O SAGRADO FEMININO NAS RELIGIÕES



Resgatar o sagrado feminino é tornar possível o equilíbrio entre os aspectos masculino e feminino, é reconhecer a importância da mulher nos diversos âmbitos da vida social, política, cultural e religiosa.
A mulher tem o direito de exercer junto com o homem o seu papel com respeito e dignidade. Nas sociedades matriarcais, a Terra era reconhecida como um planeta de energia feminina, e a mulher era respeitada e reverenciada pelo mistério da vida que se alojava em seu ventre, ou seja, pelo poder que tinha de gestar um novo ser. Com o predomínio do patriarcado, a mulher foi sendo despojada do seu poder e foi-lhe negado o direito de participação efetiva da vida social, política, cultural e religiosa. Por conta desse predomínio, o mundo foi pensado e organizado pelos homens de modo a tornar-se excessivamente competitivo, agressivo, e voltado para a materialidade e racionalidade em detrimento da espiritualidade e intuição.
Em suma, o resgate do sagrado feminino tem o propósito de promover a integração de forma justa e saudável do papel da mulher e do homem na religião, política, ciência, arte, entre outras instâncias, visando a complementaridade dos opostos.
O resgate do sagrado feminino
A necessidade de tratar um tema como o resgate do sagrado feminino é devido a negação histórica do lugar da mulher na sociedade, sobretudo na esfera do religioso. As religiões são profundamente marcadas pelo selo do masculino possuidor do poder de decisão. A própria consideração de um Deus Pai todo poderoso, quando mal interpretada, pode legitimar uma cultura de opressão ao feminino.
Historicamente esse fato pode ser comprovado em quase todas as religiões. Essa constatação ressalta ainda mais a importância de tratarmos o tema do resgate do sagrado feminino. É inquestionável a força da presença feminina nas religiões, mas por outro lado essa presença quantitativa não é reconhecida nos espaços decisórios do âmbito religioso católico. Vale lembrar aqui a mensagem do Papa Bento XVI para Jornada da Paz, que denunciou a consideração insuficiente que se dá à condição feminina “nas concepções antropológicas que persistem em algumas culturas, que ainda destina à mulher um papel de grande submissão ao homem, com consequências que ofendem a dignidade de pessoa e impedem o exercício das liberdades fundamentais”.
Se pesquisarmos sobre o feminino primitivo e o divino veremos que as primeiras representações da divindade foram de mulheres. A Deusa era a grande mãe capaz de gerar e sustentar a vida. Trata-se de um mistério fascinante, um mistério sagrado. De acordo com Neumann (1996) “a cultura primitiva é em grau bastante elevado um produto do grupo das mulheres”. Seguindo numa perspectiva histórica, notamos uma racionalização dos mistérios em que as mulheres vão perdendo sua semelhança com o sagrado.
As religiões vão construindo um Deus masculino e perdendo o aspecto da Deusa. Na Grécia e em Roma, por exemplo, as Deusas eram presentes e cultuadas, mas aos poucos a associação com o feminino foi sendo esquecida.
Numa perspectiva bíblica (BÍBLIA SAGRADA, 1987), a passagem mais significativa do Antigo Testamento sobre a mulher e sua condição (Gn 2-3) apresenta a mulher como auxiliar, “igual ao homem, ossos dos seus ossos, carne de sua carne, da sua mesma espécie” (Gn 2), e por isso o homem deixa seus pais para viver com ela. O relato demonstra a igualdade entre os dois sexos e a inferioridade da mulher é explicada em (Gn 3,16) como uma degradação do estado primitivo e original da humanidade. Já no Novo Testamento, a maneira como Jesus tratava as mulheres é reveladora (Mt, 13,13; Lc 15,8ss). Ele faz milagres a pedido das mulheres (Mt 8,14ss). Jesus quebrou preconceitos, conversou sem embaraço com a samaritana no poço de Jacó, o que para os discípulos pareceu contrário aos bons costumes (Jo 4,7ss.27). Nessa ótica, o comportamento de Jesus pode ser visto como revolucionário. No gnosticismo há pergaminhos (Nag Hammadi) que se referem a Deus como Pai e Mãe afirmando o elemento feminino como divindade. O Jardim do Éden gnóstico aponta para uma inversão de valores.
Eva é a mulher dotada de Espírito que instruída pela serpente traz a vida a Adão. Deus criador aparece com características humanas negativas, distante da concepção do Deus criador, sumo Bem. Ele amaldiçoa a mulher e a serpente. Na visão do espiritismo, homem e mulher são iguais perante Deus. O Livro dos Espíritos tem um item com o título “Igualdade dos direitos do homem e da mulher”. Qualquer discriminação contra o feminino é fruto do domínio injusto imposto pelo homem à mulher. “Os espíritos encarnam como homem ou mulheres porque não têm sexo”. (KARDEC, 1994, p. 105). No islamismo temos o pedido de Muhammad (Maomé) para que os homens sejam bons para com as mulheres.
Como podemos notar, a imagem que se faz da divindade condiciona todo um contexto cultural e traz consequências para a vida social. No cristianismo, por exemplo, resgatar o sagrado feminino é resgatar a face materna de Deus que foi sendo escondida com o passar do tempo pela imposição de uma cultura masculinizada.
Atividade
1.      Pesquise na história da vida de mulheres que são destaque no contexto das diferentes religiões, qual a contribuição delas para a superação do preconceito social, contribuição para um mundo de cultura de paz e harmonia entre os povos. Exemplo: a história de vida da Madre Paulina - primeira santa brasileira para os cristãos católicos; da Aimee Semple McPherson - fundadora da Igreja do Evangelho Quadrangular; da Mãe Menininha do Gantoi - Ialorixá muito onhecida entre os seguidores das religiões Afro-brasileiras, Beata Dulce dos Pobres, fundadora da Congregação Filhas de Maria Servas dos Pobres, Madre Tereza de Calcuta, Fundadora das Servas da Caridade.

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

III Bimestre - TEMPORALIDADE SAGRADA

MITOS E NARRATIVAS SAGRADAS: MITOLOGIA GREGA

Ética e tradições religiosas: Fundamentação dos limites éticos nas tradições religiosas.