9° Ano - II° Bimestre


Estado laico e Estado religioso

É importante conhecer a diferença entre Estado laico e Estado religioso para entender a relação entre o Estado e as religiões.
O conceito de Estado diz respeito ao conjunto de instituições políticas e administrativas responsáveis por ordenar e regular o espaço de um povo ou nação. A existência de um Estado pressupõe que ele possua seu próprio território, que tenha ação soberana, seja dirigido por um governo próprio e seja pessoa jurídica de direito público internacionalmente reconhecida. No que diz respeito à relação de um Estado com as religiões nele existentes, ele pode ser categorizado em duas classificações distintas: Estado laico e Estado religioso.
Estado Laico: é aquele que prevê a neutralidade em matéria confessional, não adotando nenhuma religião como oficial e mantendo equidistância entre os cultos. É conhecido também como Estado Secular. Em alguns Estados laicos, há incentivo à religiosidade e à tolerância entre os credos, enquanto outros chegam a criar leis e mecanismos para dificultar a manifestação religiosa em público.

Estado Laico X Estado Ateu
É importante ressaltar que o conceito de Estado laico não deve ser confundido com Estado ateu, tendo em vista que o ateísmo e demais manifestações de “não crença” também se incluem no direito à liberdade religiosa. No conceito de liberdade religiosa, inclui-se a liberdade de ter uma crença e a de não ter uma crença. Assim sendo, confundir Estado laico com Estado ateu é privilegiar essa crença (ou não crença) em detrimento das demais.
Estado Religioso: É aquele em que a religião interfere em alguma medida na administração, legislação ou gestão pública e é também chamado de Estado confessional. Na atualidade, está presente em especial no mundo islâmico, mas pode ser identificado também na África e na Ásia.
O Estado confessional pode manifestar-se de forma orgânica, ou seja, as instituições religiosas participam formalmente do governo, como se fosse um quarto poder e com autoridade para aprovar ou rejeitar leis que desrespeitem o credo. Um exemplo recente foi o governo talibã do Afeganistão, em que havia leis civis que regulamentavam hábitos e costumes da população de acordo com princípios religiosos, cuja desobediência era punida pelo Estado. O Estado também pode apresentar a manifestação religiosa por meio de interferência subjetiva, em que um grupo ou instituição religiosa tem voz nas decisões de Estado e busca salvaguardar seus interesses.
O Brasil e o Estado Laico
A atual Constituição não institui qualquer outra religião como sendo a oficial do Estado. Estabelece em seu artigo 19, I o seguinte:
“É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público.”
Em razão desse e de outros dispositivos constitucionais, diz-se que o Brasil é um Estado laico onde há liberdade religiosa. A legislação ainda prevê que o direito à liberdade religiosa é inviolável e que o Estado deve assegurar o livre exercício dos cultos religiosos e garantir a proteção aos locais de culto e às suas liturgias.

Atividades
Com o auxilio do texto marque a alternativa correta e justifique a sua resposta:

1.      A respeito do conceito de Estado, avalie as proposições a seguir:
I) O conjunto de instituições políticas e administrativas com função de ordenar e regular o espaço de um povo ou nação constitui o que conhecemos como “Estado”.
II) Para que um Estado possa existir, não é necessariamente essencial que possua um território. A soberania do Estado efetiva-se pelas relações entre o governo e a população.
III) O reconhecimento de outras nações e de instituições internacionais é pré-requisito para que um Estado possa receber essa denominação.
Estão corretas as alternativas:
a) II e III.
b) I e III.
c) I e II.
d) Todas as alternativas.
e) Apenas a alternativa II.
2.      O conceito de Estado laico muitas vezes é visto de maneira equivocada, pois é confundido com uma limitação estatal sobre as crenças e não crenças da população. Sobre a definição de Estado laico, estão corretas as proposições a seguir, exceto:

a) Também conhecido como Estado secular, o Estado laico prevê a neutralidade em matéria confessional.
b) No Estado laico, as religiões têm o direito de exercer as suas práticas, mas sem a participação do governo.
c) A posição neutra do Estado laico busca incentivar o ateísmo e outras formas de “não crença” como forma de distanciar-se das religiões e manter a laicidade.
d) O Estado laico não adota nenhuma religião como oficial e mantém equidistância entre os cultos.
e) Nenhuma das alternativas.

3.      “Estado em que não é permitida a adoração ou a participação do cidadão em qualquer tipo de culto religioso. Nele o governo não crê na existência de nenhuma divindade ou entidade espiritual.”
O conceito acima se refere ao:
a) Estado laico
b) Estado religioso
c) Estado ateu
d) Estado agnóstico
e) Nenhuma das alternativas.

4.      O Estado religioso é um conceito oposto ao de Estado laico. Sobre a definição de Estado religioso, estão corretas as proposições a seguir, exceto:
a) O Estado religioso, quando se efetiva de forma orgânica, manifesta-se como um quarto poder e com autoridade para aprovar ou rejeitar leis que desrespeitem o credo institucionalizado.
b) Um exemplo atual de Estado religioso ocorreu no Afeganistão, país que viveu sob o comando do Talibã. Esse grupo estabeleceu leis civis que regulamentavam hábitos e costumes da população de acordo com princípios religiosos e cuja desobediência era punida pelo Estado.
c) Na atualidade, ainda são encontrados Estados com caráter confessional em alguns países, especialmente no mundo islâmico, mas também em países da África e Ásia.
d) Se um Estado não adota uma religião como oficial e não possui em sua estrutura formal mecanismos ligados a um culto específico, esse mesmo Estado não pode ser considerado como uma instituição que sofre influência religiosa.
e) O Estado confessional ou religioso pode manifestar-se por meio da interferência subjetiva, em que um grupo ou instituição religiosa possui poder nas decisões do Estado, sem que este tenha participação formal na estrutura estatal.


CONCEPÇÕES DO CORPO NAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS.
Apesar de o fenômeno religioso ser alvo de intensas discussões e de posições não consensuais, muitos pesquisadores colocam no centro do debate acadêmico a possibilidade ou não de sua extinção na sociedade. Alguns autores utilizam o conceito de secularização para explicar as inúmeras modificações no campo religioso atribuídas ao advento da modernidade. José Casanova (1994), por exemplo, aponta para três dimensões utilizadas para falar sobre a secularização: a primeira a vê como o declínio da religião, a segunda a vê a partir da separação das esferas e a terceira a entende como a mudança da religião para a esfera privada.
O autor, que parece dar preferência à discussão que entende o processo de secularização como a divisão das esferas, faz uma crítica a Durkhein e Weber[1], que acreditam na substituição da moral religiosa por uma moral secular (Durkhein) e na dessacralização[2] do mundo (Weber), mas não fornecem a base para pensarmos no conceito de moderno e nas consequências desta modernidade. Para Casanova, além da emergência da Ciência Moderna outros três acontecimentos contribuíram para o evento da secularização: o desenvolvimento das forças do capitalismo, a Reforma Protestante e a formação do Estado. É preciso atentar para o fato de que este processo ocorreu de forma diferenciada em cada lugar do mundo.
A discussão entre fé e razão que em grande parte legitimou a separação entre Igreja e Estado, ainda hoje serve como arma legitimadora na disputa de várias esferas pelo domínio dos conhecimentos sobre o homem e o corpo. As explicações sobre o que é o ser humano passam a ser vinculadas pelo saber racional. Com isso, a ideia desejada pela Igreja de uma unificação religiosa da humanidade começa a perder força. Inicia-se um processo de desnaturalização do homem, que se coloca acima da natureza e livre de seus desígnios, portanto, livre de Deus.
No entanto, este processo, ao contrário de dar fim à religião, abriu caminho para que outras crenças se fizessem presentes. A busca pela fé parece ter-se feito necessária como algo que complementasse aquilo que faltou à razão. Estas mudanças trouxeram à tona a necessidade de novos discursos por parte da esfera religiosa. A Igreja Católica perde o poder de outrora e passa a disputar o monopólio dos bens de salvação com outras religiões. Surgem diversos templos, igrejas, santuários, casas de oração etc. Novos deuses e novas religiões são frutos da sociedade moderna e se encontram intimamente relacionados aos novos modos de vida de grande parte da população. Para Paula Montero (2006) o surgimento destas novas religiões se deve, em parte, à Reforma Protestante, que abriu caminho para o pluralismo no campo religioso. Pluralismo este “subordinado” a uma racionalidade capaz de criar consensos que possibilitam a comunicação e o compartilhamento do mundo. Para Habermas (1999), à esta razão deve ser inerente a constatação de que as crenças variam.
Se as crenças variam, os modos de ver e de pensar o “mundo” também vão se diferenciando em decorrência de tais variações. Assistimos ao longo do tempo a inúmeras mudanças na esfera religiosa, mas, afinal, o que isto tem a ver com o corpo? O fato é que as mudanças na esfera religiosa dizem muito a respeito das mudanças visíveis nos corpos humanos nos diversos períodos e lugares. Em meio às mudanças da esfera religiosa, assistimos às mudanças do corpo e de suas gestualidades. Por trás de cada gesto, desde a época do feudalismo até o século atual, é possível observar um tipo de educação que teve, ou tem, vínculo com a esfera religiosa, inclusive no ambiente escolar. Mesmo na contemporaneidade as religiões exercem poder normativo sobre os corpos, que são educados e marcados por práticas religiosas diversas. A diferença é que se antes a Igreja possuía o monopólio das regras sobre os “usos do corpo[3]” e da alma, hoje ela disputa o domínio com outras esferas da saber. É neste sentido que atribuo importância a este debate para a área da Educação Física. Afinal, estes profissionais, assim como psicólogos, esteticistas, nutricionistas, e outros ainda, elaboram discursos que ditam “normas” de se portar em relação aos aspectos corporais. Com isso é possível perceber que não somente a natureza se dessacralizou, mas todo e qualquer objeto, inclusive o corpo humano.
Um bom exemplo para ilustrar tais ideias está relacionado à compreensão da noção de beleza corporal. Baseando-se na racionalização dos corpos, enfraquecem-se ideias do tipo “a verdadeira beleza é aquela dada por Deus”. A beleza não depende mais da vontade divina e, sim, dos métodos científico-tecnológicos empregados no corpo. A racionalização parece conduzir a certa homogeneização de determinados padrões corporais e, por isso, não é mais “permitido” ser “feio”, “fraco”, “gordo”, etc. Para Paulo Fensterseifer (2001), não é de se estranhar que o corpo seja suscetível a ser “reformado”, “concertado”, melhorado etc. O pensamento moderno vem mostrar, principalmente às mulheres, que se no quesito beleza elas foram esquecidas por Deus, a “fé” na ciência pode dar-lhes uma “mãozinha”.
ATIVIDADE:
1-      Em seu caderno, ressalte a partir do texto e de seus estudos paralelos, qual o pensamento sobre o corpo dentro do contexto religioso?

CONCEPÇÕES DO GÊNERO NAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS.
A trajetória da civilização judaico cristã está marcada pela complexa relação entre gênero e religião, presente desde sua gênese, na qual o “deus criador” (masculino) foi o responsável pelo surgimento de todas as coisas e criaturas. Para habitar e preservar toda sua criação, fez a sua imagem e semelhança, um “ser perfeito”, que recebeu o nome de Adão (homem). Para que este não ficasse só, foi-lhe retirada parte de sua carne, para criação de outro ser denominado Eva (mulher); a qual, por sua vez, nasce com a marca da submissão e dependência. No decorrer da história, esse panorama foi quase sempre reproduzido, tendo o sexo masculino domínio sob o sexo feminino, e largamente contribuído para a criação de uma sociedade binária, na qual homens denotavam ter mais ter mais valor que as mulheres. Exemplo disso foram os diversos momentos históricos nos quais “eles” obtiveram direitos políticos, sociais e culturais, negados a “elas” simplesmente por não pertencerem ao universo deles. Excluídos desse universo foram também aqueles/as que não estavam enquadrados/as nas características desenhadas pela “imagem e semelhança da perfeição”, que indicavam algum traço e/ou sentimento diferente daqueles postos para o homem e a mulher, melhor dizendo, do ser heterossexual.
Poderíamos estar nos referindo a um passado marcado em sua origem e reafirmado no decorrer do tempo por uma gênese excludente. Mas o “princípio” que marcou as relações entre gênero e religião se faz presente na sociedade contemporânea que, contraditoriamente, tem como uma de suas marcas a busca pelas diferenças. Atualmente, na sociedade brasileira, presenciamos uma avalanche de discursos e atitudes conservadoras, retrógradas e preconceituosas sobre a diferença entre os gêneros; estas, quase sempre, buscam sua fundamentação em fatores ligados as religiões de matriz judaico-cristã.
Gênero é “o estudo que permite estabelecer uma relação equilibrada e própria entre os sexos. O feminino frente ao masculino e o masculino frente ao feminino. Ao se analisar tal definição, procurando estabelecer uma conexão com a análise de gênero desenvolvida anteriormente, nota-se uma imprecisão e uma contradição no se refere à concepção apresentada porque, contrariamente ao que se afirmou, os estudos de gênero estão voltados para o aprofundamento da construção e desconstrução dos papéis masculino e feminino como um elemento constitutivo de relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos, sendo que o gênero é uma forma primária de dar significado às relações de poder e não um mecanismo que permite estabelecer uma relação equilibrada e própria entre os sexos. Desse ponto de vista, a categoria indica justamente o contrário. O uso dessa noção dá visibilidade à construção social do modo de ser mulher e de ser homem com base na distinção entre o feminino e o masculino. Portanto, valer dessa análise como explicação das diferenças e desigualdades sociais entre os gêneros favorece também a desconstrução indicando que o conflito nas relações mulher-homem deve ser visto com base no paradigma biológico-social empregado para explicar essas diferenças nos papéis desempenhados por homens e mulheres.
Com relação à religião, este termo não é uma criação da língua portuguesa, existe há milhares de anos e em sua significação mais tranquila estimula os indivíduos à busca de uma re-ligação física/espiritual com a realidade do mistério que envolve o existir humano: como sua origem e o seu fim, como a morte, a dor, o sofrimento, a alegria, o silêncio lembrando-nos apenas de alguns destes mistérios. É necessário mencionar que sua formulação de gênero e religião se deu de forma desvinculada uma da outra. No relato não aparece, sequer, a tentativa de articulação das mesmas. Gênero e religião são ainda concepções sem uma relação precisa e necessitam ser buriladas.
Na trajetória do cristianismo ou do judeu-cristianismo, ao enfatizar as figuras sagradas dentro do mundo masculino (Deus, Jesus, Abraão, Moisés, Josué...) contribui para que as mulheres se entendam como menos sagradas e não escolhidas por Deus para serem suas representantes; pior ainda, são entendidas como responsáveis pelas dores do mundo (Eva). Isso gera nas mulheres que crêem numa baixa autoestima um permanente senso de culpa e de necessidade de que eles (os bons e escolhidos por Deus) as ajudem a não pecar e a conseguir a salvação. Nos homens ocorre o processo oposto. Isso resulta numa relação desigual de gênero como sendo da vontade de Deus.
Pode-se observar de acordo com a citação acima que a compreensão da socióloga sobre essas duas noções tem como parâmetro justamente a marca de gênero, ou seja, o masculino e o feminino na conformação cultural e social dos papéis desempenhados por mulheres e homens de maneira desigual no que se refere à experiência do sagrado.
Penso que a relação entre religião e gênero está situada, na atualidade, num contexto de revisão das atitudes das religiões considerando as relações mulher/homem. Diria que estamos carentes de uma hermenêutica [4]que possibilite a revisão de textos sagrados e palavras mal ditas no decorrer da nossa história. O papel desta relação gênero/religião consiste, então, numa abertura da mente e do coração para se pensar diferente os encontros entre o ser feminino e o masculino.
Nesse fragmento, é possível identificar nas entrelinhas que se tem clareza da construção social dos papéis desempenhados por mulheres e homens na configuração e vivência de uma religião. Constata-se também a disposição para perceber a necessidade de desconstrução dos referidos papéis. Gênero e religião é um tema que me remete para o contraditório. Ao mesmo tempo em que a instituição religiosa aponta valores morais que impõem padrões opressivos às mulheres e repressivos a todos (a sexualidade, por exemplo, é um campo bastante fértil para a opressão e controle das instituições religiosas), a religião em si mesma se revela como uma necessidade humana de transcendência: a espiritualidade para além do concreto e da realidade pura. É como se fosse um elemento gerador de novas energias (boas e ruins), capaz de interferir na criatividade e na capacidade humana de conviver com o contraditório e ou com o inexplicável. Não tenho dúvida que homens e mulheres vivenciam a religiosidade de forma diferente, impregnados de sua condição sexual, cultural, social etc.
Referenciada pela noção de gênero, ela afirma: “Não tenho dúvida que homens e mulheres vivenciam a religiosidade de forma diferente, impregnados de sua condição sexual, cultural, social, etc. De uma forma quase filosófica ela responde a questão devolvendo e recolocando de novo, de outra maneira, a pergunta com a qual foi interpelada: “Como homens e mulheres vivenciam a experiência religiosa?” A recolocação do problema abordado instiga a continuar conversando sobre o assunto, a revisar conceitos, ideias e as referências construídas e estabelecidas. Sem a pretensão de concluir, dando respostas prontas e acabadas a respeito dessa relação entre gênero e religião, faz-se oportuno insistir e retomar alguns elementos que foram enunciados nessa análise e que permitem recuperar a capacidade criativa de ver, pensar, refletir e analisar gênero e religião por um ângulo novo. Primeiro, a aposta na redescrição desatou os nós, teceu uma rede de significados e forjou um caminho no qual é possível encontrar ferramentas que facilitem a criação de novas expressões, novos vocabulários e também sejam capazes de inventar uma nova versão de nós mesmos. Isso é o que aconselha a filosofia pragmatista.

É no exercício de tecer a rede, de esculpir o mármore, lapidar a palavra para dar forma a uma invenção que se revela em metáforas que unem os fios para construir elos e recriar nexos entre o pragmatismo como teoria ad hoc[5] e o recontar uma história que contempla a relação entre gênero e religião. Os argumentos podem ser tecidos ou rebordados pelos significados do que se entende e se vivencia nas experiências religiosas de mulheres e homens compondo um novo desenho.
O recurso, as estratégias adotadas neste texto para abordar o assunto revelaram trilhas que aproximam a noção do sagrado e podem encontrar um ponto convergente com o que expõe Marilena Chauí (Filosofando 1997, p. 297) quando argumenta: “o sagrado é a experiência simbólica da diferença entre os seres, da superioridade de alguns sobre outros, do poderio de alguns sobre outros, superioridade e poder sentidos como espantosos, misteriosos, desejados e temidos. A outra pegada importante é a que se delineia com o último relato no que se refere ao escancaramento do controle das instituições religiosas sobre a sexualidade e os corpos das mulheres. Esse tema é crucial, polêmico e deve ser enfrentado pelas igrejas e pelo movimento feminista. O desafio está colocado.
Em suma, quando se acha a metáfora, seu uso de acordo com o que já foi mencionado modifica o comportamento linguístico. Neste sentido, ao alterar esse comportamento, provocam-se mudanças. Acredita-se que o debruçar sobre as experiências de mulheres e homens signifique e resulte em novas possibilidades de construção de uma versão melhor dos gêneros na relação com a religião. Eis aí uma aposta.

ATIVIDADE:
1-      Em seu caderno, responda: como homens e mulheres vivenciam a experiência religiosa?

CONCEPÇÕES DO SEXUALIDADE NAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS.
Interessa-nos verificar como diferentes religiões lidam com o tema da sexualidade na sociedade. Entendemos que quando a religião se posiciona em um determinado tema (a sexualidade é um deles) explicita uma visão de mundo. Perspectivas doutrinárias e cosmológicas estão em jogo além de suas tradições religiosas. Tudo isso trás consequências sociais e políticas. O desafio que aqui se coloca diz respeito ao impasse referente a conciliar diferentes convicções com as responsabilidades sociais atuais. Expomos aqui um panorama geral de posições religiosas sobre a sexualidade.
A sexóloga e psicóloga Kelly Cristine Barbosa Cherulli faz um quadro comparativo da posição de algumas religiões sobre a sexualidade. “Para os protestantes evangélicos é aceitável o uso de métodos contraceptivos em relação ao planejamento familiar; são contrários ao sexo antes do casamento; condenam o adultério, o aborto e o homossexualismo (sendo considerado pecado); há liberdade quanto ás variações sexuais, mas sexo anal é condenado; sobre as disfunções sexuais, são inaceitáveis pela crença religiosa problemas desse tipo. Para os protestantes pentecostais prevalecem os mesmos postulados. No entanto, aqui as variações sexuais não são admitidas, somente o sexo vaginal; a masturbação não é rotulada com pecado, mas é desaconselhada. Em relação às disfunções sexuais, a rotina é se aconselhar com o pastor que costuma encaminhar o casal”.
 Em geral as religiões cristãs têm posições bastante semelhantes. Já as religiões não-cristãs chamam a atenção em alguns pontos tais como: no Kardecismo, por exemplo, “é livre a escolha dos métodos contraceptivos, desde que não lesem o plano físico. Em relação a sexo antes do casamento existe o consenso de que a união de duas pessoas tem de ocorrer sem formalidades, o homossexualismo é aceito”.
A Umbanda que é uma religião formada dentro da cultura religiosa brasileira que sincretiza elementos vários, inclusive de outras religiões, não possui restrições quanto ao sexo antes do casamento e suas variações, embora a penetração seja proibida aos médiuns em dias de ritual; são radicalmente contra o adultério e ao aborto; não há restrições a masturbação ou a métodos anticoncepcionais.  O Judaísmo é a mais antiga das três principais religiões monoteístas (as outras duas são o cristianismo e o islamismo). É neutro quanto ao sexo antes do casamento; é condenado o casamento com adeptos de outras religiões; há condenação do adultério; a prática masturbatória e as variações sexuais são liberadas, exceto o sexo anal, que é proibido; em relação aos contraceptivos, são aconselhados os métodos naturais (tabelinha), não sendo aceitos os artificiais; em relação a disfunções sexuais, deve-se procurar primeiro o rabino, que poderá sugerir uma terapia.
A religião islâmica tem crescido nos últimos anos (atualmente é a segunda maior do mundo) e está presente em todos os continentes. Porém, a maior parte de seguidores do islamismo encontra-se nos países árabes do Oriente Médio e do norte da África. Para os muçulmanos “sexo antes do casamento é proibido; existe uma valorização da virgindade masculina e feminina; (...); são contra o aborto; são contra qualquer método contraceptivo; é proibido o adultério; é proibida a masturbação; vínculo sexo-reprodução é notoriedade”.
No Budismo a prática de sexo em geral tem que ser bem regrada, baseada em respeito e confiança mútuos, tudo é permitido, desde  que não haja prejuízo físico. O sexo não pode ser exclusivamente para a procriação. “Nós temos inúmeras zonas erógenas, diferente de muitos animais, que apresentam um período de cio para se acasalarem. Além disso, somos capazes de ser sexualmente ativos por toda a existência, como por exemplo, após a menopausa feminina.”
A Igreja Católica tem tido uma postura dita retrógrada por muitos em relação à sexualidade, porém para outros esta postura seria necessária nos tempos atuais em virtude de uma liberação sexual. Mas tem sido pouco clara em relação aos crimes de pedofilia, no entanto mantém a sua firme negação do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e a reafirma o sexo como objetivo apenas de reprodução. “O novo secretário-geral e porta-voz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Dimas Lara Barbosa, poucas horas antes da chegada do Papa Bento XVI ao Brasil, afirmou que a sociedade atual cultiva o 'senso do descartável' e condenou a prática do 'ficar', comum entre adolescentes e jovens. O senso do descartável do 'ficar', que era próprio das garotas de programa, é hoje vivenciado pelas adolescentes. Os meninos apostam entre eles para saber quem fica com mais garotas numa noite. No dia seguinte, eles não sabem nem o nome delas, o que significa que essa pessoa, com quem 'ficou', não vale absolutamente nada. O problema é grave e atinge adolescentes e pré-adolescentes - afirmou Dom Dimas”.
O papa Bento XVI rejeita e o uso de métodos contraceptivos artificiais, é contrário à ordenação de mulheres e defende a necessidade de moralidade sexual, estando perfeitamente de acordo com a tradição católica. Para ele, "a única forma clinicamente segura de prevenir a AIDS é se comportar de acordo com a lei de Deus". Defende a castidade, é contra o sexo antes do casamento, contra o aborto e as pesquisas com células-tronco. É contra a balada dos jovens e a boemia dos veteranos.
“Tommazo Besozzi avalia que a proibição do uso de preservativos em tempo de Aids é coerente com a concepção da Igreja Católica quanto à morte: “O objetivo da religião é salvar almas, não corpos. Nesta perspectiva, morrer de Aids não importa, o que importa é se o indivíduo chegou em um patamar espiritual mais elevado. Do ponto de vista religioso, a morte é uma libertação dessa vida terrena. Para o Vaticano, se você não quer morrer de Aids, não faça sexo, ou se for casado, seja fiel”. Por isso, nada sugere que o Vaticano venha alterar suas posições ultraconservadoras em relação ao casamento, à orientação sexual, ao uso de preservativos e à AIDS.
Em relação ao celibato o papa mantém firme a posição, sendo necessário para uma dedicação exclusiva à vida religiosa.

ATIVIDADE:
1-      Em seu caderno, destaque as posições apresentadas pela diversas religiões sobre a sexualidade.




[1] Sãos principais pensadores clássicos da Sociologia, a saber: Marx, Durkheim e Weber.
[2] Desmistificação; retirada do caráter sagrado de; fazer com que algo deixe de ser considerado sagrado, divino, inviolável: processo de dessacralização de escrituras sagradas, de documentos legais, de textos literários.
[3]  O termo “uso do corpo” faz referência ao sentido dado por Marcel Mauss (2003), para o qual o corpo é o primeiro instrumento do homem. Mas, ao contrário da compreensão utilitarista a que o termo “uso do corpo” possa remeter, o importante no conceito do autor é que estes diferentes usos podem (e devem) ser atribuídos a diferentes significados conforme o contexto sociocultural em que estão inseridos.
[4] Hermenêutica é uma palavra com origem grega e significa a arte ou técnica de interpretar e explicar um texto ou discurso. O seu sentido original estava relacionado com a Bíblia, sendo que neste caso consistia na compreensão das Escrituras, para compreender o sentido das palavras de Deus. Hermenêutica também está presente na filosofia e na área jurídica, cada uma com seu significado.
[5] Ad hoc significa “para esta finalidade", “para isso” ou "para este efeito". É uma expressão latina, geralmente usada para informar que determinado acontecimento tem caráter temporário e que se destina para aquele fim específico.

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