7° Ano: O QUE É A CAMPANHA DA FRATERNIDADE?
O QUE É A CAMPANHA DA FRATERNIDADE?
A
Campanha da Fraternidade surgiu durante o desenvolvimento do Concílio Vaticano
II (1962-1965). A cada ano, desde 1964, a Igreja no Brasil propõe a todos os
cristãos, a Campanha da Fraternidade (CF).
Essa campanha desenvolveu-se mais intensamente durante a Quaresma, mas
aos poucos, seu tema foi sendo refletido e engajado dentro da vida da Igreja
durante todo o ano. É sempre um tema bem concreto através do qual, somos
convidados a reconsiderar e, sobretudo, nossas atitudes para com o próximo,
dando dimensão concreta à nossa conversão pessoal e à de nossas comunidades de
Igreja.
A
Quaresma é o período de 40 dias entre a Quarta-feira de cinzas – logo após o
Carnaval - e a Semana Santa (que se inicia com o Domingo de Ramos). Durante a
Quaresma, a Igreja e todos os cristãos preparam-se para a Páscoa. A Páscoa
possui três interpretações: é a antiga festa de pastores para comemorar a
primavera; é a festa dos Hebreus, para relembrar sua saída do Egito, no tempo
de Moisés; é a festa anual dos Cristãos para celebrar a Ressurreição de Cristo.
É
nesse contexto que inicia a CF, a qual é um projeto que procura animar todas as
comunidades num compromisso pastoral concreto que marque a unidade da
Evangelização pelo empenho comum em prol da solidariedade e fraternidade que
nascem do amor de Cristo. Durante esse período, a liturgia trabalha
paralelamente com a Campanha. Os cantos litúrgicos da missa, as preces e outras
orações são voltados também para o tema que está sendo trabalhado. A CF atinge
cada ano, um problema determinado e urgente que precisa do esforço de ação
pastoral conjunta no país, desafios sociais, econômicos, políticos, culturais e
religiosos da realidade brasileira.
Inicialmente,
a igreja buscou rever sua parte interna, tanto que as primeiras campanhas
tinham por objetivo principal reaproximar os leigos das atividades comunitárias
e pastorais, além de reforçar a vivência na paróquia e na comunidade. Dessa
forma, os primeiros temas da Campanha da Fraternidade contemplaram mais a vida
interna da Igreja. A partir dos anos de 1970 essa postura muda e a Igreja passa
a Igreja preocupa-se com a realidade social da população, denunciando o pecado
social e promovendo a justiça.
ALGUMAS FUNÇÕES DA CAMPANHA DA
FRATERNIDADE (CF):
É
uma campanha quaresmal, que une em si as exigências da conversão, da oração, do
jejum e da doação. Convoca os cristãos a uma maior participação nos sofrimentos
de Cristo como possibilidade de auxílio aos pobres
É
um grande instrumento para desenvolver o espírito quaresmal: conversão,
renovação interior e ação comunitária em preparação da Páscoa.
Meio
para viver os três elementos fundamentais da espiritualidade quaresmal: Oração
– Jejum – esmola
A
CF é especialmente manifestada na evangelização libertadora, clama a renovar a
vida da Igreja, a transformar a sociedade e a partir de temas específicos,
tratados à luz do Projeto de Deus.
FRATERNIDADE E A SUPERAÇÃO DA
VIOLÊNCIA
O
primeiro lugar onde o ser humano aprende a se relacionar é na família. Os comportamentos
e estímulos de superação da violência exercitados na família balizam as
atitudes a serem desenvolvidas na comunidade e na sociedade. Como bem afirma
Humberto Maturana: Não vemos as coisas como são. Vemos as coisas como somos.
Mas
antes de qualquer processo precisamos compreender o que é a violência:
A
violência direta é que chama mais a atenção. Essa forma de violência acontece
quando uma pessoa usa a força contra outra. Mais de um agressor e mais de uma
vítima podem tomar parte em tal evento. Porém, vemos crescer sempre mais as
formas coletivas e organizadas da prática de violência. De acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS), a violência se caracteriza pelo uso
intencional da força contra si mesmo, contra outra pessoa ou contra um grupo de
pessoas. Essa violência pode resultar em dano físico, sexual, psicológico ou
morte. VIOLÊNCIA – é uma construção social e pessoal e não faz parte da
natureza do ser humano.
MOTIVAÇÕES AO TEMA
·
Os índices da violência no Brasil
superam significativamente os números de países que se encontram em guerra ou
que são vítimas frequentes de atentados terroristas.
·
Discípulos missionários, seguidores de
Jesus Cristo! Arautos da fraternidade e da paz, pois em Cristo somos todos
irmãos e irmãs!
·
A experiência de estar exposto a
situações de violência é relatada por um grande número de brasileiros. Não se
trata de uma percepção isolada e meramente subjetiva.
·
A Quaresma é um tempo forte de
penitência e de mudança de vida.
·
Os quarenta dias desse tempo precioso
são de graça e de bênção.
OBJETIVO GERAL: Construir
a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à
luz da Palavra de Deus, como caminho de superação da violência.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1)
Anunciar a Boa-Nova da fraternidade e da paz, estimulando ações concretas que
expressem a conversão e a reconciliação no espírito quaresmal;
2)
Analisar as múltiplas formas de violência, especialmente as provocadas pelo
tráfico de drogas considerando suas causas e consequências na sociedade
brasileira;
3)
Identificar o alcance da violência, nas realidades urbana e rural de nosso
país, propondo caminhos de superação, a partir do diálogo, da misericórdia e da
justiça, em sintonia com o Ensino Social da Igreja;
4)
Valorizar a família e a escola como espaços de convivência fraterna, de
educação para a paz e de testemunho do amor e do perdão;
5)
Identificar, acompanhar e reivindicar políticas públicas para superação da
desigualdade social e da violência;
6)
Estimular as comunidades cristãs, pastorais, associações religiosas e
movimentos eclesiais ao compromisso com ações que levem à superação da
violência;
7)
Apoiar os centros de direitos humanos, comissões de justiça e paz, conselhos
paritários de direitos e organizações da sociedade civil que trabalham para a
superação da violência.
VER
Costuma-se
dizer que o Brasil é um país abençoado. Ressaltam-se a diversidade e a fartura
propiciadas pela natureza generosa. A amenidade do clima motiva a afirmação de
que este é um território agraciado. Em uma nação descrita como ordeira e
pacífica, a alegria e a festividade tornam esse povo ímpar no mundo. Nessa
imagem que por vezes se faz do Brasil, afirma-se que este é um país acolhedor.
Encontramo-nos
em um período da história no qual nos sentimos, às vezes, impotentes na busca
de soluções para os problemas propostos. Em tempos que a paz está ameaçada, é
preciso observar criticamente a realidade com olhar de quem acredita na
superação por meio da fraternidade. A superação da violência se torna, assim,
um sinal do amor que Deus nutre pelo ser humano criado para ser irmão e não
rival. Como cristãos, somos chamados a construir o Reino da verdade e da graça,
da justiça, do amor e da paz, pois somos todos irmãos. Apesar de possuir menos
de 3% da população mundial, nosso país responde por quase 13% dos assassinatos
no planeta. Em 2014, o Brasil chegou ao topo do ranking, considerado o número
absoluto de homicídios. Foram 59.627 mortes, segundo o Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea).
DESAFIOS
Entre
os maiores desafios contemporâneos no campo da segurança pública, em uma
perspectiva de promoção à cidadania, está o de garantir que as políticas
públicas implementadas tenham em vista o aumento da solidariedade entre as pessoas,
ao invés de enclausurá-las, criando-se empecilhos ou mesmo impedindo relações
interpessoais humanizadas. A questão da violência e seu enfrentamento,
tornou-se uma das principais realidades a serem discutidas. Ela tem inspirado
diversas formas de políticas públicas. Entende-se que todas as instituições
sociais devem estar aplicadas à observância dos deveres e direitos que
assistem, de maneira equilibrada e justa, a todos os cidadãos. A violência não
é apenas um problema de polícia ela diz respeito a todos os brasileiros e
brasileiras. Não se resolve a questão da segurança sem ações claras e
determinadas no campo da educação, da saúde, do esporte, da assistência social
e da cultura, entre outros.
A EXPERIÊNCIA COTIDIANA DA
VIOLÊNCIA
Os
números apontados pelo Mapa da Violência 2016 mostram que, no Brasil, cinco
pessoas são mortas por arma de fogo a cada hora. A cada dia, são 123 pessoas
assassinadas dessa forma. No ano de 2014, houve mais de 40 mil mortes. Essas
cifras revelam que, no Brasil, ocorrem mais mortes por arma de fogo do que nas
chacinas e atentados que acontecem em todo o mundo. Nos tempos recentes,
potencializadas pelas tecnologias digitais de comunicação e de informação, as
redes sociais têm contribuído para dar visibilidade à violência expressa sob a
forma de preconceito ou ódio de classe, de raça, de gênero, de política e até
mesmo de intolerância religiosa.
A
cordialidade parece ceder lugar à intolerância. Em razão de fenômenos como
esses, é possível suspeitar que a sociedade brasileira possa estar consolidando
modos de vida cuja referência é fazer justiça com as próprias forças. Três
fatores são fundamentais para definir esses espaços de paz e de guerra. O
primeiro deles é a ação (ou omissão) do poder público. O segundo ponto que demarca
a ocorrência da paz ou da guerra está relacionado ao poder do dinheiro. Um
terceiro ponto diz respeito ao tratamento seletivo dado pelos órgãos públicos,
dos três poderes, em relação à garantia de direitos, como o acesso à Justiça.
A VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL
·
A violência direta é a forma mais
extrema de agressão, mas apenas aparentemente é a mais letal.
·
Não se trata de um evento isolado, mas
de um processo que acaba gerando dano a um segmento social, mesmo que,
eventualmente, não se possa discernir explicitamente a intenção de produzir tal
dano.
·
O incremento da violência é determinado
por múltiplos fatores, dificilmente reduzido a uma causalidade única.
·
Entretanto, não se pode ignorar a
influência do contexto socioeconômico na geração da violência.
·
Os danos causados por esse tipo de
violência só aparecem em longo prazo e se manifestam sobretudo na desigualdade
de oportunidades que as pessoas encontram ao longo da vida.
·
A escolaridade baixa ou insuficiente,
por exemplo, tende a redundar em ocupações com pior remuneração e,
consequentemente, em restrições econômicas.
A CULTURA DA VIOLÊNCIA
·
Por “violência cultural” entendem-se as
condições em razão das quais uma determinada sociedade não reconhece como
violência atos ou situações em que determinadas pessoas são agredidas.
·
A violência cultural não é,
necessariamente, uma causa da violência direta, mas cria as condições em meio
às quais chega a tornar-se difícil, para a sociedade, reconhecer um ato ou
sistema como violento.
·
Faz parte da cultura da violência dizer
que jovens, negros e mulheres sofrem violência quando e porque fazem algo
indevido. A estuprada, por vestir-se de forma “imoral” ou por não se dar o
respeito. O adolescente, por ser drogado, delinquente ou marginal.
·
Na forma como se constroem as relações
sociais no Brasil, entende-se comumente que a desigualdade é algo natural. Sob
esse ponto de vista, tende-se a tratar, sob argumentos diversos, alguns
sujeitos sociais como se fossem naturalmente inferiores: mulheres, jovens,
idosos, trabalhadores, negros, índios, população LGBT (lésbicas, gays,
bissexuais, transexuais, travestis e transgêneros), imigrantes, migrantes.
A VIOLÊNCIA COMO SISTEMA NO BRASIL
·
A violência no Brasil não é um fato
pontual. Desde o período colonial, foi sendo imposto um arranjo social no qual
certas categorias de pessoas recebiam um tratamento melhor do que outras.
·
A ideia de que o colonizador branco era
superior aos índios e negros foi adquirindo formas diferentes, à medida que
mudanças importantes foram acontecendo nas estruturas social e política
nacionais.
·
O Brasil é um país perigoso para quem
atua em favor da igualdade de direitos. O estudo intitulado Vidas em luta:
criminalização e violência contra defensoras e defensores de direitos humanos
no Brasil,
·
O documento atribui o crescimento desse
tipo de violência, no país, ao cenário de instabilidade política, ameaça aos de
direitos, criminalização, esvaziamento político e financeiro de órgãos como o
Incra e a Funai”.
POLÍTICA E VIOLÊNCIA NO BRASIL
O
modo violento de se viver em sociedade no Brasil se dá por causa da escolha de
alguns grupos que, ao tentar manter a atual ordem estabelecida, acaba tornando
alguns modelos fixos e sem alteração, nesse caso é complexo o enfrentamento da
violência, pois prejudica as relações sociopolíticas.
O
termo “política” pode ser entendido como as negociações que se estabelecem para
que pessoas – com interesses tão numerosos e, por vezes, antagônicos – possam
dividir pacificamente um mesmo espaço. Nesse sentido, pode-se dizer que não há
solução para a violência fora das discussões que ocorrem no âmbito da política.
Existem
hoje, no Congresso Nacional, parlamentares identificados com segmentos econômicos
e sociais fortemente interessados em propostas potencialmente geradoras de
violência.
Defendem
o uso de armas de fogo pela população civil, sustentando tratar-se de um
direito natural, o da autopreservação.
O
Papa Francisco tem se posicionado firmemente contra essa cultura do
descartável, “criada pelas potências que controlam as políticas econômicas e
financeiras do mundo globalizado”.
Encorajado
pelo contexto econômico, o governo brasileiro tem encaminhado várias
“reformas”. Boa parte delas tem dado mais importância ao mercado do que às
pessoas.
A
indiferença frente ao sofrimento do povo contribui para a sensação hoje tão
disseminada de que a política é uma atividade de corruptos, já que boa parte
dos políticos aparece mais preocupada com seus objetivos egoístas.
Durante
um tempo que se pode dizer excessivo, a principal (senão a única) forma de
intervenção dos cidadãos na política foi feita por meio do voto. Para a imensa
maioria, participar da política limitou-se ao ato de votar.
Outro
fenômeno que caracteriza a política nos últimos anos é a criminalização dos
movimentos sociais que têm pontos de vista diversos sobre as propostas que vêm
sendo aprovadas e a consequente retração nos direitos dos cidadãos.
A
VIOLÊNCIA RESULTANTE DA DESIGUALDADE ECONÔMICA
Nas
tentativas de se compreender o fenômeno da violência, não parece razoável
omitir o papel desempenhado pelo modo como se dão, hoje, as relações
econômicas. Ao gerar exclusão e perpetuar desigualdades sociais, a economia
produz violência e morte.
Estudos
apontam que apenas 62 pessoas detêm o mesmo dinheiro que a metade mais pobre da
humanidade. Essa desigualdade se torna ainda mais impressionante quando se
considera que os mais ricos correspondem a 1% da humanidade, mas detêm 99% das
riquezas.
A
desigualdade gera violência.
AS VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA NO BRASIL
CONTEMPORÂNEO
VIOLÊNCIA RACIAL
A
violência racial no Brasil é uma situação que faz supor uma forte correlação
entre as três formas de violência (direta, estrutural e cultural).
Nos
últimos anos, têm se repetido os casos em que imigrantes – pessoas que vieram
para o Brasil em busca de oportunidades de uma vida melhor do que aquelas que
poderiam esperar em seu país de origem – vêm sendo tratados com desrespeito e
ódio.
O
Mapa da Violência 2016, ao comparar os anos de 2003 e 2014, constata que houve
uma queda de 26,1% das pessoas brancas que foram vítimas de homicídio por arma
de fogo. No entanto, o número de pessoas negras vitimadas por essa forma de
homicídio cresceu 46,9%.
VIOLÊNCIA CONTRA OS JOVENS
Entre
jovens de 15 a 24 anos, os homicídios são a principal causa de morte.
O
número de homicídios por armas de fogo cresceu 592,8% entre 1980 e 2014. Quando
se consideram apenas as vítimas jovens, constata-se um aumento de 699,5%.
Essa
violação de direitos humanos causa um imenso sofrimento nas famílias que perdem
seus filhos.
VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES E HOMENS
As
vítimas de homicídio são, em maior parte, homens. Porém, entre 2001 e 2011, o
aumento de assassinatos de homens foi de 8,1%, enquanto que os assassinatos de
mulheres cresceram 17,2%.
Ao
contrário do que acontece com os homicídios masculinos, destaca-se o domicílio
da vítima como um local de agressão. Em 2013, das mulheres assassinadas, 27,1%
estavam em casa
Os
assassinatos de homens (48,2%) acontecem, sobretudo, na rua. Esse dado é
utilizado para caracterizar a violência direta contra a mulher como um fenômeno
muito ligado ao ambiente doméstico.
Uma
pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostrou que, em
2015, o país registrou 45.460 casos de estupro.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
A
violência contra a mulher ocorre, principalmente, dentro de casa. 71,8% das
agressões registradas pelo SUS em 2011 aconteceram no domicílio da vítima.
Frequentemente,
o agressor é o parceiro ou ex-parceiro da vítima (43,3%).
Em
particular, a agressão contra a mulher é um dos casos em que parece
explicitar-se o caráter cultural da violência.
Outro
grupo que é vítima de violência dentro de casa é composto pelas crianças e
adolescentes.
A
pobreza é uma das piores formas de violência que uma criança pode enfrentar. Toda
criança necessita de apoio incondicional na primeira infância
EXPLORAÇÃO SEXUAL E TRÁFICO HUMANO
O
tráfico de pessoas é, atualmente, uma das formas mais violentas de exploração
do ser humano no mundo inteiro.
Trata-se
de uma modalidade de crime organizado transnacional, fortemente atrelada à
exploração sexual, ao comércio de órgãos, à adoção ilegal, à pornografia
infantil, cerca de 75% das vítimas de tráfico de pessoas são mulheres e
meninas. A Organização das Nações Unidas considera o tráfico de pessoas como
parte importante do crime organizado transnacional, sendo considerada uma das
três atividades criminosas mais rentáveis, ao lado do tráfico de drogas e de
armas.
VIOLÊNCIA CONTRA OS TRABALHADORES
RURAIS E CONTRA OS POVOS TRADICIONAIS
No
Brasil, a violência no campo tem suas raízes no passado colonial. Além do
genocídio indígena e da tragédia homicida que foi a escravidão, essa violência
e injustiça, que predominou por décadas, vem se intensificando em tempos
recentes.
Tem
se intensificado no campo também a disputa pela água. Permanece o quadro de
omissão dos poderes públicos, que se negam a respeitar e cumprir a Constituição
Federal no que tange à demarcação, proteção e fiscalização das terras
indígenas.
A
Constituição de 1988 reconhece os povos originários e seus diretos. Ao invés de
se caminhar para uma solução que vise à construção da paz no campo pelo
reconhecimento dos diversos povos e identidades que nele vivem, têm sido
priorizadas medidas que beneficiam justamente aqueles que já são social e
economicamente mais favorecidos. Permanece a realidade de agressões às pessoas
que lutam por seus legítimos direitos, tais como assassinatos, espancamentos,
ameaças de morte.
VIOLÊNCIA E NARCOTRÁFICO
O
narcotráfico movimenta mais de 400 bilhões de dólares por ano, sendo um dos
setores mais lucrativos da economia mundial. A guerra às drogas criminaliza o
pequeno varejista e o usuário e favorece os grandes empresários de drogas e o
sistema financeiro internacional.
A
cada ano, cerca de 8 mil pessoas morrem em decorrência do uso de drogas lícitas
e ilícitas no Brasil. A política de repressão às drogas está seletivamente
direcionada aos usuários e microtraficantes.
INEFICIÊNCIA DO APARATO JUDICIAL
Frente
à crescente sensação de insegurança, de percepção do medo e da ameaça real
causados pela violência, os instrumentos estatais de controle e repressão
social vem aumentando em todo o mundo. Com a crescente desconfiança na justiça
e nas polícias, parte dos cidadãos reage violentamente em relação aos dilemas
sociais recusando políticas públicas identificadas com a proteção dos direitos
humanos.
É
muito importante debater sobre o papel do sistema de justiça no enfrentamento,
afastamento e controle da violência. A função judiciária é essencial para toda
a organização política e, portanto, também para a manutenção de sociedade
pacífica.
Um
sistema judiciário moroso e seletivo certamente produz resultados negativos no
sistema de segurança pública. O Brasil tem umas das maiores populações
carcerárias do mundo. São mais de 650 mil presos, vivendo em condições
degradantes. Como apresentado anteriormente, cerca de 40% desses presos estão
confinados em prisões que mais se assemelham a masmorras sem uma sentença
definitiva.
O
papel do Judiciário é importante para as discussões acerca do problema da
violência que assola nosso país, sendo ator político fundamental para a
ampliação de um estado de garantia dos direitos ou de um estado penal.
POLÍTICA E VIOLÊNCA
A
polícia é uma presença que deve ajudar na superação da violência. As frequentes
denúncias de corrupção policial e de práticas ilegais, adotadas supostamente ao
se imporem a lei e a ordem, geram um sentimento ambíguo na população. A
desconfiança em relação às forças policiais se transfere também para o Governo,
cuja instituição se encontra fortemente abalada pelo fato de não haver se
mostrado, ao longo de décadas, capaz de garantir segurança e, ao mesmo tempo,
de fortalecer a cidadania. Na busca de superação da violência, o papel das
polícias seria uma perspectiva para o exercício da democracia e se converteriam
em agências mediadoras de conflitos, responsáveis pela preservação da vida. A
sociedade brasileira carece de uma cultura de participação e de protagonismo na
elaboração de políticas públicas.
A
letalidade das operações policiais (foram 3.320 vítimas apenas no ano de 2015)
se faz acompanhar de um grande número de policiais mortos. Dos 358 policiais
assassinados nesse mesmo ano, 103 morreram em serviço, ao passo que outros 290
policiais foram mortos fora de suas atividades profissionais. Em certa medida,
os policiais se tornam vítimas da violência que combatem.
VIOLÊNCIA E DIREITO À INFORMAÇÃO
Há
que se constatar a atuação militante que a mídia vem adquirindo na política
contemporânea. Os diversos canais da grande mídia cumprem, entre outros, um
papel simbólico na criação do pensamento único. Os meios de comunicação podem
ocultar intencionalmente as contradições sociais ou impedir que os conflitos
venham ao conhecimento geral. O caso mais extremo desse tipo de prática é
representado pelos programas que fazem propaganda aberta em favor da justiça
como vingança social. Programas sensacionalistas prestam um desserviço ao
promoverem a espetacularização da miséria e da violência e ao disseminarem o
punitivismo e a vingança. Transformar a pobreza em mercadoria exposta não
significa, necessariamente, oferecer contribuição alguma para superá-la.
RELIGIÃO E VIOLÊNCIA
A
religião é um elemento de coesão social, que otimiza o capital social das
comunidades. Quando as pessoas se reúnem em comunidade e na identidade de suas
crenças, elas reforçam os laços que as unem e reconhecem-se como irmãos, irmãs
e semelhantes. As religiões têm em comum a promoção da vida, da liberdade, da justiça
e da solidariedade – podem constituir fundamental instrumento para a promoção
de uma cultura da paz e da vida. As religiões podem ser um contraponto positivo
frente à onda de morte que toma conta da sociedade. Contudo, também é possível
que a experiência religiosa também se converta em uma forma de violência. As
religiões de matriz africana são as que mais sofrem perseguição e intolerância.
VIOLÊNCIA
NO TRÂNSITO
Em
2012, quase 41 mil brasileiros perderam a vida nas estradas. As principais
causas da violência no transito são evitáveis. (dirigir sob efeito de álcool ou
de entorpecentes, trafegar em velocidade inadequada, inexperiência na direção,
falta de atenção e de manutenção no veículo). Rodovias estão mal sinalizadas e
muitos motoristas arriscam suas vidas. O Governo Federal tem como objetivo
reduzir em 50% a taxa de mortalidade viária até 2020. A falta de efetivo,
equipamentos e, principalmente, a impunidade fazem com que os números continuem
elevados. Faz-se necessário uma educação persistente em vista da diminuição do
número de acidentes, valendo-se da direção preventiva, respeito aos motoristas,
aos pedestres e às leis de trânsito.
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