessa forma, a Sagrada Escritura não afirma,
mas indica o pecado como elemento que leva à maquinação do ato violento de
Caim.
O
mal então se espalha: A resposta que Caim dá a Deus quando é questionado pelo
sumiço de Abel demonstra ódio e indiferença: -“Acaso sou o Guarda do meu
irmão?” (Gn 4,9) O mal se enraíza e gera ainda mais violência e indiferença com
a vida e o sofrimento do outro(Gn 4,19-24).
O
crescimento da maldade entre os homens deixará consequências em toda a criação
que sofrerá o dilúvio como uma tentativa de reinicio da criação. Trata-se de um
caos cósmico, mas sua motivação é o caos existente no coração do homem
exteriorizado na multiplicação da maldade e da violência...
Deus
mostra então que a melhor forma de superar a violência é o caminho da
reconciliação. A aliança realizada após o dilúvio põe em destaque a
responsabilidade do homem sobre a vida de seu semelhante (Gn 9, 5- 6).
A
lei do Talião (que se traduz na expressão, olho por olho e dente por dente) e o
decálogo:
Como
exigir justiça diante do mal recebido?
De
forma a destruir?
De
forma equiparada = lei de talião?
ALei
de talião como tentativa de frear a vingança. A Regra de ouro: se amarmos
aqueles que nos amam, esta não é a não-violência. A não violência é amar
aqueles que nos odeiam. (Comentário a Regra de ouro de Chiara Lubich num
encontro com budistas)
NO LIVRO DOS PROFETAS
Os
profetas foram os que mais refletiram a temática da violência
foram
perseguidos e feitos objetos de intimidação, alvos de diversos tipos de
violência.
O
caso mais conhecido é o de Jeremias que as autoridades religiosas quiseram
matar (Jr 26), mantiveram prisioneiro em uma cisterna (Jr 37-38). • Elias teve
que fugir para o deserto (1Re 19,2).
Amós
foi expulso do santuário de Betel (Am 7,10-17)
O
discurso dos profetas sobre a violência é concreto.
Eles
foram testemunhas privilegiadas das violências cometidas pelo seu povo e das
injustiças contra os mais fracos.
Eles
são unanimes em denunciar o uso da violência e da opressão pelo povo de Israel
e pelos povos vizinhos. Falam sobre o direito e a justiça em relação aos pobres
(Am 5,24 ; Mq 6,8 ; Is 58,6-7 ; Jr 7,3-5)
Para
além da denúncia, os profetas convidam seus contemporâneos a uma radical
conversão convidando a prática da justiça e da compaixão: (Am 5,24; Jr 22,3).
Uma
consideração especial merece o profeta Isaias com a visão de um mundo que
renunciará à guerra e seus instrumentos de violência e, assim, poderá gozar da
paz sem limites: “Lavai-vos, limpai-vos, tirai da minha vista as injustiças que
praticais. Parai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem, buscai o que é
correto, defendei o direito do oprimido, fazei justiça para o órfão, defendei a
causa da viúva” (Is 1,16-17);
NOS SAPIENCIAIS
(Jó, Salmos, Provérbios,
Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria e Eclesiástico)
Temas
cotidianos: amizade, inveja, fofoca, vingança...
Excluem
qualquer uso de violência, bem como qualquer tipo de cumplicidade com aqueles
que dela se utilizam. Alguns fortes exemplos podem ser lidos em: “Não trames o
mal contra o amigo, quando ele vive contigo cheio de confiança. Não abras
processo contra alguém sem motivo, se não te fez mal algum! Não invejes a
pessoa injusta e não imites nenhuma de suas atitudes, pois o Senhor detesta o
perverso” (Pr 3,29- 32).
Jonas
como modelo de homem da paz.
Retomam
a reflexão da amizade do ser humano com Deus e entre si.
VIOLÊNCIA NO NOVO TESTAMENTO
Somente
no NT, a luz da palavra definitiva de Deus que nos é dada por Jesus é que toda
a delicada temática da violência e da vingança na Bíblia recebem uma resposta
definitiva. Os escritos do NT nasceram a luz da Páscoa de Jesus e todos a
refletem de alguma forma. O centro do NT é Jesus que é por excelência é uma
pessoa não violenta. Por isso não se encontra nenhum tipo de incentivo a
violência em suas páginas.
O mais antigo relato é de
violência: Não é para impressionar que a parte mais antiga e
mais desenvolvida do NT seja o relato da paixão de Jesus, um evento violento e
injusto que se inicia com a prisão, passa pela flagelação até o seu ocaso na
crucificação. A Tentação dos discípulos para recorrer a violência. As palavras
de Jesus apresentam novidades. Ele prega o amor aos inimigos fundamentando esta
atitude a Deus Pai (Mt 5,44 e Lc 6,27): “Ouvistes que foi dito: ‘Ame o seu
próximo e odeie o seu inimigo. Mas eu vos 22 digo: Amai os vossos inimigos e
orai pelos que vos perseguem, para que sejais filhos do vosso Pai que está nos
céus; ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e
injustos.
Tipos
de messianismos associados a violência: Contexto vivido na Palestina como contexto
de violência. Jesus é o messias, não o cavaleiro das guerras, mas o que vem
montado no jumentinho, o homem de paz. Ele vence a violência com a força da
Palavra. Deus enviou-o (seu Filho) para nos salvar, para persuadir, e não para
violentar, pois em Deus não há violência (Carta a Diogneto VII,4). A superação
da violência sempre passa pelo mistério pascal (sacrifício e frutos) • Grande
missão da Igreja é desenvenenar a imagem de Deus.
A
violência brota do coração do homem, pois é de dentro, do coração humano, que
saem as más intenções: imoralidade sexual, roubos, homicídios, adultérios,
ambições desmedidas, perversidades; fraude, devassidão, inveja, calúnia,
orgulho e insensatez. Todas essas coisas saem de dentro, e são elas que tornam
alguém impuro” (Mc 7,14-23). O coração do homem que precisa ser pacificado para
que possa superar a ideia que o outro seja um risco a ser eliminado. A
superação da violência passa necessariamente pela necessária conversão dos atos
do homem que pressupõe uma conversão de seu coração. A espiritualidade é
apontada como um instrumento necessário para este processo: “Amai vossos
inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mt 5,44), “brilhe vossa luz diante
dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está
nos céus” (Mt 5,16).
O FILHO VENCE A VIOLÊNCIA PELO DOM
DE SI
Jesus
revela que Deus é Pai (Abbá) e os homens e mulheres são irmãos e irmãs. A
fraternidade anunciada por Jesus é composta de um caminho de misericórdia, que
pede e oferece perdão; um caminho em que se assume a postura do samaritano, que
se inclina sobre a dor do que sofreu violência e dele cuida e com ele supera o
sofrimento. O Novo Testamento implica
uma consequência prática: quem conhece Jesus promove a paz, jamais estimula à
violência. Quem, em Cristo, sabe que foi agraciado com a paz, deve se tornar um
reconciliador, um construtor de paz.
A IGREJA CONVIDA
A VENCER A VIOLÊNCIA
A Igreja guarda o tesouro deixado por seu fundador,
cabendo-lhe a missão do anúncio do Evangelho da paz e da superação da
violência. Quando estudamos a história da Igreja percebemos que nem sempre ela
foi fiel à sua missão; muitas vezes escolheu o caminho do não diálogo chegando
a extremos escandalosos. A Igreja não esconde os erros da sua história, mas
aprende com eles e busca cada dia refazer a escolha do seguimento de Jesus. A
Igreja segue o seu Mestre, o não violento que morreu de morte violenta, e
guiada pela sua presença Ressurreta e pelo seu Espírito, por meio da comunhão e
da missão, busca oferecer a todos os povos um caminho para vencer a violência.
Poder-se-ia aqui fazer memória de inúmeros homens e mulheres que ao longo dos
séculos deram testemunho de superação da violência. Contudo, essa reflexão se
centrará na primavera da Igreja no século XX, o Concílio Ecumênico Vaticano II
e os papas contemporâneos.
A) Gaudium et
Spes: Em sua reflexão sobre a comunidade humana
internacional, a Constituição pastoral sobre a Igreja no mundo de hoje (Gaudium
et Spes), indica como elementos a se ter presentes para uma convivência
pacífica e para o progresso da paz: o
respeito pela índole comunitária da vocação humana, a interdependência da
pessoa humana e da sociedade humana; a promoção do bem comum; o respeito da
pessoa humana; o respeito e amor pelos adversários; a igualdade essencial entre
todas as pessoas; a superação da ética individualista; a responsabilidade e a
participação social, e a solidariedade humana (n. 24-32).
B) Pacem in
Terris: São João XXIII, na
Encíclica Pacem in Terris, afirma que, em nosso tempo, não é racional que a
guerra seja usada como instrumento da justiça (cf. n. 67). Ele, que viveu de
perto os horrores da guerra, cita Pio XII: “Com a paz nada se perde. Tudo, com
a guerra, pode ser perdido” (n. 62).
C) Populorum
Progressio: reafirma a completa
exclusão da violência do ideal de sociedade coerente com a dignidade humana.
D) São João
Paulo II: Na Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2002,
recorda que “não há paz sem justiça, nem justiça sem perdão”.
E) Bento XVI: Na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2007,
recorda que a raiz da ausência de paz está localizada no contexto da
desigualdade social: “Na raiz de não poucas tensões que ameaçam a paz, estão
certamente as inúmeras injustas desigualdades ainda tragicamente presentes no
mundo. De entre elas são, por um lado, particularmente insidiosas as
desigualdades no acesso a bens essenciais, como a comida, a água, a casa, a
saúde; e, por outro lado, as contínuas desigualdades entre homem e mulher no
exercício dos direitos humanos fundamentais”.
DECÁLOGO DE
ASSIS PARA A PAZ
S. João Paulo II por duas vezes convidou líderes
religiosos para encontrarem-se em Assis em função da paz. No segundo desses
encontros (2002) foi proclamado um decálogo de compromissos, o qual foi em
seguida apresentado pelo papa na Carta a todos os chefes de governo do mundo
(24 de janeiro de 2002). No decálogo estão presentes os grandes temas
correlatos à paz, como a justiça, a solidariedade, o perdão, a educação, o
diálogo, o respeito, os direitos humanos, a atenção aos pobres e sofredores, a
solidariedade e o perdão. Nesta Campanha da Fraternidade, atualizemos nosso
empenho com esses compromissos.
FRANZ
JÄGERSTÄTTER
Em 2007 foi
beatificado como mártir o leigo austríaco Franz Jägerstätter, casado e pai de
família, que rejeitou prestar qualquer tipo de colaboração e de apoio aos
nazistas. Ele recusou-se principalmente a pegar em armas em favor desse regime.
Foi, por isso, condenado à morte e decapitado em 9 de agosto de 1943. Em seu
testemunho se apresenta com vigor a atualidade do “Evangelho da paz” (Ef 6,15).
Sua beatificação repropõe o convite a resistir a toda forma de violência e a
consagrar todos os esforços possíveis pela causa da paz. Seu martírio, como
testemunho da fé cristã vivida de forma radical, confere grande força ao
compromisso pela paz.
VÓS SÓIS TODOS IRMÃOS
A
superação da violência começa pelo respeito à dignidade da pessoa humana,
defendendo e promovendo a dignidade da vida humana em todas as etapas da
existência, desde a fecundação até a morte natural, tratando o ser humano como
fim e não como meio. A proposta é a superação da violência. Para concluir,
bastam as palavras do Papa Francisco no encontro com os presidentes Abbas e
Peres, no ano 2014: “Ouvimos uma chamada e devemos responder: a chamada a romper
a espiral do ódio e da violência, a rompê-la com uma única palavra: “irmão”.
Mas, para dizer esta palavra, devemos todos levantar os olhos ao Céu e
reconhecer-nos filhos de um único Pai”.
Comentários
Postar um comentário