6° Ano - II° Bimestre


RELIGIOSIDADE E RELIGIÃO

Religiosidade e religião são palavras com significados diferentes. Religiosidade é a dimensão do ser humano pela qual ele experiência o sentido espiritual e transcendente da vida, este é um entre outros significados desta palavra. Uma pessoa pode não participar de nenhuma religião e ainda assim continuar sendo religiosa, isto porque a religiosidade é inerente ao ser humano, isto significa que ele nasce com esta dimensão.
A religiosidade pode ser desenvolvida de uma forma positiva a partir da educação ou formação do senso ético. Essa educação pode acontecer principalmente na família e na comunidade religioso. Religião é uma palavra que vem do latim “religare” e significa religar, unir de novo ou juntar. Logo, religião significa religação do ser humano consigo mesmo, com os outros, com a natureza, com o sagrado e com o transcendente ou imanente. Pode-se dizer que religião é o encontro do ser humano com o sagrado.
Religião é também a maneira concreta de vivenciar o sentimento religioso por meio das práticas religiosas ou espiritualidades, dos ritos ou cerimônias, símbolos, textos sagrado e normas éticas de conduta.
Muitas religiões contribuem para a humanização das sociedades humanas quando buscam ajudar as pessoas a serem felizes e solidárias umas com as outras, bem como, quando promovem a defesa da vida, do bem comum, da justiça, da paz, da fraternidade e do respeito entre todos os povos.
A religião faz parte da vida de muitas pessoas, sendo um valor importante para elas. Todas as pessoas, não importa a religião que professam, merecem nosso respeito e consideração.

ATIVIDADES
1.      Procure no dicionário o significado destas palavras:
a) dimensão
b) transcendente
c) senso
d) ético
e) comunidade
f) imanente
g) sagrado
h) rito
i) humanização
j) fraternidade
k) professam
2.      Consulte o texto que você leu e faça um paralelo entre os significados das duas palavras:
RELIGIÃO
RELIGIOSIDADE


















3.      Como as religiões podem contribuir para a humanização das sociedades humanas?
4.      Você conhece ou frequenta alguma religião ou igreja? Cite um ensinamento importante desta religião ou igreja que ajuda as pessoas serem mais éticas.


Religiosidade Popular
O povo brasileiro: um povo místico e religioso
Leonardo Boff

O povo brasileiro é espiritual e místico goste ou não goste a intelectualidade secularizada, em geral, sem ou com tênue organicidade com os movimentos populares e sociais.
O povo não passou pela escola dos modernos mestres da suspeita que, em vão, tentaram deslegitimar a religião. Para o povo, Deus não é um problema mas uma solução de seus problemas e o sentido derradeiro de seu viver e de seu morrer. Ele sente Deus acompanhando seus passos, celebra-o nas expressões do cotidiano como “meu Deus”, “graças a Deus”, “Deus lhe pague”, “Deus o acompanhe”, “queira Deus” e “Deus o abençoe”. Geralmente muitos ao desligar o telefone se despedem com “fique com Deus”. Se não tivesse Deus em sua vida, certamente, não teria resistido com tanta fortaleza, humor e sentido de luta aos séculos de ostracismo social.
O cristianismo ajudou a formar a identidade dos brasileiros. No tempo da Colônia e do Império ele entrou pela via da missão (igreja institucional) e da devoção aos santos e santas (cristianismo popular). Modernamente está entrando pela vida da libertação (círculos bíblicos, comunidades de base e pastorais sociais) e pelo carismatismo (encontros de oração e de cura, grandes shows-celebrações dos padres mediáticos).     Fundamentalmente o cristianismo colonial e imperial educou as classes senhoriais sem questionar-lhes o projeto de dominação e domesticou as classes populares para se ajustarem ao lugar que lhes cabia na marginalidade. Por isso a função do cristianismo foi extremamente ambígua mas sempre funcional ao status quo desigual e injusto. Raramente foi profético. No caso da escravidão foi francamente legitimador de uma ordem iniqua.
Somente a partir dos anos 50 do século passado, setores importantes de sua institucionalidade (bispos, padres e religiosos e religiosas, leigos e leigas) começaram um processo de deslocamento de seu lugar social no centro, rumo à periferia onde o povo pobre vivia. Surgiu o discurso da promoção humana integral e da libertação sócio histórica cuja centralidade é ocupada pelos oprimidos que já não aceitam mais sua condição de oprimidos. Pelo fato de serem simultaneamente pobres e religiosos, tiraram de sua religião as inspirações para a resistência e para a libertação rumo a uma sociedade com mais participação popular e mais justiça. Emerge um cristianismo novo, profético, libertador e comprometido com as mudanças necessárias.
Mas a maior criação cultural feita no Brasil é representada pelo cristianismo popular. Colocados à margem do sistema político e religioso, os pobres, indígenas e negros deram corpo a sua experiência espiritual no código da cultura popular que se rege mais pela lógica do inconsciente e do emocional do que do racional e do doutrinário. Elaboraram assim uma rica simbologia, as festas aos seus santos e santas fortes, uma arte colorida e uma música carregada de sentimento associada à nobre tristesse. Ele não significa decadência do cristianismo oficial, mas uma forma diferente, popular e sincrética de expressar o essencial da mensagem cristã.
As religiões afro-brasileiras, o sincretismo urdido de elementos cristãos, afro-brasileiros e indígenas, representam outra criação relevante da cultura popular. Abstraindo de algum fundamentalismo evangélico, o povo em geral não é dogmático, nem obcecado em suas crenças. É tolerante, pois crê que Deus está em todos e todos os caminhos terminam nele. Por isso é multiconfessional e não se envergonha de ter várias pertenças religiosas. A síntese é feita dentro de seu coração em sua espiritualidade profunda.  A partir daí compõe o rico tecido religioso. O antropólogo Roberto da Matta o exprimiu acertadamente: “No caminho para Deus posso juntar muita coisa. Nele, posso ser católico e umbandista, devoto de Ogum e de São Jorge. A linguagem religiosa de nosso pais é, pois, uma linguagem de relação e da ligação. Um idioma que busca o meio-termo, o meio caminho, a possibilidade de salvar todo o mundo e de em todos os locais encontrar alguma coisa boa e digna” (O que faz o Brasil, Rocco, Rio de Janeiro 1984,117).
Especialmente importante é a contribuição civilizatória trazida pelas religiões afro (nagô, candomblé, macumba, umbanda e outras) que aqui a partir de suas próprias matrizes africanas elaboraram rico sincretismo. Cada ser humano pode ser um incorporador eventual da divindade em benefício dos outros. Negados socialmente, desprezados politicamente, perseguidos religiosamente, as religiões afro-brasileiras devolveram autoestima à população negra, ao afirmar que os orixás africanos os enviaram a estas terras para ajudar os necessitados e para impregnar de axé (energia cósmica e sagrada) os ares do Brasil. Apesar de escravos cumpriam uma missão transcendente e de grande significação histórica.
Foram os negros e os indígenas que conferiram e conferem uma marca mística à alma brasileira. Todos se sabem acompanhados pelos santos e santas fortes, pelos orixás pelo Preto Velho (umbanda) e pela mão providente de Deus que não deixa que tudo se perca e se frustre definitivamente. Para tudo há jeito e existe uma saída benfazeja. Por isso há leveza, humor, sentido de festa em todas as manifestações populares.
O futuro religioso do Brasil não será, provavelmente, o seu passado católico. Será, possivelmente, a criação sincrética original de uma nova espiritualidade ecumênica que conviverá com as diferenças (a tradição evangélica em ascenso, o pentecostalismo, o Kardecismo e outras religiões orientais) mas na unidade da mesma percepção do Divino e do Sagrado que impregna o cosmos, a história humana e a vida de cada pessoa.

ATIVIDADE
1-                 Após os estudos sobre religiosidade e com o apoio do texto de Leonardo Boff, pesquise e transcreva em seu caderno a sua aprendizagem sobre tipos de religiosidade popular em nosso brasil, de forma especial em nosso estado.

CONSTRUÇÃO DAS IDEIAS DE DIVINDADE(S) NO TEMPO E NO ESPAÇO
As concepções sobre Deus têm variado ao longo do tempo e do espaço, conforme as diferentes culturas que as adotam. Historicamente é possível encontrar diversificadas definições sobre a divindade, desde tribos ancestrais até os princípios dogmáticos das religiões modernas.
Deus é concebido a maior parte das vezes como o Criador do Universo, Aquele que tudo rege. Na Teologia Ele tem sido definido através de atributos como a onisciência, a onipotência, a onipresença, a suprema bondade, a sagrada modéstia, o sublime desvelo, Ser transcendente, eterno e desprovido de corpo, de quem nasce toda a moral. Tanto judeus quanto cristãos e muçulmanos têm tolerado estes conceitos com maior ou menor intensidade.
Na Idade Média, vários pensadores, como Santo Agostinho e Tomás de Aquino, elaboraram teorias defendendo a existência de Deus, lutando contra ilusórias incoerências inerentes às qualidades atribuídas à Divindade. Ao longo da História as ideias sobre Deus revelaram-se bem diversificadas. Desde o nascimento da Humanidade surgiram as diferentes formas de compreender o Sagrado - como a percepção abraâmica de Deus, também conhecida como monoteísmo do deserto; assim se denominam as religiões provenientes das convenções dos semitas, que têm como ícone a figura do patriarca Abraão, ou seja, o cabalismo judaico, o Islamismo e a trindade defendida pelo Cristianismo.
Outra visão importante de Deus provém dos cultos indianos, que não são homogêneos em sua forma de conceber a Divindade, mas se diferenciam de uma doutrina para a outra, conforme a área da Índia enfocada e a casta em questão, desde as que possuem uma crença monoteísta até as que professam o politeísmo. No Budismo Ele não é percebido do ponto de vista teísta, ou seja, da fé na existência de um único Deus, criador do Universo, pois apesar de postular a realidade de vários deuses, esta religião vê estas entidades tão somente como seres que residem, por algum tempo, em universos divinos que oferecem aos seus habitantes uma intensa felicidade, mas que ao mesmo tempo estão submetidos ao jugo da morte e à ocasional reencarnação em mundos inferiores.
Hoje aparecem novos conceitos sobre Deus, como a Teologia do Processo ou Teologia Neoclássica, segundo a qual esta entidade não pode ser considerada onipotente se isto indicar que Ele deve ser repressor, e a Divindade não seria perfeita se fosse restringida pela presença de determinados atributos, entre outros princípios; e o Teísmo Aberto, teologia que rejeita a onipotência, a onipresença e a onisciência de Deus.
No Ocidente, atualmente, chega-se a autores que defendem a morte de deus, na verdade não do Ser em si, mas do conceito que predomina sobre a Divindade na esfera ocidental, revelando o desencanto do mundo, no sentido da ideia defendida pelo filósofo Max Weber. Isto significa que a ideia sobre o Divino estaria exilada dos distintos círculos da existência humana, tanto do social quanto do pessoal.
Alguns também lançam hipóteses sobre uma origem extraterrena de Deus, na linhagem de escritores como Erich Von Däniken, autor de Eram os Deuses Astronautas, enquanto outros, como o também escritor de ficção científica, Arthur C. Clarke, defendem a possibilidade Dele ser futuramente gerado pelo Homem, como uma espécie de inteligência artificial. Há igualmente estudiosos que consideram as religiões e, portanto, Deus, nada mais do que mitos, frutos do medo da morte e daquilo que não se conhece.
A visão científica condena os dogmas, rejeitando assim as religiões que se baseiam nestes princípios, os quais vão contra as mais recentes descobertas científicas, e assim não atualizam seus postulados, o que gera um inevitável confronto entre a Ciência e a Religião. Até mesmo os que têm fé em Deus hoje questionam determinados ensinamentos dogmáticos transmitidos pelas crenças que neles se fundamentam o que abre um vasto campo para o crescimento do materialismo e do ateísmo declarado. As religiões atingem neste momento um impasse nunca antes vivenciado, pois o desenvolvimento tecnológico invalida, em nossos dias, muitos dos dogmas até agora considerados verdadeiros alicerces das crenças partidárias do dogmatismo.
Os diversos conceitos de divindade:
É necessário ficar claro que o conceito, quando abordado em religião, se refere exclusivamente as crenças; além de do conceito propriamente dito. A religião está muito definida como uma prática universal de se exercer a fé; os dogmas, as crenças e a forma de praticá-la é um apêndice da religião; se sou "pagão" e você cristão, ambos somos religiosos, temos religião, apenas nos diferenciamos na crença que ostentamos.
Tais crenças, eu listarei e abordarei rapidamente, abaixo:
 Monoteísmo: A crença que prevalece na maioria das grandes religiões ocidentais é o monoteísmo, isto é, a convicção de que existe um só deus. Há exemplos em muitas religiões de que o monoteísmo nasceu como reação à adoração de vários deuses. O islã tem suas raízes numa renovação ou reforma da antiga religião dos nômades árabes, a qual possuía numerosos deuses tribais.
 Monolatria: A monolatria é uma crença situada a meio caminho entre o politeísmo e monoteísmo. Implica a adoração de um único deus, sem negar a existência de outros. Um deus escolhido entre vários - por exemplo, na religião germânica se podia escolher entre Thor ou Odin, aquele em que se tivesse total confiança. Aqui a teoria fica em segundo lugar. O importante não é saber se determinado deus existe ou não, mas se ele é cultuado. Existem hoje exemplos de monolatria no hinduísmo.
 Politeísmo: Em religiões que possuem diversos deuses, é comum estes terem funções distintas, bem como esferas definidas de responsabilidade. A criação de animais e pesca, o comércio e os diferentes ofícios, o amor e a guerra, podem ter seus próprios deuses. O mundo dos deuses com frequência é organizado da mesma maneira que o dos homens, numa família ou num Estado.
Alguns pesquisadores acreditam que as divindades indo-européias (gregas, indianas, romanas e germânicas) se estruturaram em três classes baseadas na sociedade da época:
- o monarca (que muitas vezes também eram sacerdotes);
- a aristocracia (os guerreiros);
- os artesãos, agricultores e comerciantes.
Era comum as pessoas venerarem o deus que ocupava o mesmo lugar que elas na escala social.
Geralmente o deus supremo é o deus do céu. Isso não implica que ele habite o céu, mas que se revele no firmamento e nos fenômenos associados à abóbada celeste. Em muitas religiões o deus do céu faz par com uma divindade feminina. A imagem do casal Céu e Mãe Terra é de fácil compreensão para uma sociedade agrária. A terra é fértil e dá o alimento ao homem, mas só depois de receber o sol e chuva do céu. Além dos "deuses-reis", familiares para nós porque se encontram na mitologia clássica e na germânica, há uma grande quantidade de deuses menores e espíritos em volta de nós que são patronos de determinadas doenças ou de certas profissões.
 Panteísmo: O panteísmo é uma crença que difere tanto do monoteísmo como do politeísmo. Aqui a principal convicção é que Deus, ou a força divina, está presente no mundo e permeia tudo o que ele existe. O divino também pode ser experimentado como algo impessoal, como a alma do mundo, ou o sistema do mundo. O panteísmo costuma ser associado ao misticismo, no qual o objetivo do mortal é alcançar a união com o divino.
 Animismo e crenças nos espíritos: Em muitas culturas prevalece a crença de que a natureza é povoada de espíritos. Isso se chama animismo, da palavra latina animus, que significa "alma", "espírito". Em certa época os historiadores da religião pensavam que o animismo havia sido a base  de toda a religião e que mais tarde ele se transformou, via politeísmo, em monoteísmo. Mas essa é apenas uma teoria. O que é certo é que o animismo impera em várias sociedades.
Em nossa própria cultura a noção de espírito está presente em muitas criaturas relacionadas com forças naturais: espíritos das águas, duendes, sereias e até mesmo fantasmas. Os espíritos dos mortos também continuam a desempenhar um importante papel na África, na América Latina, na China e no Japão.
Normalmente as características dos deuses são individualizantes e definidas com mais clareza que as dos espíritos. E as divindades em geral têm nome. Mas em inúmeros casos é difícil distinguir de imediato entre deuses, antepassados e espíritos. Todos são expressões da força sobrenatural que banha a existência. A ideia de uma força ou um poder que regula todos os relacionamentos na vida humana e na natureza predomina, sobretudo nas religiões primais. Os historiadores da religião costumam usar o vocábulo mana para descrever essa força, que precisa ser controlada ou aplacada.

Responda em seu caderno:
1-      Qual a concepção de Deus para a teologia?
2-      Qual a teria apresentada na idade média sobre Deus por Santo Agostinho e Santo Thomas?
3-      Qual a concepção e Deus para o Budismo?
4-       Qual a concepção sobre a divindade nas crenças: Monoteísmo; Monolatria; Politeísmo; Panteísmo e Animismo e crenças nos espíritos?



IDEIAS DE DIVINDADE(S) NOS TEXTOS SAGRADOS ORAIS E ESCRITOS
As tradições religiosas preservam seus ensinamentos e normas através de textos que são considerados sagrados. Atribui-se a eles uma origem divina através de um mensageiro, um iluminado ou um discípulo. Os textos são expressões da relação do humano com o divino. Neles há um forte apelo do Criador e das forças sobrenaturais para que o ser humano torne-se mais justo, compassivo, bom e santo.  O leitor sabe que, ao acolher os ensinamentos dos textos sagrados, pode tornar-se perfeito ou aproximar-se da divindade, dando maior sentido à sua existência.  Os livros sagrados revelam o desejo de transcendência presente nas culturas e povos das mais diferentes regiões do planeta nos diversos períodos da história.
São exemplos de escrituras sagradas: o Bhagavad-Gita do hinduísmo; a Torah do judaísmo; o Tri-Pitakas do budismo; o Novo Testamento do cristianismo e o Alcorão dos muçulmanos. Há muitos textos e saberes sagrados difundidos pelo globo, mas estes são os mais conhecidos e pela maior parte da população mundial.

1.      O BHAGAVAD-GITA dos hindus
É conhecido como Sublime Canção, Canção do Senhor ou a Mensagem do Mestre, que é um dos pilares da literatura sagrada mundial. No livro, Krishna, que viveu na Índia antiga há mais de 5.000 anos, há uma mensagem de amor, fé e esperança. Reverenciado por budistas, hindus e brâmanes é também, por excelência, o livro principal da religião hindu. Sua filosofia é um episódio da antiga epopéia hindu: Mahâbhârata (Maha = grande, Bhârata = Índia), que compreende 250 mil versículos, descrevendo a grande guerra entre os Kurus e os Pândavas. A batalha teve início quando Brishma, comandante dos Kurus, deu o sinal, tocando a sua corneta e logo foi respondido pelos Pandâvas. Arjuna pede então a Krishna no princípio da batalha que deixe parar o carro no meio do espaço entre os dois exércitos e eis que vê de perto seus parentes e amigos, em ambos os lados, fica horrorizado por constatar que se trata de uma guerra fratricida, dizendo a Krishna que preferia morrer sem se defender, a matar seus parentes.
A resposta de Krishna é um comovente discurso filosófico, que forma a maior parte do Bhagavad Gita. Escrito na melhor tradição dos livros sagrados, a luta aqui relatada não é outra que a luta travada no espírito humano do Bem contra o Mal. A supremacia do espírito sobre o egoísmo, paixões e prazeres mundanos. Sua leitura leva a diversos níveis de compreensão de verdades místicas e esotéricas.

2.      O TRI-PITAKAS dos budistas
Do sânscrito significa As Três Seções das Escrituras Budistas e compreendem o Sutra-Pitaka (Sermões), o Vinaya-Pitaka (Preceitos da Fraternidade Budista) e o Abhidarma-Pitaka (Comentários).
Sidarta Gautama, o Buda, nasceu em 556 a.C., no sopé do Himalaia, atual Nepal. Abandonou a vida principesca e se tornou um mendigo em busca da realidade espiritual. Em 521 a.C., à sombra de uma árvore, atingiu a iluminação. Após 45 anos, pregando a sabedoria e a compaixão, entrou no Nirvana ou alcançou a "Grande Morte".
As escrituras budistas foram traduzidas na China no ano 151 d.C., pelo Imperador Huan. Durante 1.700 anos as traduções para o chinês se processaram, alcançando a cifra de 1.440 escrituras contidas em 5.586 volumes. 
Seus ensinamentos referem-se a quatro preceitos fundamentais: (1) procurar boas companhias; (2) entender a lei; (3) fortalecer a mente através da reflexão; (4) praticar a virtude.
Quanto ao comportamento prevê dez mandamentos:
I. Não matar.
II. Não roubar.
III. Não falar mal dos outros.
IV. Não mentir.
V. Não ingerir alimentos antes das horas pré-fixadas e se abster de bebidas alcoólicas.
VI. Não assistir à festas e espetáculos.
VII. Abster-se de perfumes, ungüentos, adornos e grinaldas.
VIII. Não cobiçar nada de ninguém.
IX. Evitar o conforto de leitos macios.
X. Abster-se de receber esmolas em dinheiro.

3. A TORÁ dos judeus.
A Tora (Lei) original foi transmitida por Deus a Moisés, após ter permanecido 40 dias e 40 noites sem comer, dormir ou beber. A Torá foi ensinada ao povo e seu conteúdo foi compilado na íntegra, para que jamais fosse esquecido e permanecesse imutável, mesmo com a morte dos sábios que a transmitiram, de geração a geração.
O rolo da Torá que é aberto e lido na sinagoga, é escrito com uma técnica especial por um sôfer ( escriba) , em pergaminho de couro de animal e tinta à pena. Qualquer letra a mais, a menos, falhada ou apagada, invalida todo o rolo da Torá e sua santidade. Ela deve ser periodicamente revisada
3.1 A precisão do texto
A Torá foi originalmente ditada por Deus a Moisés, letra por letra. O Midraxe nos diz: "Antes de sua morte, Moisés escreveu treze rolos de Torá. Doze foram distribuídos a cada uma das doze Tribos. O 13º foi colocado na Arca da Aliança juntamente com as tábuas". Como eram conferidos os novos rolos? Um autêntico "texto de prova" era sempre mantido no Templo Sagrado em Jerusalém, e os outros rolos podiam ser conferidos baseando-se nele. Após a destruição do Segundo Templo em 70 dC, os sábios faziam conferências periódicas para eliminar qualquer falha.
Quantas letras há na Torá? São 304.805 letras e 79.976 palavras. O meticuloso processo de copiar um rolo à mão leva mais de duas mil horas (trabalho de tempo integral por um ano).
Para eliminar qualquer chance de erro humano, o Talmud enumera mais de vinte fatores relevantes para que um rolo de Torá possa ser considerado apto. Este é o sistema de segurança embutido na Torá. Se faltar algum destes fatores, ela não terá a santidade necessária nem poderá ser usada para leitura em público.
Quando um rolo da Torá fica pronto para ser entregue num estabelecimento, geralmente sinagogas e casas de estudos onde será utilizada para os serviços religiosos, uma grande festa toma lugar. É armada, em honra à Tora, uma chupá, pálio - cobertura de tecido que é usada sob os noivos no dia de seu casamento sob a qual recebem as bênçãos de sua união. Este costume é alusivo ao noivo, Deus, e seu casamento com Sua noiva - Israel. Todos dançam com a Torá com música e alegria.
A leitura da Torá é realizada segundas e quintas-feiras, no Shabat e nas festas judaicas, em Rosh Chôdesh (o primeiro dia do mês) e com jejuns.
Para os judeus Moisés escreveu todos os cinco livros da Torá. As passagens que se referem a ele aparecem na terceira pessoa, pois cada uma de suas palavras foi-lhe ditada por Deus.
A Torá é também denominada pelos seguintes nomes: Leis de Moisés, Chumash ou Pentatêuco. É composta por cinco livros: Bereshit (Gênesis), Shemot (Êxodo), Vayikra (Levítico), Bamidbar (Números) e Devarim (Deuteronômio).

3.2 O Talmud e a Mishná
A Torá oral foi ensinada de boca em boca através das gerações até o século IV d.C., quando então foi demais para o povo lembrar, fez-se anotações em um enorme documento, constituído de muitos volumes, chamado Mishná.
A Mishná foi ensinada nas escolas no decorrer de gerações, acompanhada de uma explicação oral. No século V d.C., tornou-se muito vasta e confusa para as pessoas entenderem, assim, a explicação oral foi escrita em uma coleção que explica melhor a Mishná. É o Talmud (a explicação da Mishná).
Os 63 volumes da Mishná são divididos em seis seções, cada uma sobre uma área diferente da antiga vida judaica: agricultura, dias Festivos, lei civil, relações familiares, sacrifícios no Templo e pureza ritual.
O Talmud define e dá forma ao judaísmo, alicerçando todas as leis e rituais judaicos. Enquanto o Chumash (o Pentateuco, ou os cinco livros de Moisés) apenas alude aos Mandamentos, o Talmud os explica, discute e esclarece.

4. O NOVO TESTAMENTO dos cristãos
Os primeiros manuscritos do Novo Testamento que chegaram até nós são algumas das cartas do Apóstolo Paulo, destinadas a pequenos grupos de pessoas de diversos povoados que acreditavam no Evangelho por ele pregado.
A formação desses grupos marca o início da igreja cristã. As cartas de Paulo eram recebidas e preservadas com todo o cuidado. Não tardou para que esses manuscritos fossem solicitados por outras pessoas. Dessa forma, começaram a ser largamente copiados e as cartas de Paulo passaram a ter grande circulação.
A necessidade de ensinar novos convertidos e o desejo de relatar o testemunho dos primeiros discípulos em relação à vida e aos ensinamentos de Cristo resultaram na escrita dos Evangelhos que, na medida em que as igrejas cresciam e se espalhavam, passaram a ser muito solicitados. Outras cartas, exortações, sermões e manuscritos cristãos similares também começaram a circular.

4.1 OUTROS MANUSCRITOS
Além dos livros que compõem o atual Novo Testamento, havia outros que circularam nos primeiros séculos da era cristã, como as Cartas de Clemente, o Evangelho de Pedro, o Pastor de Hermas, e a Didaché (ou Ensinamento dos Doze Apóstolos). Durante muitos anos, embora os evangelhos e as cartas de Paulo fossem aceitos de forma geral, não foi feita nenhuma tentativa de determinar quais dos muitos manuscritos eram realmente autorizados. Entretanto, gradualmente, o julgamento das igrejas reuniu a coleção das Escrituras que constituíam um relato mais fiel sobre a vida e ensinamentos de Jesus. No Século IV d.C. foi estabelecido entre os concílios das igrejas um acordo comum e o Novo Testamento foi constituído.

5. O ALCORÃO dos muçulmanos
Alcorão é a palavra de Allah (Deus), revelada a Mohammad (Maomé), desde a Surata (capítulo) da Abertura até a Surata dos Humanos, constituindo o texto sagrado dos muçulmanos, da religião islâmica.
O Islam é uma palavra árabe e implica submissão, entrega e obediência voluntária. O Islam significa completa submissão voluntária a Deus, outro significado literal da palavra Islam é Paz, e isto significa que só se pode encontrar a paz física e mental através da submissão e obediência voluntária a Deus.
Origem
Aos quarenta anos de idade, enquanto estava empenhado em um retiro meditativo, o profeta Mohamed recebeu sua primeira revelação de Deus por intermédio do anjo Gabriel. Maomé era analfabeto e precisou ditar aos seus escribas tudo o que lhe fora revelado por Alá. Essa revelação, que prosseguiu por vinte e três anos, é conhecida como Alcorão.Tão logo ele começou a recitar as palavras que ele ouviu de Gabriel, e a pregar a verdade que Deus havia lhe revelado, ele e seu pequeno grupo de seguidores sofreram perseguições amargas, que se tornaram tão violentas no ano de 622 que Deus lhes ordenou que emigrassem. Este evento é a Hégira (migração), na qual eles se mudaram de Meca para a cidade de Medina, cerca de 260 milhas ao norte, marca o início do calendário muçulmano. Depois de muitos anos, o profeta e seus seguidores retornaram a Meca, onde perdoaram seus inimigos e estabeleceram o Islam definitivamente. 
Nenhuma palavra das suas 114 suratas (capítulos) do Alcorão foi mudada no decorrer dos séculos. Diz Deus no Alcorão: ''Eis o Livro que é indubitavelmente a orientação dos tementes a Deus, que crêem no incognoscível, observam a oração e gastam daquilo com o que os agraciamos.’’

          
O Alcorão é a principal fonte da fé e da prática de todo muçulmano. Ele trata de todos os assuntos relacionados com os seres humanos: sabedoria doutrina, rituais e lei, mas o seu tema básico é o relacionamento entre Deus e suas criaturas. Ao mesmo tempo, ele dá orientação para uma sociedade justa, a conduta humana decente e para um eqüitativo sistema econômico.
O Alcorão abrange vários assuntos:
Primeiro - O Alcorão dá o conhecimento de Deus; os seus nomes e atributos, dos anjos, dos Livros por Ele revelados, dos mensageiros por Ele enviados, do dia do juízo final e da predestinação. E mostra as obrigações diante dessa crença.
Segundo - Mostra as regras do bom comportamento, e as virtudes com as quais os homens devem se moldar.
Terceiro - As regras das práticas que organizam a relação dos homens com Deus (orações, paga do Zakat (dízimo), jejum, peregrinação, promessas etc...) e as que regulamentam as relações dos homens entre si, seja individualmente, em grupos ou enquanto nações.
Quarto - As histórias dos povos passados, para que se tire proveito delas, aprendendo com os acertos e com os erros do passado. 
5.1 Outras fontes sagradas
A Suna, o texto que se refere á prática e ao exemplo do Profeta Maomé é a segunda autoridade para os muçulmanos. Exemplos dos Ditos do Profeta Mohamed O Profeta disse: 
"Deus não tem misericórdia daquele que não tem misericórdia dos outros".
"Ninguém de vós crê realmente, antes de desejar a seu irmão o que deseja a si próprio.'' ''Aquele que se alimenta, enquanto o seu vizinho está passando fome, não é crente.''“ O comerciante honesto está associado aos profetas, aos santos e aos mártires.’’

Consideração Final
A humanidade conhece muitas formas de se relacionar com o transcendente. Os textos sagrados são pedras preciosas da história das religiões, pois estão carregados de ensinamentos e preceitos que normatizam a vida humana desde os seus aspectos mais básicos até a regularização da boa convivência social.
As escrituras sacras pretendem estimular o crente a desenvolver sua religiosidade através da adesão fiel ao texto revelado que supõe uma fé explícita. Comparados os escritos há muitas diferenças e por isso pretendem uma singularidade diante de outras relações com o sagrado. É inevitável, entretanto,  perceber em todos os textos o desejo de paz e equilíbrio da pessoa e da sociedade que acolhe os escritos. Oxalá o conhecimento dessas semelhanças aproxime os povos da terra para dissipar as forças do ódio que tem dilacerado a humanidade em todo os tempos. Isso não exige que cada religioso perca sua identidade, mas pressupõe que toda relação com o sagrado seja humanizadora e pretenda uma convivência pacífica.
A Regra de Ouro de todas as religiões é o amor. Este conceito não é abstrato, mas se define na relação com o semelhante: Um mestre judeu escreveu: “O que é odioso a vós, não façais aos outros”. O Buda afirmou: Não firais os outros com o que vos fere “. O Mahabaratha hindu diz:” Eis a súmula de todo dever: não façais aos outros o que, se fosse feito a vós, vos causaria dor “. Mohamad (Maomé) ensina:” Nenhum de vós sois um crente até devotar pelo próximo o amor que devotais a vós mesmos “. E Jesus sentencia:” Tudo aquilo que quereis que os homens vos façam, fazei vós a eles “.
Arrisquemos a viver pelo amor, seguindo os mestres e os escritos das religiões, atingiremos o bem maior: amar para ser amado!

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