MITOS E NARRATIVAS SAGRADAS: Mitos e Mitologia. Textos e Narrativas Sagradas
MITOS E
NARRATIVAS SAGRADAS:
Mitos e
Mitologia. Textos e Narrativas Sagradas
O QUE É MITO?
A palavra mito procede do grego mythos, que é uma
palavra ligada ao verbo mythevo, que tem o seguinte sentido “crio uma história
imaginária”. Mito, então, é uma criação imaginária, que se refere a uma crença,
a uma tradição ou a um acontecimento.
Mito também é uma história imaginária ou alegórica,
falada ou escrita em obra literária que encerra um fundo moral.
Predominantemente, quando falamos de mitos, entendemos as lendas que se referem
aos pensamentos profundos, aos desejos e às aspirações de um povo.
O termo grego mythos indica uma história fantástica,
de origem anônima e coletiva, inventada para tentar explicar fenômenos naturais
ou comportamentos humanos, anteriormente ao avanço da filosofia e das ciências.
Os mitos geralmente expressam a mentalidade humana de cada época. O mito é
sempre a narrativa de como uma realidade passou a existir.
"... o mito conta uma história sagrada; ele
relata um acontecimento ocorrido no tempo primordial, o tempo fabuloso do
"princípio". Em outros termos, o mito narra como, graças às façanhas
dos Entes Sobrenaturais, uma realidade passou a existir, seja uma realidade
total, o Cosmo, ou apenas um fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, um
comportamento humano, uma instituição. É sempre, portanto, a narrativa de uma
criação: ele relata de que modo algo foi produzido e começou a ser. (Mircea
Eliade, 1986, 2ª. Edição, p.11).
O mito é uma história imaginária, uma lenda que
expressa o pensamento profundo, a concepção, o desejo, a consolação e a
aspiração do homem em sua época e em seu espaço. Por isso, os mitos são
expressões geniais do espírito humano sobre sua concepção a respeito dos
fenômenos físicos e espirituais de seu ambiente e dentro de sua sociedade.
Ainda, o mito é um fenômeno da cultura humana e,
portanto, está presente em todas as sociedades espalhadas pelo mundo: arcaicas,
primitivas, tradicionais e aquelas cuja presença na história foi muito
importante. O mito tem uma função religiosa e ao mesmo tempo poética. As duas
combinam-se para permitir o acesso do homem ao divino e, ao mesmo tempo, do
homem a si próprio, isto é, para refletir-se e contemplar-se. A forma poética
não é alheia à carga ética que veicula. O mito atua eticamente sobre a
existência humana pela sua força poética. O mito torna possível o humano, e o
faz poeticamente. Contemplar formas belas é belo e bom para a vida. O humano
alimenta-se de aparências e extrai delas um sentido ético. Tendo o mito uma
função religioso o profissional de Ensino Religioso tem que estar atendo a sua importância
a fim de não propiciar algum tipo proselitismo ou discriminação.
O mito, tal como é vivido pelas sociedades arcaicas,
significa então: um corpo de narrativas que contam o que se passou nos tempos
primordiais, sendo portanto, sagradas e verdadeiras; referem-se sempre a uma
criação, isto é, à origem de algo (um fenômeno da natureza, uma instituição, um
modo de fazer algo, etc.); é um tipo de saber vivenciado, isto é, efetuado
ritualmente e que tem um efeito prático, operatório, tem uma eficácia social.
A partir da definição sobre mito de Eliade, torna-se
mais compreensível o balizamento entre interpretação e decifração. A
interpretação me parece ser propriedade de um discurso que supõe conhecimentos,
a priori, supostamente encobertos pelo invólucro de um outro discurso.
Voltamos, pois, à condição de que, sob o olhar metafísico, os mitos são alegorias
que querem dizer uma outra coisa. De outro lado, o mito é sempre uma representação
coletiva, transmitida através de várias gerações e que relata uma explicação do
mundo. Mito é, por conseguinte, a parole, a palavra "revelada", o
dito. E, desse modo, se o mito pode se exprimir ao nível da linguagem,
"ele é, antes de tudo, uma palavra que circunscreve e fixa um
acontecimento". "O mito é sentido e vivido antes de ser inteligido e formulado.
Mito é a palavra, a imagem, o gesto, que circunscreve o acontecimento no coração
do homem, emotivo como uma criança, antes de fixar-se como narrativa".
O mito
expressa o mundo e a realidade humana, mas cuja essência é efetivamente uma
representação coletiva, que chegou até nós através de várias gerações. E, na
medida em que pretende explicar o mundo e o homem, isto é, a complexidade do
real, o mito não pode ser lógico: ao revés, é ilógico e irracional. Abre-se
como uma janela a todos os ventos; presta-se a todas as interpretações.
Decifrar o mito é, pois, decifrar-se. E, como afirma Roland Barthes, o mito não
pode, conseqüentemente, "ser um objeto, um conceito ou uma idéia: ele é um
modo de significação, uma forma". Assim, não se há de definir o mito
"pelo objeto de sua mensagem, mas pelo modo como a profere". “O mito
designa uma história verdadeira e, ademais, preciosa por seu caráter sagrado,
exemplar e significativo”.(Eliade: 1988, 7).
Através do rito, o homem se incorpora ao mito,
beneficiando-se de todas as forças e energias que jorraram nas origens. A ação
ritual realiza no imediato uma transcendência vivida. O rito toma, nesse caso,
"o sentido de uma ação essencial e primordial através da referência que se
estabelece do profano ao sagrado". Em resumo: o rito é a práxis do mito. É o mito em ação. O mito rememora, o rito
comemora. O rito pode ser religioso ou não, sagrado ou profano, porem deve ser
sempre respeitado, podemos começar esse respeito a diversidade a partir das
aulas de Ensino Religioso.
Rememorando
os mitos, reatualizando-os, renovando-os por meio de certos rituais, o homem
torna-se apto a repetir o que os deuses e os heróis fizeram "nas
origens", porque conhecer os mitos é aprender o segredo da origem das
coisas. "E o rito pelo qual se exprime (o mito) reatualiza aquilo que é
ritualizado: re-criação, queda, redenção". E conhecer a origem das coisas
- de um objeto, de um nome, de um animal ou planta - "equivale a adquirir
sobre as mesmas um poder mágico, graças ao qual é possível dominá-las, multiplicá-las
ou reproduzi-las à vontade". Esse retorno às origens, por meio do rito, é
de suma importância, porque "voltar às origens é readquirir as forças que
jorraram nessas mesmas origens". Não é em vão que na Idade Média muitos
cronistas começavam suas histórias com a origem do mundo. A finalidade era
recuperar o tempo forte, o tempo primordial e as bênçãos que jorraram illo
tempore.
O rito, que é o aspecto litúrgico do mito,
transforma a palavra em verbo, sem o que ela é apenas lenda,
"legenda", o que deve ser lido e não mais proferido. Além do mais, o rito,
reiterando o mito, aponta o caminho, oferece um modelo exemplar, colocando o homem
na contemporaneidade do sagrado. É o que nos diz, com sua autoridade, Mircea Eliade:
"Um objeto ou um ato não se tornam reais, a não ser na medida em que
repetem um arquétipo. Assim a realidade se adquire exclusivamente pela
repetição ou participação; tudo que não possui um modelo exemplar é vazio de
sentido, isto é, carece de realidade". Percebemos diante da afirmação
acima a importância de respeitarmos o mito tendo em vista o seu simbolismo
religioso e cultural, assim o Ensino Religioso contribui nesta valorização.
À ideia de
reiteração prende-se a ideia de tempo. O mundo transcendente dos deuses e
heróis é religiosamente acessível e reatualizado, exatamente porque o homem das
culturas primitivas não aceita a irreversibilidade do tempo: o rito abole o
tempo profano, cronológico, é linear e, por isso mesmo, irreversível (pode-se
"comemorar" uma data histórica, mas não fazê-la voltar no tempo), o
tempo mítico, ritualizado, é circular, voltando sempre sobre si mesmo. É
precisamente essa reversibilidade que liberta o homem do peso do tempo morto,
dando-lhe a segurança de que ele é capaz de abolir o passado, de recomeçar sua
vida e recriar seu mundo. O profano é tempo da vida; o sagrado, o
"tempo" da eternidade.
A "consciência mítica", embora rejeitada
no mundo moderno, ainda está viva e atuante nas civilizações denominadas
primitivas. O mito, quando estudado ao vivo, não é uma explicação destinada a
satisfazer a uma curiosidade científica, mas uma narrativa que faz reviver uma
realidade primeira, que satisfaz as profundas necessidades religiosas, aspirações
morais, a pressões e a imperativos de ordem social e mesmo a exigências práticas.
Nas civilizações primitivas, o mito desempenha uma função indispensável: ele exprime,
exalta e codifica a crença; salvaguarda e impõe os princípios morais; garante a
eficácia do ritual e oferece regras práticas para a orientação do homem. O mito
é um ingrediente vital da civilização humana; longe de ser uma fabulação vã,
ele é, ao contrário, uma realidade viva, à qual se recorre incessantemente; não
é, absolutamente, uma teoria abstrata ou uma fantasia artística, mas uma
verdadeira codificação da religião primitiva e da sabedoria prática.
A certeza de um novo começo, esse recomeço pode ser
entendido como a replica do começo absoluto, ou seja simbolicamente tal fato é
a própria cosmogonia revivida. Também é apresentado a ideia de domínio sobre as
coisas, a fim de que estas coisas reapareçam no futuro, ou seja há um
sentimento de esperança do ser humano de que o mundo estará sempre vivo, apesar
de ser aceito a sua degeneração e de ser consumido. Este seria o grande motivo
pelo qual ele deve ser simbolicamente recriado todos os anos. Através do rito,
o homem se incorpora ao mito, beneficiando-se de todas as forças e energias que
jorraram nas origens. A ação ritual realiza no imediato uma transcendência
vivida.
O ser humano
possui a grande capacidade de “voltar atrás” fato que se deve a compreensão do
ser humano sobre o si mesmo e também para a sua cura. Tal fato somado com a
esperança de renovação do mundo que é realizada mediante a repetição da cosmogonia
fica fácil compreender o objetivo principal do “voltar atrás”, que é a possibilidade
de renovar e regenerar a existência daquele que a empreende. Em outras palavras
esta técnica seria como um segundo nascimento, um ritual que simbolizaria a regressão
do universo ao estado “caótico”. Os mitos e ritos iniciatórios colocam em evidencia
a ideia do retorno a origem, retorno ao embrião, objetivando um novo nascimento,
um nascimento espiritual, tem portanto um objetivo terapêutico.
Para o pensamento Indiano, o sofrimento baseia-se e
é indefinidamente prolongado no mundo pelo Karma, pela temporalidade, esse
eterno retorno a existência, ou seja, ao sofrimento pode ser considerado como
uma um modo de evoluir ou ate mesmo de voltar atrás e conhecer as próprias
existências anteriores. Libertar-se desse ciclo Kármico equivale a cura segundo
Buda e também equivale a transcender a própria condição humana.
Segundo
Eliade, para curar-se a obra do tempo, é preciso “voltar atrás” e chegar ao “principio
do mundo”, retornando assim a origem, ou seja, observamos novamente a repetição
do mito cosmogônico, que tinha como objetivo a abolição do tempo decorrido e o reinicio
de uma nova existência. A memória
desempenha um papel fundamental, através da rememoração, da anamnesis, há uma
libertação da obra do tempo. É essencial recordar os acontecimentos passados, a
fim de conhecer a sua origem e a sua história para poder dominá-la, assim é necessário
percorrer o tempo na direção contraria através da memória. É importante reviver
continuamente as crises e as tragédias de seu passado mítico. Essa memorização
dos acontecimentos do passado ajudara o ser humano a liberta-se dos
condicionamentos Kármicos do presente herdados do seu passado.
À idéia de
reiteração prende-se a ideia de tempo. O mundo transcendente dos deuses e
heróis é religiosamente acessível e reatualizado, o tempo mítico, ritualizado,
é circular, voltando sempre sobre si mesmo. É precisamente essa reversibilidade
que liberta o homem do peso do tempo morto, dando-lhe a segurança de que ele é
capaz de abolir o passado, de recomeçar sua vida e recriar seu mundo. Umas das funções dos mitos é a explicação ou a
tentativa de explicar a questão da mortalidade do ser humano, tal como e por
que ele foi constituído dessa maneira. Um dos mitos apresenta a ideia de que o
ser humano é mortal devido a um Ancestral mítico ter perdido a imortalidade ou
ainda porque um Ente Sobrenatural decidiu privá-lo da imortalidade. Mas o
essencial não é a imortalidade, o essencial seria a sua alteridade, a religiosidade,
a transcendência, em fim cada religião tem uma definição própria sobre a questão
de essência.
Acredita-se
que esse Ente Supremo, Deus Otiosus foi quem criou o ser humano e o mundo, mas este veio a habitar o Céu, quem
esta no Céu é eterno, onisciente, todo poderoso. Este Deus vive isolado do ser
humano, é indiferente as questões do mundo. Deus ai se encontra afastado do ser
humano, esta em silencio. As preces a ele são dirigida em caso de enfermidade.
Mas este Ente Supremo é relembrado constantemente, há uma receio, medo por
parte dos povos. Existem ainda os deuses que desapareceram da superfície da terra,
pois foram mortos pelos homens, porem esta morte é uma morte criadora, ou seja,
algo importante surge em seguida para o ser humano que é posteriormente
revivido através de rituais iniciatórios acabam reatualizado a morte, onde a
lembrança principal é a própria morte do ser humano, o que o torna igual a
esses deuses.
Os sacrifícios humanos ou de animais é tido como uma
revivencia ou rememoração do assassino primordial. Estes sacrifícios não são
tidos como crime e sim como parte necessária de um rito. As festas religiosas
são festas rememorativas. Apresentam que a mortalidade é inseparável da
procriação. Existe ainda a transposição ou transfiguração dos deuses para a
natureza.
No aspecto estrutural todos os mitos são tidos como
mitos de origem, nos revelam a origem da condição atual do ser humano, dos
comportamentos humanos, da morte, da religiosidade e do universo num todo.
Porem este aspecto estrutural tem duas ramificações, a histórica e a
Ontológica.A existência pode ser vista e entendida como o mundo veio a existir,
pela ontologia, mas também pode ser visto e entendido pelo ponto de vista
histórico, tal como o mundo e o ser humano fizeram sua história junto aos seus
Ancestrais, independente de surgido ou não dos Entes.
Enfim. os mitos estão presentes em varias culturas e
tradições Religiosas sendo necessário uma leitura histórica, antropológica,
sociológica e filosófica, assim sendo só o senso comum não basta, é preciso
analisar os mitos em sua conjuntura.
Comentários
Postar um comentário