7° Ano - II° Bimestre


                                          O que é Religião?

Todos nós conhecemos a máxima de que “religião, futebol e política não se discute”. Porém, os três temas fazem parte de uma grande porção de nossas vidas individuais e coletivas. A religião é, em muitos sentidos, um dos aspectos de maior influência na vida de um indivíduo e, em se tratando do poder de ação de seus fiéis, na vida coletiva. Embora os três assuntos sejam de grande interesse para todos nós, neste texto, dedicar-nos-emos a definir o que é a religião.

Como definir religião?
De tantas formas, as delimitações de nossa convivência em sociedade são definidas a partir de nossa convivência familiar e, posteriormente, com nossa comunidade mais próxima. Dessa forma, certos traços de nossa comunidade são interiorizados em nossa consciência, de forma que nos tornamos capacitados para agir em nosso meio. Isso quer dizer que aprendemos a entender a nossa realidade e dar sentido às nossas ações, de forma que o outro com o qual nos comunicamos nos entenda. Uma das formas que utilizamos para isso são os símbolos, que podem ser definidos por nossas crenças ou já possuírem um sentido construído de forma mais ampla em nossa sociedade.
Mas como isso afeta nossa busca pela definição de religião? Para definirmos o que é uma religião, precisamos antes entender que não podemos partir de noções individuais, predefinidas e tendenciosas sobre a forma como se constrói a crença de um grupo. Assim sendo, não podemos tomar as características do cristianismo, por exemplo, como ponto de comparação sobre o que é ou o que não é uma religião.

O que não é a religião?
Precisamos antes entender que uma religião não está necessariamente ligada a uma crença monoteísta, isto é, a crença na existência de uma única divindade suprema. Além disso, uma religião não está necessariamente interligada a preceitos morais. A ideia de que os deuses estão interessados em definir o modo de comportamento socialmente aceito não existe em várias religiões.
Não devemos também apontar que uma religião está sempre fundamentada sobre um mito de criação do mundo. Embora várias preocuparam-se em construir essa justificativa, não são todas as que estão interessadas nesse aspecto.
Por fim, não podemos definir uma religião apontando a busca pelo sobrenatural (deuses, espíritos, fantasmas, demônios etc.) como uma das características-chave. Existem religiões que se pautam na busca pela harmonia com o mundo e com a convivência imediata e que não estão interessadas em entender o que está além dos nossos sentidos.
Todos esses pontos são levantados por Anthony Guiddens*, sociólogo britânico, em sua breve definição do que não deve ser entendido como característica-chave na definição do que é religião. Entretanto, sua explicação também se ocupa em reunir as formas de definição mais amplamente aceitas.

O que é a religião?
As religiões carregam certos pontos em comum. A primeira delas é que, até onde se sabe, todas as religiões possuem um conjunto de símbolos que remetem ou são alvos de reverência e/ou respeito. Esses símbolos estão ligados a rituais ou cerimônias, dos quais a comunidade de fiéis participa ativamente. Isso quer dizer que, em toda religião, existem objetos ou ideias simbólicas que representam algo a ser reverenciado e admirado. No Budismo, por exemplo, a imagem de Buda, ainda que este não seja visto como uma divindade, é alvo de reverências e admiração.
Quanto aos rituais, eles podem ser diversos e variados, cada um possuindo um significado específico. As rezas, as canções, a abstinência de algum tipo de comida ou o jejum, por exemplo, são rituais que carregam significado atrelado à crença religiosa do grupo. Esses rituais fazem parte da identidade religiosa e da construção da religiosidade dos fiéis.
Para a Sociologia, o caráter social desses rituais é um dos aspectos de maior interesse. As comunidades que se formam em volta das religiões variam em uma série de aspectos. Nas comunidades mais tradicionais, a religião torna-se base para um grande número de manifestações sociais. A arte, a música, a literatura, entre outros, são delimitadas pela tradição religiosa nas comunidades mais intimamente conectadas a ela. A partir disso, tiramos uma perspectiva do tamanho da influência que as religiões possuem na vida de seus fiéis. Por isso, há um cuidado que devemos ter ao trabalharmos com definições de religião, haja vista que não podemos ser tendenciosos se o nosso objetivo é realmente entender esse ou qualquer outro aspecto de nossa sociedade tão diversa.

Atividade
1.      O que é religião?
2.      O que não é a religião?
3.      Como definir religião?




"Para que serve a religião?”
À esta pergunta podem ser dadas diversas respostas, dependendo do olhar que lançamos sobre o fenômeno religioso. O olhar adotado neste texto é o da Sociologia, pois procura compreender o fenômeno religioso nas suas relações com a sociedade na qual ele se dá.
A religião é um fenômeno que expressa as experiências mais profundas de uma pessoa humana com o Transcendente e que não pode ser penetrado no seu âmago por um observador externo. Ao procurarem a religião, as pessoas buscam respostas às suas expectativas, aos seus desejos e às grandes questões colocadas pela sua existência no mundo. Por isso, os elementos pró­prios da religião – símbolos, mitos, ritos e doutrinas –, ao ressoarem na vida dos praticantes, influenciam as suas práticas sociais e interferem na vida da sociedade. É justamente por ter incidência sobre a vida e as práticas sociais que a religião pode ser estudada como um objeto ao lado de outros em qualquer sociedade.

Religião: sentido e identidade cultural
Ao explicar a vida e a morte, o prazer e a dor, a doença e a saúde, a alegria e a tristeza, a religião apresenta às pessoas um quadro referencial que fornece uma determinada visão de mundo, a qual possibilita a elas dar sentido e ordem à confusão e ao caos presentes na existência individual e social. Se a desordem existente na vida individual e social traz angústia, a religião possibilita o enfrentamento das diversas situações recorrendo ao Transcendente, e torna-se, portanto, produtora de sentido para a trajetória humana.
A frase de Ribaldo Tatarana, do Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, ilustra muito bem essa afirmação. Ao dizer que a religião é necessária para “desendoidecer, desdoidar”, ele está apontando para uma das funções sociais da religião: fornecer sentido para a existência individual e coletiva e organizar, do ponto de vista das representações humanas, o mundo e a sociedade onde as pessoas vivem. Ao “desendoidecer, desdoidar”, a religião possibilita às pessoas e aos grupos sociais organizar a realidade de forma ordenada, tanto do ponto de vista pessoal quanto do social.
Outro aspecto da religião é aquele que diz respeito à construção da identidade cultural. A religião possibilita às pessoas e aos grupos sociais construírem a sua identidade ou redescobrirem os elementos que permitem a sua sobrevivência cultural. No “caldeirão” da cultura, ela ganha importância, pois toca nos elementos mais profundos da vida que são expressos nos mitos, nos símbolos e nos ritos. Ela faz isso sacralizando esses elementos e tornando-os intocáveis. Assim, os grupos delimitam aqueles elementos que os diferenciam dos outros grupos.
Apresentar as razões que fundamentam a vida humana e dar sentido a elas, nas várias dimensões, é uma das funções sociais da religião. Ao buscarem nas religiões o sentido ou as razões da existência, as pessoas e os grupos sociais procuram tornar a vida mais agradável no mundo e na sociedade. Dessa forma, exercendo essa função, a religião pode legitimar ou criticar uma determinada forma de organização social e, por isso, favorecer ou contrariar interesses dos diversos grupos sociais.

Manutenção ou contestação
Nesse ponto nos referimos a outras duas funções sociais da religião: legitimação ou crítica, manutenção ou contestação da ordem social existente. A religião pode exercer, em momentos variados, essas funções, pois contém os ingredientes necessários para justificar ou para questionar a vida e que fazem referência aos desejos mais profundos, aos sonhos e às utopias humanas.
No âmbito das Ciências Sociais, seguindo a crítica do racionalismo feita à religião, muitos autores insistiram na função negativa da religião. Para eles, a religião, a priori, tem a função de legitimar e justificar a ordem social existente. Um desses autores, Karl Marx, tentou expressar essa negatividade da religião com uma frase muito conhecida: “A religião é o ópio do povo”. (K. Marx. Contribuición a la crítica de la filosofia del Derecho de Hegel. In: Assmann, H. e Mate, R. Sobre la religion I. Salamanca, Ed. Sigueme, 1975, pág. 94.) Segundo ele, a religião tem a função de alienar as pessoas e os grupos sociais das condições concretas de sua existência, facilitando, dessa forma, a opressão e a violência por parte das classes dominantes. No mesmo texto, porém, o próprio Marx chega a admitir a possibilidade de a religião conter elementos de protesto contra a injustiça: “A miséria religiosa é, por um lado, a expressão da miséria real e, por outro lado, o protesto contra a miséria real”.
A primeira posição de Marx, entendendo a religião numa direção negativa, influenciou a maioria daqueles intelectuais que adotaram os seus pressupostos teóricos. Isso aconteceu porque esses intelectuais se esqueceram de examinar a religião nas suas várias manifestações históricas, fixando-se apenas numa abordagem  generalizante do fenômeno religioso. Segundo essa posição, a religião tem a tarefa de exercer o controle sobre a consciência individual e sobre os vários grupos sociais.
Se examinarmos a história de muitas religiões, encontraremos as duas funções sociais de manutenção e de contestação da ordem social existente. Isso pode ser observado no estudo do judaísmo, em que a religião em diversos momentos foi instrumento de dominação, mas em outros, como no caso da profecia, contestou a ordem social existente. O cristianismo surge a partir da prática profética de Jesus Cristo, criticando profundamente tanto a sociedade como a religião oficial do seu tempo. O próprio cristianismo, sobretudo a partir da submissão da Igreja Cristã ao Estado romano, no século 4°, exerceu a função de manutenção do status quo.
Na história da América Latina, embora o cristianismo tenha exercido, predominantemente, a função negativa, ele alimentou muitos movimentos populares de resistência e de luta contra a dominação colonial. A partir de 1960, diversos setores das igrejas cristãs reagiram de forma profética contra a opressão, recorrendo ao potencial de crítica e de libertação inerente ao cristianismo.
Já na história do Brasil, as religiões indígenas e as afro tiveram um papel fundamental na luta contra a escravidão e pela defesa dos seus valores culturais. A preservação da identidade cultural, em contraposição aos processos de destruição das culturas oprimidas, encontra nas religiões um terreno fecundo.
Esses exemplos levam-nos a olhar a religião de forma mais ampla, procurando compreendê-la nas suas diversas contradições ao longo da História, mas também descobrindo nessas contradições o potencial necessário para construir um mundo no qual as diferenças sejam respeitadas e a paz deixe de ser sonho e poesia para ser o chão onde a vida possa fecundar livremente.

RELIGIÕES DO MUNDO

RELIGIÕES HISTÓRICAS
JUDAISMO
O judaísmo é a mais antiga das quatro religiões monoteístas do mundo e a que tem o menor número de fiéis. Ao todo são cerca de 12 a 15 milhões de seguidores. Segundo analistas, se não houvesse o Holocausto - matança em massa de judeus, ocorrida entre as décadas de 30 e 40 no século 20 -, o número de judeus seria de 25 a 35 milhões em todo o mundo. E muitos deles viveriam na Europa.
Atualmente, a maioria dos judeus vive em Israel e nos Estados Unidos. Na Europa, a maior comunidade judaica encontra-se na França. O judaísmo não é uma religião missionária, à procura de converter pessoas. Aqueles que se convertem, no entanto, devem observar os preceitos da Torá (a lei judaica), que incluem, entre outras coisas, a circuncisão masculina.
Origens
O começo do judaísmo como uma religião estruturada acontece com a transformação dos judeus em um povo influente através de reis como Saúl, Davi e Salomão, que construiu o primeiro templo em Jerusalém. Mas em cerca de 920 a.C, o reino de Israel se dissolve, e os judeus começam a se dividir em grupos. Essa foi a época chamada de Era dos Profetas. Em cerca de 600 a.C, o templo é destruído e a liderança israelita assassinada.
Vários judeus foram enviados para a Babilônia. Apesar de alguns serem autorizados a retornar a casa, muitos permaneceram no exílio formando aí a primeira Diáspora, que significa ¿viver afastado de Israel".
Os pilares da fé
Segundo os judeus, existe somente um Deus, todo-poderoso que criou o universo e tudo o que nele há. Os judeus acreditam que Deus tenha uma relação especial com o seu povo, consolidada no pacto que fez com Moisés no Monte Sinai, 3,5 mil anos atrás.
O local de culto dos judeus é a sinagoga. O líder religioso de uma comunidade judaica é chamado de rabino. Ao contrário de líderes de outros credos religiosos, o rabino não é um sacerdote e não goza de status religioso especial.

O dia da semana sagrado para os judeus é o sábado, ou sabat, que começa com o pôr do sol na sexta-feira e termina com o pôr do sol no sábado. Durante esse dia, judeus ortodoxos tradicionais não fazem nada que possa ser considerado trabalho. Entre as atividades proibidas estão dirigir e cozinhar.
Fundamentos da Fé Judaica
Analistas definem a essência de ser judeu como participar de uma comunidade judaica e viver de acordo com as tradições e leis judaicas. O judaísmo é um modo de vida fortemente associado a um sistema de fé e convicções religiosas.
O judaísmo surgiu em Israel há cerca de 4 mil anos. Tanto o cristianismo como o islamismo - até certo ponto - derivam do judaísmo. O judaísmo não estabelece doutrinas ou credos, mas é uma religião que segue a torá, interpretado como a orientação de Deus através das escrituras.
Os judeus vivem sob um pacto com Deus, segundo eles, não para benefício próprio, mas para o benefício de todo o mundo. O grande estudioso do judaísmo Hillel (que viveu entre 70 a.C e 10d.C) resumiu assim o significado da religião: "Não faça a seu próximo aquilo que não gostaria que fosse feito a você. Esse é o centro da lei judaica, o resto são meras observações".
Judeus e fé
Os judeus acreditam que os seres humanos foram feitos à semelhança de Deus. Obedecer a "lei" é fazer a vontade de Deus e demonstrar respeito e amor por Deus. É por isso que judeus religiosos seguem certas práticas espirituais sem precisar de razões extra-religiosas para obedecer as regras.
Um exemplo para isso seria a obediência às leis gastronômicas do costume judaico. Todos os judeus têm uma forte ligação com Israel, que seria a terra prometida por Deus a Abraão, e à cidade considerada sagrada de Jerusalém.
Livros sagrados
A Torá, ou a Bíblia hebraica que é chamada pelos cristãos de Velho Testamento, reúne especialmente os cinco primeiros livros da Bíblia cuja autoria é atribuída a Moisés, o chamado Pentateuco. Pelo menos uma cópia da Torá, em hebraico, é guardada em cada sinagoga em forma de pergaminho. O Talmud, um compêndio da lei e comentários sobre a Torá aplicando a situações contemporâneas e circunstâncias variadas.
O símbolo do judaísmo é o magen chamado de estrela de Davi. Muitas pessoas se consideram judias sem tomar parte em nenhuma das práticas religiosas ou até mesmo sem aceitar os fundamentos do judaísmo, mas somente pelo fato de se identificarem com o povo judeu e por seguirem os costumes gerais de um estilo de vida judaico.
Festivais
No judaísmo, o chanuká, o festival das luzes, é comemorado com a preparação de tradicionais bolos de batata e muitas velas acesas. O chanuká é interpretado hoje em dia como um símbolo da sobrevivência do povo judeu. Panquecas de batatas, Latkes, um dos pratos preferidos para o Chanuká.
Em países cristãos onde o Natal é a festa mais importante no fim de ano, o chanuká tornou-se uma espécie de equivalente judaico. É comum presentear as crianças nessa época.
Deus e o Messias
Os judeus acreditam na existência de somente um Deus que criou o universo e continua responsável pela sua manutenção. Segundo o judaísmo, Deus sempre existiu e sempre vai existir. Ele não pode ser visto ou tocado.
Entretanto, Deus pode ser conhecido através do louvor e se pode chegar mais perto de Deus através de estudos e a prática da fé. Deus separou os judeus como povo escolhido para servirem de exemplo para o resto da humanidade.
Deus deu a torá aos judeus como uma guia para obediência e uma vida santa que Ele quer que os judeus tenham. Os judeus acreditam que "o Messias", que é uma pessoa especialmente ungida por Deus, (o que significa particularmente enviada) um dia virá ao mundo. A chegada do Messias vai trazer consigo uma era de paz.
Definição de Deus
Para o judaísmo, Deus existe e é somente um. Ele não pode ser dividido em diferentes pessoas, como se crê no cristianismo. Entre os outros princípios dos judeus em relação a Deus, estão:
- Judeus devem adorar somente um Deus e não outros deuses.
- Deus é transcendental, está acima de qualquer coisa.
- Deus não tem um corpo, ou seja não é masculino, nem feminino.
- Ele criou o universo sem ajuda.
- Deus é onipresente e onipotente.
- Deus é atemporal. Sempre existiu e sempre vai existir.
- Deus é justo, mas também é misericordioso.
- Ele é um Deus pessoal e acessível. Deus se interessa por cada um individualmente, ouve a todos individualmente e fala com as pessoas das mais diferentes e surpreendentes formas.

CRISTIANISMO
Muitas doutrinas cristãs diferenciadas entre si surgiram desde as primitivas comunidades cristãs. A origem destas comunidades deu-se em plena expansão do Império Romano. Como o Imperador romano era também a figura religiosa máxima do Império, quaisquer seitas eram prejudiciais ao seu poder absoluto. Desta forma, as comunidades cristãs deste período foram perseguidas. No entanto, mais tarde, o Império Romano adotaria as crenças cristãs como sua religião oficial, ocorrendo assim a fundação da Igreja de Roma. A partir desta, originaram-se as diversas doutrinas cristãs.
Com a excomunhão do Patriarca de Constantinopla pelo Papa, em 1054, gerou-se um cisma e, como consequência, a fundação de uma outra doutrina, a Igreja Ortodoxa, cuja concentração de fiéis localiza-se mais ao leste europeu e porções centrais ao longo do continente asiático. Por outro lado, séculos mais tarde, a Reforma, desencadeada por Martinho Lutero, foi um movimento de contestação aos preceitos religiosos e à própria organização clerical católica. Assim, surgiram diversas doutrinas, sob a ordem do protestantismo. Ao longo dos tempos, foram várias as religiões originadas a partir desta ramificação (Igreja Luterana, Igreja Metodista, Igreja Presbiteriana, Igreja Anglicana etc.).
  O marco fundamental da origem do cristianismo refere-se ao nascimento de Jesus Cristo. Uma série de feitos miraculosos são vinculados à figura de Jesus. Neste período, a disseminação da religião pelas camadas mais populares deveu-se à dedicação nas pregações realizadas pelos doze apóstolos de Cristo (André, Bartolomeu, Felipe, Tiago, Tiago filho de Alfeu, João, Judas Iscariotes, Judas Tadeu, Mateus, Pedro, Tadeu e Tomás). Mas a grande expansão cristã deu-se, séculos mais tarde, com a própria expansão colonial dos povos cristãos europeus colonizadores, que levaram a fé cristã para além-mar, no período das Cruzadas. No Brasil, a fé cristã foi trazida inicialmente pelos primeiros catequizadores da Companhia de Jesus.

O calendário internacional toma o nascimento de Jesus Cristo como marco referencial para a contagem dos anos. As datas cristãs comemoradas são o Natal (nascimento de Jesus Cristo), o Dia de Reis, a Quaresma e a Páscoa. A Ascensão e os Pentecostes também constituem datas comemorativas, embora sejam mais difundidas apenas entre os seguidores de algumas das doutrinas originadas do Cristianismo.
A Bíblia Sagrada, constituindo a obra central para o Cristianismo como um todo, encerra as ideias fundamentais da crença. O Cristianismo baseia-se na crença monoteísta, ao contrário das crenças contemporâneas à sua origem. Segundo a religião, Deus é o criador de todas as coisas no Universo, tendo criado o mundo em sete dias (Gênese). As religiões cristãs preconizam o amor a Deus e ao próximo, conforme os ensinamentos de Jesus. Acredita-se na ressurreição de Cristo e é estabelecido o conceito da Santa Trindade, em que Deus é o pai, Jesus Cristo o filho, e o Espírito Santo a presença contínua de Deus na Terra.

ISLAMISMO
A religião islâmica e o profeta Maomé
O homem responsável pela mudança da vida do mundo árabe foi o Profeta Maomé (570 - 632 d.C.) Ao fundar o islamismo, Maomé ajudou a fundar e moldar uma nova sociedade, com crenças e costumes que serviriam para unir povos de diferentes origens. Tendo suas origens na Arábia, onde viveu e pregou o Profeta Maomé, seu fundador, o islamismo está intimamente relacionado à cultura árabe. O Corão ou Alcorão - livro sagrado dos muçulmanos, que de acordo com o islamismo foi revelado por Deus ao seu profeta Maomé - está escrito em árabe. Até hoje, o elemento árabe é muito importante no Islã, embora atualmente só uma minoria de muçulmanos é árabe, já que o islamismo está amplamente difundido em várias regiões da África e da Ásia.
Maomé, o Profeta, acreditava ser instrumento de Deus, enviado aos árabes para ensinar-lhes o caminho da salvação. Maomé atacou com veemência o politeísmo dos árabes, pois acreditava num só Deus, Criador e Juiz. Estava convencido de que havia sido escolhido como profeta para trazer aos árabes uma nova religião, que passou a ser chamada de Islã ou islamismo. A palavra significa "submissão", já que em árabe significa "render-se a Alá" (Alá é a palavra árabe para Deus). Os seguidores do islamismo eram chamados de muçulmanos, isto é, "aqueles que se submetiam a Deus".

Entre os ensinamentos que o profeta transmitiu aos seus seguidores está um rígido código moral e ético, que inclui alertas e proibições. Entre as principais proibições estão: a ganância e a desonestidade nos negócios, os jogos de azar, bebidas alcoólicas e o consumo de certos alimentos proibidos, assim como casamentos com não-muçulmanos.
Maomé é o principal profeta do Islã e esta ideia está resumida em sua declaração de fé: "Não há Deus senão Alá e Maomé é seu Profeta". A religião islâmica considera Moisés e todos os outros profetas hebreus, bem como Jesus, como "mensageiros da palavra Divina". Mas afirmam que Maomé foi o último e o maior de todos os profetas. Acreditam que o islamismo é uma continuação dos ensinamentos judaicos e cristãos. Originalmente Maomé se considerava parte da comunidade judaico cristã, mas aos poucos foi-se distanciando dessa ideia. Apesar de sua absoluta centralidade como profeta, em nenhuma circunstância a religião islâmica cultua a figura de Maomé.
Corão ou Alcorão
O Alcorão é o livro sagrado da religião islâmica e a palavra quer dizer "recitação".
Segundo a tradição muçulmana, o Alcorão é a Palavra de Deus: uma série de revelações de Alá (Deus) a Maomé, seu Profeta. Portanto, é o centro da vida religiosa islâmica, comparável à Torá dos judeus ou ao Novo Testamento cristão. Ainda segundo a religião islâmica, são Revelações Divinas que não devem ser questionadas nem modificadas, sendo proibida até mesmo a sua tradução.
Os muçulmanos têm cinco obrigações religiosas básicas chamadas de "os cinco pilares do Islã": são cinco obrigações (arkan) que constroem a fé e cuja realização é dever de todo muçulmano.
Credo (chahada) -Aceitar e repetir todos os dias: "Não há outro Deus a não ser Deus e Maomé é o seu profeta".
Oração (salat ) -Realizar cinco orações diárias, em horários predeterminados,com o rosto voltado para Meca.
Caridade (zacat) -Os muçulmanos devem ser generosos com os mais necessitados.
Jejum (saum) -Durante os 40 dias do mês do Ramadã, o nono mês do calendário islâmico, é obrigado jejuar do nascer do sol até o pôr do sol.
Peregrinação a Meca (haj) - Ao menos uma vez na vida, todo muçulmano adulto que dispõe de meios de realizar uma peregrinação a Meca, deve fazê-lo.

HINDUISMO
Principal religião da Índia, o Hinduísmo é um tipo de união de crenças com estilos de vida. Sua cultura religiosa é a união de tradições étnicas. Atualmente é a terceira maior religião do mundo em número de seguidores. Tem origem em aproximadamente 3.000 a.C na antiga cultura Védica.
O Hinduísmo da forma que o conhecemos hoje é a união de diferentes manifestações culturais e religiosas. Além da Índia, tem um grande número de seguidores em países como, por exemplo, Nepal, Bangladesh, Paquistão, Sri Lanka e Indonésia.
Crenças principais
Aqueles que seguem o Hinduísmo devem respeitar as coisas antigas e a tradição; acreditar nos livros sagrados; crer nas divindades; persistir no sistema das castas (determina o status de cada pessoa na sociedade); ter conhecimento da importância dos ritos; confiar nos guias espirituais e, ainda, acreditar na existência de encarnações anteriores.
O nascimento de uma pessoa dentro de uma casta é resultado do karma produzido em vidas passadas. Somente os brâmanes, pertencentes as castas "superiores" podem realizar os rituais religiosos hindus e assumir posições de autoridade dentro dos templos.
Divindades do Hinduísmo
Os hindus são politeístas (acreditam em vários deuses). São os principais: Brahma (representa a força criadora do Universo); Ganesha (deus da sabedoria e sorte); Matsya (aquele que salvou a espécie humana da destruição); Sarasvati (deusa das artes e da música); Shiva (deus supremo, criador da Ioga), Vishnu (responsável pela manutenção do Universo).



RELIGIÕES DO ORIENTE

BUDISMO
O budismo não é só uma religião, mas também um sistema ético e filosófico, originário da região da Índia. Foi criado por Sidarta Gautama (563? - 483 a.C.?), também conhecido como Buda. Este criou o budismo por volta do século VI a.C. Ele é considerado pelos seguidores da religião como sendo um guia espiritual e não um deus. Desta forma, os seguidores podem seguir normalmente outras religiões e não apenas o budismo.
O início do budismo está ligado ao hinduísmo, religião na qual Buda é considerado a encarnação ou avatar de Vishnu. Esta religião teve seu crescimento interrompido na Índia a partir do século VII, com o avanço do islamismo e com a formação do grande império árabe. Mesmo assim, os ensinamentos cresceram e se espalharam pela Ásia. Em cada cultura foi adaptado, ganhando características próprias em cada região.
Os ensinamentos, a filosofia e os princípios
Os ensinamentos do budismo têm como estrutura a ideia de que o ser humano está condenado a reencarnar infinitamente após a morte e passar sempre pelos sofrimentos do mundo material. O que a pessoa fez durante a vida será considerado na próxima vida e assim sucessivamente. Esta ideia é conhecida como carma. Ao enfrentar os sofrimentos da vida, o espírito pode atingir o estado de nirvana (pureza espiritual) e chegar ao fim das reencarnações.
Para os seguidores, ocorre também a reencarnação em animais. Desta forma, muitos seguidores adotam uma dieta vegetariana.
A filosofia é baseada em verdades: a existência está relacionada a dor, a origem da dor é a falta de conhecimentos e os desejos materiais. Portanto, para superar a dor deve-se antes livrar-se da dor e da ignorância. Para livrar-se da dor, o homem tem oito caminhos a percorrer: compreensão correta, pensamento correto, palavra, ação, modo de vida, esforço, atenção e meditação. De todos os caminhos apresentados, a meditação é considerado o mais importante para atingir o estado de nirvana.
A filosofia budista também define cinco comportamentos morais a seguir:  não maltratar os seres vivos, pois eles são reencarnações do espírito, não roubar, ter uma conduta sexual respeitosa, não mentir, não caluniar ou difamar, evitar qualquer tipo de drogas ou estimulantes.  Seguindo estes preceitos básicos, o ser humano conseguirá evoluir e melhorará o carma de uma vida seguinte.

CONFUNCIONISMO
O Confucionismo é a ideologia religiosa e sociopolítica de Koung Fou Tseu, que tem seu nome grafado em língua latina como Confúcio. Entre os princípios do Confucionismo, o principal é conhecido pelos povos orientais como junchaio, que são considerados os ensinamentos dos sábios. Este princípio é o que define o Tao (caminho superior), uma maneira de ter uma vida equilibrada, satisfazendo as vontades do céu e da terra.
Além de filósofo, Confúcio também foi um mantra para seu povo. Nele, as pessoas buscavam um modelo de comportamento e respostas para seus anseios. A filosofia do pensador chinês fazia uma fusão com outros cultos religiosos da antiguidade chinesa, inclusive os que lidam com deuses e imortais, fazendo nascer uma forma de sincretismo de religiões.
A doutrina do Confucionismo durou na China aproximadamente dois mil anos, indo do século II ao século XX com milhões de adeptos. Além da forte presença na China a religião de Confúcio também tem diversos adeptos no Japão, Cingapura e Coréia do Sul.
As ideias pregadas no Confucionismo são bastante diferentes das encontradas nas religiões tradicionais do Ocidente. Na filosofia de Confúcio não há um Deus, uma unidade criadora e muito menos templos ou igrejas.
Sua doutrina fundamenta-se na busca pelo Tao, a harmonia da vida e do mundo. Para atingir o Tao, o Confucionismo coloca a família como base de uma sociedade em que todos os seres humanos vivem em harmonia. Esta família começa nos governantes, que devem amar o povo como verdadeiros pais, e termina nos súditos, que tem o dever de ser obedientes e humildes como filhos.
Outra das características presentes no Confucionismo é o culto aos antepassados. Para Confúcio, os seres humanos são formados por quatro dimensões:
O Eu
A Comunidade
A Natureza
O Céu
Além disso, prega que os seres humanos tem que possuir cinco virtudes essenciais que são:
Amar o próximo
Ser justo
Ter comportamento adequado
Ter consciência da vontade dos céus
Cultivar a sabedoria e a sinceridade
Compiladas em cinco obras, as ideias de Confúcio e suas doutrinas podem ser encontradas nos livros que são denominados Os Cinco Clássicos: Shu Ching; Shih Ching; Li Ching; Chun-Chiu e o I Ching.
Entre os diversos ritos tradicionais do confucionismo estão reverência e culto aos antepassados e oferendas aos mortos. Na parte da família, o casamento é valorizado como uma forma de continuação da tradição.

XINTOISMO
O Xintoísmo é a única religião que pode ser considerada genuinamente japonesa, tendo origens mesclando-se com a do próprio povo japonês. Há dois milênios percebe-se sua predominância no misticismo do país. A denominação adaptada do chinês xin-tao, que significa "via dos deuses", só foi aceita por volta do século XI, embora muitos utilizem o termo  kami-no-michi, com a mesma significação.
Ao contrário do Budismo, de origem indiana e influência chinesa, o Xintoísmo é dominante apenas no Japão, embora sua prática não exija o abandono ou recusa de outras formas de manifestação de crença religiosa. Não se trata de uma crença exclusivista, pois convive pacificamente e até complementa-se com outras religiões.
Muitos estudiosos nem consideram o Xintoísmo uma religião, devido ao fato de não terem sido criados códigos de leis explícitas, filosofia escrita e definida, profetas ou um livro sagrado, que contivesse os dogmas para quem a segue. Entretanto, a forma ostensiva com que o xintoísmo comanda a vida de seus praticantes, é perceptível não só em seus rituais, mas nos demais aspectos da vida, o que garante a posição de uma das grandes religiões do mundo.
Sua base é de origem panteísta, com inúmeras divindades, as quais atribuem valor sagrado a todos os elementos da natureza. Em sua concepção, tudo no universo é divino, interligado e interdependente. Assim, não só os seres vivos, mas  todos os elementos, visíveis e invisíveis da natureza, coexistem em harmonia tendo se originado da mesma fonte.
O Xintoísmo diz que tudo é regido por forças de pureza hare, impureza ke, e a fusão de ambos kegare, formando uma das mais importantes características de seus rituais, a purificação de corpo e da alma, assim como a harmonia com a natureza. O praticante se familiariza e se integra à natureza, num relacionamento de intimidade, de reciprocidade, sabendo que dela ele tira seu sustento e, portanto, deve retribuir de alguma forma. Assim, sua sobrevivência depende do seu entendimento de toda a estrutura vital da natureza, considerando-a uma parceira e uma guia.
Contrária à visão ocidental de que o homem é adversário da natureza, tentando dominá-la e subjugá-la, na concepção Xintoísta considera-se que o ser humano não pode viver em luta com a natureza, o que é interessante perceber, considerando as condições geográficas e climáticas do Japão que são, sem dúvida, uma das mais implacáveis do mundo, com vulcões ativos, intensos terremotos e furacões arrasadores.
Ao estudar o Xintoísmo, tem-se um bom entendimento da cultura japonesa, com sua visão de mundo que determina boa parte do comportamento do seu povo, sua capacidade de adaptação e aceitação de novas ideias, preservando as antigas, sua recepção a novas culturas, seu comportamento valorizador da higiene e da saúde e seu nacionalismo sempre presente.
Mesmo mesclando-se com outras religiões e com vários desdobramentos, o Xintoísmo deixa uma herança que, com certeza, auxilia a receptividade do povo nipônico, fazendo com que o exclusivismo, principalmente no campo religioso, seja anulado ou ao menos, pouco praticado no Japão.

TAOISMO
Recebe o nome de Taoísmo o conjunto de ensinamentos e práticas religiosas praticadas em diversos pontos do extremo oriente.
Culto filosófico-religioso, o taoísmo surge das antigas crenças panteísticas e crenças xamânicas chinesas, arregimentadas em uma forma de filosofia mística pelo filósofo e alquimista Lao Zi há cerca de 2500 anos na China, no chamado período dos "estados guerreiros", sendo que a verdadeira organização do taoísmo como religião convencional vai aparecer somente por volta do século V.
O documento fundamental desta filosofia-religião é o Dao De Jing, escrito na forma de uma série de pequenos sonetos, ou poemas, por assim dizer, e que refletem sobre o caminho para a humanidade eliminar o conflito e o sofrimento. A expressão "dao", em chinês significa “caminho”, indicando que o ser humano em sua vida pode seguir vários caminhos, e em meio a tal variedade de escolhas, este deve optar por viver em harmonia com a natureza por meio deste mesmo dao, um conceito de uma grande harmonia cósmica, de onde acredita-se que uma força natural liga todas as coisas em nosso mundo. A partir deste entendimento, surge a conclusão, popular entre os seguidores do taoísmo de que o desejo humano "prende" o espírito, impedindo-o de seguir livremente o verdadeiro caminho. Para isso, então, o ser humano deve gradualmente aprender a se libertar de seus próprios desejos terrenos a fim de conhecer a si próprio e obter paz e serenidade em seu espírito, e em um plano maior, a imortalidade.
Originalmente uma espécie de filosofia, mais ou menos como a entendemos hoje, o taoísmo vai aos poucos se misturando às crenças tradicionais chinesas existentes, e por volta do século V já terá incorporado dentro de seus ensinamentos um panteão. Os deuses taoístas são figuras históricas que demonstraram poderes excepcionais em vida, como por exemplo, o Imperador Jade (supremo soberano das divindades chinesas), Cai Shen (deus da prosperidade), Guan Yu (senhor da honra e da piedade), além do próprio Lao Zi, alvo de culto pelos crentes.
Com a posterior criação do confucionismo e da vinda do budismo, o taoísmo perde de alguma forma a sua popularidade, muito devido aos traços enigmáticos de seu maior documento, o Dao de Jing. A partir daí, passa a ser, de certa forma, a terceira religião em importância no país. Mas, gradualmente, os chineses irão recorrer às très religiões quando necessário para suprir as suas questões de fé. Isso faz com que popularmente o chinês médio cultue os três sistemas ao mesmo tempo, voltando-se para um ou outro quando acha necessário.

RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA
As religiões de matriz africana foram incorporadas a cultura brasileira desde há muito, quando os/as primeiros/as escravizados/as desembarcaram no país e encontraram em sua religiosidade uma forma de preservar suas tradições, idiomas, conhecimentos e valores trazidos da África.
E assim como tudo que fazia parte deste universo, tais religiões – apesar de sua influência e importância na construção da cultura nacional – também foram perseguidas e, em determinados momentos históricos, até proibidas. Atualmente, os ataques mais expressivos às religiões de matriz africana vêm das chamadas religiões ‘neopentecostais’, que comumente as rotulam de ‘culto aos demônios’, ‘crendices’ e ‘feitiçarias’.
Toda essa ignorância com relação a essas culturas gera um ambiente propício para intolerância, proporcionando sofrimento aos praticantes e a todos/as aqueles/as que fazem parte da população negra, que tem os seu direito de pertença e identidade racial muitas vezes negado em função do racismo.
A ministra religiosa e Iyalorisá, Carmen Prisco, defende que para combater o racismo e a intolerância religiosa o governo brasileiro precisa reconhecer a contribuição dos africanos na construção da alma brasileira e tombar o candomblé como Patrimônio Cultural Intangível da Humanidade.
O Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade é uma distinção criada em 1997 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura para a proteção e o reconhecimento do patrimônio cultural imaterial, abrangendo as expressões culturais e as tradições que um grupo de indivíduos preserva em respeito da sua ancestralidade, para as gerações futuras.
“O candomblé representa o espaço onde a cultura dos escravizados que vieram para o Brasil está guardada, está sendo preservada e transmitida. Se as leis municipais continuarem fechando terreiros, não reconhecendo o lugar do sagrado que o nosso culto possui, em 50 anos não teremos mais candomblé e as pessoas não vão nem saber da história dos escravizados no Brasil”, destaca Carmen.
Para ela é função dos/as educadores/as levar estes conhecimentos para a sala de aula e contribuir para perpetuação dos valores civilizatórios de tradição africana. Ela inicia esse resgate histórico distiguindo a origem e história dos ancestrais africanos que vieram na diáspora.
Os Bantus eram o grupo mais numeroso, dividiam-se em angola-congoleses e moçambiques. Sua origem estava ligada ao que hoje representa Angola, Zaire e Moçambique, os principais destinos deste grupo eram Maranhão, Pará, Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro e São Paulo. Eles foram os primeiros a chegarem no Brasil e a fundarem com os indígenas o candomblé de cabloco, primeira manifestação religiosa com origem africana do país.
Já os Iorubas ou Nagôs-Sudaneses eram formados  por: iorubas, jejes e fanti-ashantis, trazidos do sudoeste do continente africano, do que hoje é representado pela Nigéria, Daomei e Costa do Ouro, seu destino geralmente era a Bahia. Entre eles tinham os mulçumanos, que de acordo com Carmen, eram os não-escravizados e também muitos guerreiros, que em sua maioria foram para os engenhos de cana-de-açúcar. No final da Diáspora, aqui chegaram os Fon, cuja maior expressão histórica, política e social se expressou no Benin, através do Reino do Dahomey.
Carmen chama a atenção para como, mesmo falando línguas diferentes e cultuando seus próprios deuses, esses povos reiventaram suas origens, uniram-se e pela fusão de suas culturas construíram a nossa religiosidade e conhecimento. Ela destaca algumas manifestações que tiveram origem nesta ‘colagem’:
Batuque‎ – sediado no Rio Grande do Sul, se estendeu para países vizinhos como Uruguai e Argentina. É fruto de religiões dos povos da Costa da Guiné e da Nigéria, como as nações Jeje, Ijexá, Oyó, Cabinda e Nagô.
Candomblé‎ – Do Calundu colonial da Bahia surgem os primeiros terreiros de candomblé e com eles a organização politico-social-religiosa. Neste ponto, as irmandades não podem ser esquecidas. Elas têm como origem a mistura proveniente da cultura dos escravizados com o catolicismo. A mais antiga é a Irmandade da Boa Morte, que no terreiro da Casa Branca fundou os alicerces para que as demais casas de candomblé pudessem ser criadas e posteriormente, se espalharem pelo Brasil.
Cabula – é o nome pelo qual foi chamada, na Bahia, uma seita surgida no final do século XIX, com caráter secreto e fundo religioso. Além do cunho hermético, a seita mantinha forte influência da cultura afro-brasileira, sobretudo dos malês, bantos com sincretismo provocado pela difusão da Doutrina Espírita nos últimos anos do século XIX. A Cabula é classificada como candomblé de caboclo, considerada como precursora da Umbanda, persiste ainda como forma de culto nos estados da Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Culto aos Egungun – é uma das mais importantes instituições, tem por finalidade preservar e assegurar a continuidade do processo civilizatório africano no Brasil, é o culto aos ancestrais masculinos, originário de Oyo, capital do império Nagô, que foi implantado no Brasil no início do século XIX. O culto principal aos Egungun é praticado na Ilha de Itaparica no Estado da Bahia, mas existem casas em outros Estados.
Catimbó ‎- Concebe-se como Catimbó-Jurema, ou simplesmente Jurema, a religião que se utiliza de sessões de Catimbó na veneração da Jurema sagrada e dos Orixás. O Catimbó-Jurema é um culto híbrido, nascido dos contatos ocorridos entre as espiritualidades indígena, européia e africana, contatos esses que se deram em solo brasileiro, a partir do século XVI, com o advento da colonização.
Umbanda – é uma religião brasileira que sincretiza vários elementos, inclusive de outras religiões como o catolicismo, o espiritismo, as religiões afro-brasileiras e a religiosidade indígena. A palavra umbanda deriva de m’banda, que em quimbundo (idioma banto) significa “sacerdote” ou “curandeiro”.
Quimbanda – é uma ramificação da umbanda desde a sua fundação pelo médium brasileiro Zélio Fernandino de Morais, já que o mesmo admitiu ter um exu como guia por ordens de seus guias. Assim como qualquer religião, dentro da quimbanda, existem várias linhas de desenvolvimento, mas o princípio de trabalhar respeitando as leis da Umbanda é fundamental, uma vez que estas entidades são comandadas pelas entidades da Umbanda, que é sua matriz.
Xambá ‎- A Nação Xambá é uma religião afro-brasileira ativa em Olinda, Pernambuco. Alguns autores afirmam que este culto está praticamente extinto no país.
Omolocô – é um culto presente no Rio de Janeiro, mas veio pela Bahia e também é encontrado no Rio Grande do Sul,  é caracterizado por suas práticas rituais e de culto aos Orixás, Caboclos,  Pretos-velhos e demais Falangeiros de Orixás da Umbanda. O culto Omolocô é apontado por estudiosos do assunto e praticantes como um dos principais influenciadores da formação da Umbanda africanizada, ao lado do Candomblé de Caboclo, do Cabula e do próprio Candomblé. Teria surgido entre o povo africano Lunda-Quiôco.
A ministra também destaca que a religiosidade africana para os/as escravizados/as não se separava das demais dimensões da vida e que foi esta característica que potencializou o poder de influência desta cultura em tantos setores da sociedade brasileira ainda em seu início. Ela recorda leis com o a do Diretório de 1759, que tornou obrigatório o uso da língua portuguesa como idioma oficial em todo o território nacional, proibindo o tupinambá e a proliferação dos dialetos e línguas africanas que já dominavam o falar dos colonos.
“É impressionante que muitas das palavras ‘banto’ já substituíam os mesmos termos em português. E representavam mais que vocábulos diferentes, eram novas maneiras de ser e agir. Um exemplo é a palavra cochilar usado em substituição a dormitar. Dormitar, palavra portuguesa, significava dormir sentado, em pé, de qualquer jeito. Cochilar já não, era a prática dos negros de deitar e dormir um pouco após o almoço”, observa.
Outro detalhe curioso compartilhado por Carmen foi o uso de vogais e consoantes, bem como do plural praticados pelos/as negros/as. “As pessoas tem mania de querer dizer que é errado o jeito de falar do negro, do matuto, mas se olharmos para origem percebemos que o que falta é conhecimento da língua No caso do plural, do ponto de vista da morfologia e da sintaxe, na língua iorubá, a sua composição se dá pela flexão, somente, dos artigos que  precedem os substantivos. Enquanto na língua portuguesa, se constrói flexionando também os substantivos. Assim, enquanto em português, a construção do plural de “a casa” fica “as casas”. Em ioruba flexiona-se apenas o artigo e fica ‘as casa’. No caso dos encontros consonantais, eles não existem em iorubá e então, são desfeitos com a inserção de uma vogal. A palavra salvar, que em função do desdobramento das consoantes L V é acrescido a vogal A, precedida de R, resulta na palavra SARAVA. Algo muito parecido acontece com a palavra flor. As letras F e L vão receber a vogal U entre si o que resulta na palavra FULÔ. Neste caso a pronúncia do R não é utilizada porque também não se aplica nos idiomas iorubá e banto”, explica.
A apropriação dos termos africanos acabou se transformando em prática cotidiana no universo da culinária brasileira, que adotou o modo de preparar, bem como os ingredientes usados pelas negras.
A população escravizada já havia introduzido na cozinha portuguesa o leite de coco-da-Bahía, o azeite de dendê, confirmou a preferência da pimenta malagueta sobre a do reino, deu ao Brasil o feijão preto, o quiabo, ensinou a fazer vatapá, caruru, mungunzá, acarajé, angu e pamonha. Ela também modificou os pratos portugueses, substituindo ingredientes; fez a mesma coisa com os pratos da terra; e finalmente criou a cozinha brasileira, que por meio dos/as escravizados/as de ganho foi responsável pela sobrevivência de muitos senhores de engenho que faliram com a decadência da cana-de-açúcar no mercado europeu.

CANDOMBLÉ
Candomblé é uma religião derivada do animismo africano onde se cultuam os orixás, voduns ou nkisis, dependendo da nação. Sendo de origem totêmica e familiar, é uma das religiões de matriz africana mais praticadas, tendo mais de três milhões de seguidores em todo o mundo, principalmente no Brasil. Também é possível encontrar o chamado povo do santo em outros países como Uruguai, Argentina, Venezuela, Colômbia, Panamá, México, Alemanha, Itália,França, Portugal e Espanha.
Dentre as nações africanas praticantes do animismo, cada uma tinha, como base, o culto a um único orixá. A junção dos cultos é um fenômeno brasileiro em decorrência da importação de escravos onde, agrupados nas senzalas, nomeavam um zelador de santo, também conhecido como babalorixá no caso dos homens e iyalorixá no caso das mulheres.
A religião tem, por base, a anima (alma) da Natureza, sendo, portanto, chamada de anímica. Os sacerdotes africanos que vieram para o Brasil como escravos, juntamente com seus orixás/nkisis/voduns, sua cultura, e seus idiomas, entre 1549 e 1888, é que tentaram de uma forma ou de outra continuar praticando suas religiões em terras brasileiras. Foram os africanos que implantaram suas religiões no Brasil, juntando várias em uma casa só para a sobrevivência das mesmas. Portanto, não é invenção de brasileiros.
Diz Clarival do Prado Valladares em seu artigo "A Iconologia Africana no Brasil", na Revista Brasileira de Cultura (MEC e Conselho Federal de Cultura), ano I, Julho-Setembro 1999, p. 37, que o "surgimento dos candomblés com posse de terra na periferia das cidades e com agremiação de crentes e prática de calendário verifica-se incidentalmente em documentos e crônicas a partir do século XVIII". O autor considera difícil para "qualquer historiador descobrir documentos do período anterior diretamente relacionados à prática permitida, ou sub-reptícia, de rituais africanos". O documento mais remoto, segundo ele, seria de autoria de dom Frei Antônio de Guadalupe, bispo visitador de Minas Gerais em 1726, divulgado nos "Mandamentos ou Capítulos da visita".
Embora confinado originalmente à população de negros escravizados, inicialmente nas senzalas, quilombos e terreiros, proibido pela igreja católica, e criminalizado mesmo por alguns governos, o candomblé prosperou nos quatro séculos, e expandiu consideravelmente desde o fim da escravatura em 1888. Estabeleceu-se com seguidores de várias classes sociais e dezenas de milhares de templos. Em levantamentos recentes, aproximadamente 3 milhões de brasileiros (1,5% da população total) declararam o candomblé como sua religião. Na cidade de Salvador existem 2.230 terreiros registrados na Federação Baiana de Cultos Afro-brasileiros e catalogados pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA, (Universidade Federal da Bahia) Mapeamento dos Terreiros de Candomblé de Salvador.
Entretanto, na cultura brasileira as religiões não são vistas como mutuamente exclusivas, e muitas pessoas de outras crenças religiosas — até 70 milhões, de acordo com algumas organizações culturais Afro-Brasileiras — participam em rituais do candomblé, regularmente ou ocasionalmente. Orixás do candomblé, os rituais, e as festas são agora uma parte integrante da cultura e uma parte do folclore brasileiro.
O candomblé não deve ser confundido com umbanda, e/ou omoloko, e outras religiões afro-brasileiras com similar origem; e com religiões afro-americanas similares em outros países do Novo Mundo, como o vodou haitiano, a santería cubana, e o obeah, em Trinidade e Tobago, os shangos (similar ao tchamba africano, xambá e ao xangô de Pernambuco do Brasil) o ourisha, de origem iorubá, os quais foram desenvolvidas independentemente do candomblé e são virtualmente desconhecidos no Brasil.

UMBANDA
Umbanda é uma religião brasileira formada através de elementos de outras religiões como o catolicismo ou espiritismo juntando ainda elementos da cultura africana e indígena.
A palavra é derivada de “u´mbana”, um termo que significa “curandeiro” na língua banta falada na Angola, o quimbundo. A umbanda tem origem nas senzalas em reuniões onde os escravos vindos da África louvavam os seus deuses através de danças e cânticos e incorporavam espíritos.
O culto umbandista é realizado em templos, terreiros ou Centros apropriados para o encontro dos praticantes onde entoam cânticos e fazem uso de instrumentos musicais como o atabaque. Apesar disso, quando o Umbanda foi criado, não existiam manifestações musicais, como cânticos e utilização de instrumentos.
O culto é presidido por um chefe masculino ou feminino. Durante as sessões são realizadas consultas de apoio e orientação a quem recorre ao terreiro, práticas mediúnicas com incorporações de entidades espirituais e outros rituais.
O culto se assemelha ao candomblé, no entanto, são religiões que possuem práticas distintas.
Ao longo do tempo, a umbanda passou por transformações e foi se demarcando de outras religiões. Também criou ramificações, algumas delas são descritas como: Umbanda Tradicional: criada no Rio de Janeiro pelo jovem Zélio Fernandino de Moraes; Umbandomblé ou Umbanda Traçada: onde um mesmo sacerdote pode realizar sessões distintas de umbanda ou de candomblé; Umbanda Branca: utiliza elementos espíritas, kardecistas e os adeptos usam roupas brancas; Umbanda de Caboclo: forte influência da cultura indígena brasileira.

FUNÇÃO SOCIAL DAS CRENÇAS E IDEOLOGIAS RELIGIOSAS
[…] a verdadeira função da religião não é nos fazer pensar, enriquecer nosso conhecimento, […] mas sim nos fazer agir, nos ajudar a viver. Durkheim

Grande parte das discussões entre ateus e religiosos na internet tem como pano de fundo a ignorância e mútua incompreensão. Da parte dos ateus, isso começa com a convicção de muitos deles de que as religiões são “irracionais”. As ciências sociais não trabalham com essa perspectiva. Elas são compreensivas. E as religiões, já reconhecia Durkheim, somente podem ser compreendidas historicamente. Desde o século 19, entendemos que fazer história é reconstituir contextos, épocas culturais, mentalidades. A história então monta o modelo do conhecimento das coisas humanas, que vai ser usado pela antropologia, economia, sociologia. Qualquer dimensão da ação humana deve ser entendida historicamente.
Foi o que Durkheim tentou fazer em As formas elementares da vida religiosa, de onde extraí a epígrafe deste texto.  A obra clássica publicada originalmente em 1912, é uma proposta de estudar o totemismo como sistema de culto em algumas tribos australianas. Embora fosse positivista, Durkheim divergia da teoria de Auguste Comte acerca do progresso da humanidade. Embora também acreditasse na objetividade da ciência social, ele rompeu com a ideia de linearidade, tão presente na cultura ocidental, para argumentar que a história não é como  uma linha geométrica nem a humanidade caminha em direção aos mesmos valores ou ao mesmo modelo de desenvolvimento tecnológico. Essa concepção foi bastante profícua para sua formulação de um conceito de religião e da função social da religião.
Sua famosa frase logo no início do livro de que não existem religiões falsas porque todas correspondem a determinada condição da existência humana, sintetiza o olhar das ciências sociais sobre os fenômenos religiosos. A primeira parte de sua obra, onde ele tenta chegar a uma definição de religião, também é particularmente importante. Uma das maiores dificuldade pra quem quer compreender ou estudar determinado sistema religioso é definir religião.
Sabemos que o sentido etimológico vem do latim re-ligare. Mas a questão é: a religião é um religar de quê? Inicialmente do homem com seus mortos. A religião não começa como uma crença em divindades, mas a partir do sentimento de continuidade da vida, a partir do momento em que o homem começa a sepultar seus mortos, com a realização de enterros e ritos fúnebres. Dessa forma, o sentimento religioso nasce de uma consciência da insuficiência humana e admissão da fragilidade e efemeridade da condição humana. No sistema totêmico, diz Durkheim, a ideia de divindade é completamente estranha. Ele diz que a religião não se originou de cultos a divindades pessoais, mas de cultos a forças anônimas e poderes indefinidos.
Se a religião não se define por uma crença em uma divindade, Durkheim busca um ponto de convergência entre elas. E, para ele, esse ponto consiste nos dois domínios em que as religiões dividem o mundo: o sagrado e o profano. Essa antítese é um fato universal que permite identificar qualquer fenômeno religioso, e mesmo com as diferenças de contextos, está presente somente na religião. Os templos teriam a função de separar os dois mundos. O historiador Marcello Massenzio (2005: 110-111) explica com propriedade essa dicotomia:
As categorias de sagrado e profano se opõem uma à outra e, ao mesmo tempo, se pressupõem. O âmbito do sagrado se estende a tudo aquilo que ultrapassa o nível cotidiano da existência humana: começam a fazer parte dele, portanto, os seres sobre-humanos, a dimensão do mito, as práticas rituais, as normas e proibições cuja origem não seja considerada humana. Colocando-se em tal perspectiva, é legítima a equação sagrado = alteridade, alteridade em relação ao profano, que coincide com a ordenação normal do mundo. […]
Para colocar em destaque a complexidade da relação em exame, pode ser útil repensar a instituição da festa, que pressupõe a interrupção da ordem profana como condição necessária para ascender à ordem festiva, que tem caráter sagrado. À festa pertence in primis o tema da separação do profano. […] Sob tais bases é possível pensar a festa como uma instituição destinada também a promover – e não só a negar – a ordem mundana, na medida em que tenta recuperar os pressupostos últimos em que se apóia.
Para Durkheim, a ideia de sagrado evoca a superioridade da coletividade sobre o indivíduo, sua autoridade moral e sua proteção. Para chegar a essa conclusão, ele parte de uma minuciosa problematização do fenômeno religioso, iniciando pela definição de crenças, ritos, magia, igreja, sagrado e profano; depois passa a dissertar sobre algumas teorias em voga no seu tempo, como o animismo e a teoria naturista de Max Müller.
O sagrado e o profano também são dois temas sobre os quais Mircea Eliade discutiu amplamente em suas obras.  Eliade considera que a necessidade da religião está ligada a um desejo ontológico, isto é, o desejo do ser, oriundo do temor do caos, do espaço desconhecido, não consagrado, que caracteriza, para o homem religioso, o não-ser absoluto.
O sagrado é composto de crenças e ritos ou pensamento (no caso das crenças) e movimento (no caso dos ritos). Os ritos têm a função de prescrever comportamentos. A pluralidade de crenças religiosas evidencia o impulso criador da sociedade e também a permanente tentativa do homem de elevar-se a uma vida superior à realidade cotidiana. As crenças, enquanto representações coletivas, atribuem significados a essa outra vida, enquanto os ritos estabelecem os regulamentos que garantem o funcionamento do culto religioso. Por conseguinte, os ritos são formas de reafirmação periódica do grupo.
Por este motivo, para Durkheim, a vida religiosa é voltada para ação. E Weber iria adiante ao dizer que toda ação é racional, portanto as religiões não podem ser irracionais. Mas em Durkheim o simbolismo religioso também atua com a função de reproduzir as hierarquias sociais.
Como foi dito acima, sua obra As Formas Elementares da Vida Religiosa é um estudo sobre as comunidades totêmicas da Austrália  e também um marco no pensamento social sobre a importância do fenômeno religioso por pelo menos dois motivos: primeiro, a questão metodológica que ele enfrenta levanta a relevância do método etnográfico por abrir possibilidades de conhecimento ainda inexploradas e por evidenciar a dimensão autônoma da religião. A noção de elementar presente no título da obra remete à perspectiva do autor de que as sociedades primitivas possuem complexidades intelectuais e morais de menor amplitude do que as sociedades mais avançadas. Essa uniformidade leva à manipulação do patrimônio cultural das sociedades primitivas em favor de um grupo ou clã. Nesse ponto, Durkheim não destoa da noção de evolucionismo cultural de sua época, mas isso não compromete sua proposta metodológica na medida em que seu ponto inicial é a necessidade de rediscutir temas importantes da cultura e da sociedade e a necessidade de diversificação dos próprios métodos.
O segundo motivo porque a obra de Durkheim é um marco é a ruptura que promove com a perspectiva de que a religião é um caleidoscópio de erros. Para ele, uma instituição humana fundada exclusivamente sobre erros não poderia perdurar no tempo. Por outro lado, as primeiras representações de mundo que o homem elaborou foram de origem religiosa e as categorias mentais que fundamentam nossa compreensão moderna do mundo, como as noções de tempo, espaço, causa, número, etc. foram primeiramente elaboradas a partir de crenças religiosas. Com isso, ele não quer dizer que as doutrinas religiosas são verdadeiras em um sentido científico, mas que a principal prerrogativa da religião é a organização da existência social, é agregar, portanto.  Daí a definição de religião como uma realidade essencialmente coletiva.
A caracterização das religiões como sistemas de crenças irracionais, embora seja um equívoco, evidencia a tensão entre esses sistemas e nosso pensamento científico. A ciência nos ensinou a contemplar a natureza de outra forma, afastou a necessidade de um criador e da crença em mundos espirituais e tornou os ritos inúteis para aplacar as forças da natureza, que aprendemos a controlar a manipular a nosso favor. Contudo, não possuímos a totalidade do conhecimento, o que nos impede, por exemplo, de termos certeza se estamos ou não sozinhos no universo ou se existe algo parecido com um criador escondido em algum canto ou dimensão que não conhecemos.
Hoje podemos viver confortavelmente sem nenhuma crença religiosa e com o direito de não sermos molestados por quem segue qualquer sistema de crença. Podemos ter espiritualidade sem precisarmos frequentar um templo ou acreditar em um Deus, podemos explicar o mundo sem o recurso a forças invisíveis e sobrenaturais. Isso também não suprimiu a religião como força cultural criadora. O fato de a religião ter sido legitimadora de diversas formas de poder arbitrários ao longo de milênios não anula seu potencial criador, seu impulso para a ação coletiva. Por isso, Durkheim compreendia que, em última instância, a religião ensina as pessoas a viver melhor e fornece (especialmente para sociedades não modernas) o chão para a estabilidade das relações sociais.




Referências
Autor: Bertone Sousa, professor, historiador e autor do livro Fé e Dinheiro.
DELUMEAU, Jean; MELCHIOR-BONNET, Sabine. De Religiões e de Homens. São Paulo: Loyola, 2000.
DURKHEIM, Émile. As Formas Elementares da Vida Religiosa. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano: a essência das religiões. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
MASSENZIO, Marcello. A História das Religiões na Cultura Moderna. São Paulo: Hedra, 2005.



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