IDEIAS DE DIVINDADE(S) NOS TEXTOS SAGRADOS ORAIS E ESCRITOS


IDEIAS DE DIVINDADE(S) NOS TEXTOS SAGRADOS ORAIS E ESCRITOS

As tradições religiosas preservam seus ensinamentos e normas através de textos que são considerados sagrados. Atribui-se a eles uma origem divina através de um mensageiro, um iluminado ou um discípulo. Os textos são expressões da relação do humano com o divino. Neles há um forte apelo do Criador e das forças sobrenaturais para que o ser humano torne-se mais justo, compassivo, bom e santo.  O leitor sabe que, ao acolher os ensinamentos dos textos sagrados, pode tornar-se perfeito ou aproximar-se da divindade, dando maior sentido à sua existência.  Os livros sagrados revelam o desejo de transcendência presente nas culturas e povos das mais diferentes regiões do planeta nos diversos períodos da história.
São exemplos de escrituras sagradas: o Bhagavad-Gita do hinduísmo; a Torah do judaísmo; o Tri-Pitakas do budismo; o Novo Testamento do cristianismo e o Alcorão dos muçulmanos. Há muitos textos e saberes sagrados difundidos pelo globo, mas estes são os mais conhecidos e pela maior parte da população mundial.

1.      O BHAGAVAD-GITA dos hindus
É conhecido como Sublime Canção, Canção do Senhor ou a Mensagem do Mestre, que é um dos pilares da literatura sagrada mundial. No livro, Krishna, que viveu na Índia antiga há mais de 5.000 anos, há uma mensagem de amor, fé e esperança. Reverenciado por budistas, hindus e brâmanes é também, por excelência, o livro principal da religião hindu. Sua filosofia é um episódio da antiga epopéia hindu: Mahâbhârata (Maha = grande, Bhârata = Índia), que compreende 250 mil versículos, descrevendo a grande guerra entre os Kurus e os Pândavas. A batalha teve início quando Brishma, comandante dos Kurus, deu o sinal, tocando a sua corneta e logo foi respondido pelos Pandâvas. Arjuna pede então a Krishna no princípio da batalha que deixe parar o carro no meio do espaço entre os dois exércitos e eis que vê de perto seus parentes e amigos, em ambos os lados, fica horrorizado por constatar que se trata de uma guerra fratricida, dizendo a Krishna que preferia morrer sem se defender, a matar seus parentes.
A resposta de Krishna é um comovente discurso filosófico, que forma a maior parte do Bhagavad Gita. Escrito na melhor tradição dos livros sagrados, a luta aqui relatada não é outra que a luta travada no espírito humano do Bem contra o Mal. A supremacia do espírito sobre o egoísmo, paixões e prazeres mundanos. Sua leitura leva a diversos níveis de compreensão de verdades místicas e esotéricas.

2.      O TRI-PITAKAS dos budistas
Do sânscrito significa As Três Seções das Escrituras Budistas e compreendem o Sutra-Pitaka (Sermões), o Vinaya-Pitaka (Preceitos da Fraternidade Budista) e o Abhidarma-Pitaka (Comentários).
Sidarta Gautama, o Buda, nasceu em 556 a.C., no sopé do Himalaia, atual Nepal. Abandonou a vida principesca e se tornou um mendigo em busca da realidade espiritual. Em 521 a.C., à sombra de uma árvore, atingiu a iluminação. Após 45 anos, pregando a sabedoria e a compaixão, entrou no Nirvana ou alcançou a "Grande Morte".
As escrituras budistas foram traduzidas na China no ano 151 d.C., pelo Imperador Huan. Durante 1.700 anos as traduções para o chinês se processaram, alcançando a cifra de 1.440 escrituras contidas em 5.586 volumes. 
Seus ensinamentos referem-se a quatro preceitos fundamentais: (1) procurar boas companhias; (2) entender a lei; (3) fortalecer a mente através da reflexão; (4) praticar a virtude.
Quanto ao comportamento prevê dez mandamentos:
I. Não matar.
II. Não roubar.
III. Não falar mal dos outros.
IV. Não mentir.
V. Não ingerir alimentos antes das horas pré-fixadas e se abster de bebidas alcoólicas.
VI. Não assistir à festas e espetáculos.
VII. Abster-se de perfumes, ungüentos, adornos e grinaldas.
VIII. Não cobiçar nada de ninguém.
IX. Evitar o conforto de leitos macios.
X. Abster-se de receber esmolas em dinheiro.

3. A TORÁ dos judeus.
A Tora (Lei) original foi transmitida por Deus a Moisés, após ter permanecido 40 dias e 40 noites sem comer, dormir ou beber. A Torá foi ensinada ao povo e seu conteúdo foi compilado na íntegra, para que jamais fosse esquecido e permanecesse imutável, mesmo com a morte dos sábios que a transmitiram, de geração a geração
O rolo da Torá que é aberto e lido na sinagoga, é escrito com uma técnica especial por um sôfer ( escriba) , em pergaminho de couro de animal e tinta à pena. Qualquer letra a mais, a menos, falhada ou apagada, invalida todo o rolo da Torá e sua santidade. Ela deve ser periodicamente revisada.

3.1 A precisão do texto
A Torá foi originalmente ditada por Deus a Moisés, letra por letra. O Midraxe nos diz: "Antes de sua morte, Moisés escreveu treze rolos de Torá. Doze foram distribuídos a cada uma das doze Tribos. O 13º foi colocado na Arca da Aliança juntamente com as tábuas". Como eram conferidos os novos rolos? Um autêntico "texto de prova" era sempre mantido no Templo Sagrado em Jerusalém, e os outros rolos podiam ser conferidos baseando-se nele. Após a destruição do Segundo Templo em 70 dC, os sábios faziam conferências periódicas para eliminar qualquer falha.
Quantas letras há na Torá? São 304.805 letras e 79.976 palavras. O meticuloso processo de copiar um rolo à mão leva mais de duas mil horas (trabalho de tempo integral por um ano).
Para eliminar qualquer chance de erro humano, o Talmud enumera mais de vinte fatores relevantes para que um rolo de Torá possa ser considerado apto. Este é o sistema de segurança embutido na Torá. Se faltar algum destes fatores, ela não terá a santidade necessária nem poderá ser usada para leitura em público.
Quando um rolo da Torá fica pronto para ser entregue num estabelecimento, geralmente sinagogas e casas de estudos onde será utilizada para os serviços religiosos, uma grande festa toma lugar. É armada, em honra à Tora, uma chupá, pálio - cobertura de tecido que é usada sob os noivos no dia de seu casamento sob a qual recebem as bênçãos de sua união. Este costume é alusivo ao noivo, Deus, e seu casamento com Sua noiva - Israel. Todos dançam com a Torá com música e alegria.
A leitura da Torá é realizada segundas e quintas-feiras, no Shabat e nas festas judaicas, em Rosh Chôdesh (o primeiro dia do mês) e com jejuns.
Para os judeus Moisés escreveu todos os cinco livros da Torá. As passagens que se referem a ele aparecem na terceira pessoa, pois cada uma de suas palavras foi-lhe ditada por Deus.
A Torá é também denominada pelos seguintes nomes: Leis de Moisés, Chumash ou Pentatêuco. É composta por cinco livros: Bereshit (Gênesis), Shemot (Êxodo), Vayikra (Levítico), Bamidbar (Números) e Devarim (Deuteronômio).

3.2 O Talmud e a Mishná
A Torá oral foi ensinada de boca em boca através das gerações até o século IV d.C., quando então foi demais para o povo lembrar, fez-se anotações em um enorme documento, constituído de muitos volumes, chamado Mishná.
A Mishná foi ensinada nas escolas no decorrer de gerações, acompanhada de uma explicação oral. No século V d.C., tornou-se muito vasta e confusa para as pessoas entenderem, assim, a explicação oral foi escrita em uma coleção que explica melhor a Mishná. É o Talmud (a explicação da Mishná).
Os 63 volumes da Mishná são divididos em seis seções, cada uma sobre uma área diferente da antiga vida judaica: agricultura, dias Festivos, lei civil, relações familiares, sacrifícios no Templo e pureza ritual.
O Talmud define e dá forma ao judaísmo, alicerçando todas as leis e rituais judaicos. Enquanto o Chumash (o Pentateuco, ou os cinco livros de Moisés) apenas alude aos Mandamentos, o Talmud os explica, discute e esclarece.

4. O NOVO TESTAMENTO dos cristãos
Os primeiros manuscritos do Novo Testamento que chegaram até nós são algumas das cartas do Apóstolo Paulo, destinadas a pequenos grupos de pessoas de diversos povoados que acreditavam no Evangelho por ele pregado.
A formação desses grupos marca o início da igreja cristã. As cartas de Paulo eram recebidas e preservadas com todo o cuidado. Não tardou para que esses manuscritos fossem solicitados por outras pessoas. Dessa forma, começaram a ser largamente copiados e as cartas de Paulo passaram a ter grande circulação.
A necessidade de ensinar novos convertidos e o desejo de relatar o testemunho dos primeiros discípulos em relação à vida e aos ensinamentos de Cristo resultaram na escrita dos Evangelhos que, na medida em que as igrejas cresciam e se espalhavam, passaram a ser muito solicitados. Outras cartas, exortações, sermões e manuscritos cristãos similares também começaram a circular.

4.1 OUTROS MANUSCRITOS
Além dos livros que compõem o atual Novo Testamento, havia outros que circularam nos primeiros séculos da era cristã, como as Cartas de Clemente, o Evangelho de Pedro, o Pastor de Hermas, e a Didaché (ou Ensinamento dos Doze Apóstolos). Durante muitos anos, embora os evangelhos e as cartas de Paulo fossem aceitos de forma geral, não foi feita nenhuma tentativa de determinar quais dos muitos manuscritos eram realmente autorizados. Entretanto, gradualmente, o julgamento das igrejas reuniu a coleção das Escrituras que constituíam um relato mais fiel sobre a vida e ensinamentos de Jesus. No Século IV d.C. foi estabelecido entre os concílios das igrejas um acordo comum e o Novo Testamento foi constituído.

5. O ALCORÃO dos muçulmanos
Alcorão é a palavra de Allah (Deus), revelada a Mohammad (Maomé), desde a Surata (capítulo) da Abertura até a Surata dos Humanos, constituindo o texto sagrado dos muçulmanos, da religião islâmica.
O Islam é uma palavra árabe e implica submissão, entrega e obediência voluntária. O Islam significa completa submissão voluntária a Deus, outro significado literal da palavra Islam é Paz, e isto significa que só se pode encontrar a paz física e mental através da submissão e obediência voluntária a Deus.
Origem
Aos quarenta anos de idade, enquanto estava empenhado em um retiro meditativo, o profeta Mohamed recebeu sua primeira revelação de Deus por intermédio do anjo Gabriel. Maomé era analfabeto e precisou ditar aos seus escribas tudo o que lhe fora revelado por Alá. Essa revelação, que prosseguiu por vinte e três anos, é conhecida como Alcorão.Tão logo ele começou a recitar as palavras que ele ouviu de Gabriel, e a pregar a verdade que Deus havia lhe revelado, ele e seu pequeno grupo de seguidores sofreram perseguições amargas, que se tornaram tão violentas no ano de 622 que Deus lhes ordenou que emigrassem. Este evento é a Hégira (migração), na qual eles se mudaram de Meca para a cidade de Medina, cerca de 260 milhas ao norte, marca o início do calendário muçulmano. Depois de muitos anos, o profeta e seus seguidores retornaram a Meca, onde perdoaram seus inimigos e estabeleceram o Islam definitivamente. 
Nenhuma palavra das suas 114 suratas (capítulos) do Alcorão foi mudada no decorrer dos séculos. Diz Deus no Alcorão: ''Eis o Livro que é indubitavelmente a orientação dos tementes a Deus, que crêem no incognoscível, observam a oração e gastam daquilo com o que os agraciamos.’’
O Alcorão é a principal fonte da fé e da prática de todo muçulmano. Ele trata de todos os assuntos relacionados com os seres humanos: sabedoria doutrina, rituais e lei, mas o seu tema básico é o relacionamento entre Deus e suas criaturas. Ao mesmo tempo, ele dá orientação para uma sociedade justa, a conduta humana decente e para um eqüitativo sistema econômico.
O Alcorão abrange vários assuntos:
Primeiro - O Alcorão dá o conhecimento de Deus; os seus nomes e atributos, dos anjos, dos Livros por Ele revelados, dos mensageiros por Ele enviados, do dia do juízo final e da predestinação. E mostra as obrigações diante dessa crença.
Segundo - Mostra as regras do bom comportamento, e as virtudes com as quais os homens devem se moldar.
Terceiro - As regras das práticas que organizam a relação dos homens com Deus (orações, paga do Zakat (dízimo), jejum, peregrinação, promessas etc...) e as que regulamentam as relações dos homens entre si, seja individualmente, em grupos ou enquanto nações.
Quarto - As histórias dos povos passados, para que se tire proveito delas, aprendendo com os acertos e com os erros do passado. 

5.1 Outras fontes sagradas
A Suna, o texto que se refere á prática e ao exemplo do Profeta Maomé é a segunda autoridade para os muçulmanos. Exemplos dos Ditos do Profeta Mohamed O Profeta disse: 
"Deus não tem misericórdia daquele que não tem misericórdia dos outros".
"Ninguém de vós crê realmente, antes de desejar a seu irmão o que deseja a si próprio.'' ''Aquele que se alimenta, enquanto o seu vizinho está passando fome, não é crente.''“ O comerciante honesto está associado aos profetas, aos santos e aos mártires.’’

Consideração Final
A humanidade conhece muitas formas de se relacionar com o transcendente. Os textos sagrados são pedras preciosas da história das religiões, pois estão carregados de ensinamentos e preceitos que normatizam a vida humana desde os seus aspectos mais básicos até a regularização da boa convivência social.
As escrituras sacras pretendem estimular o crente a desenvolver sua religiosidade através da adesão fiel ao texto revelado que supõe uma fé explícita. Comparados os escritos há muitas diferenças e por isso pretendem uma singularidade diante de outras relações com o sagrado. É inevitável, entretanto,  perceber em todos os textos o desejo de paz e equilíbrio da pessoa e da sociedade que acolhe os escritos. Oxalá o conhecimento dessas semelhanças aproxime os povos da terra para dissipar as forças do ódio que tem dilacerado a humanidade em todo os tempos. Isso não exige que cada religioso perca sua identidade, mas pressupõe que toda relação com o sagrado seja humanizadora e pretenda uma convivência pacífica.
A Regra de Ouro de todas as religiões é o amor. Este conceito não é abstrato, mas se define na relação com o semelhante: Um mestre judeu escreveu: “O que é odioso a vós, não façais aos outros”. O Buda afirmou: Não firais os outros com o que vos fere “. O Mahabaratha hindu diz:” Eis a súmula de todo dever: não façais aos outros o que, se fosse feito a vós, vos causaria dor “. Mohamad (Maomé) ensina:” Nenhum de vós sois um crente até devotar pelo próximo o amor que devotais a vós mesmos “. E Jesus sentencia:” Tudo aquilo que quereis que os homens vos façam, fazei vós a eles “.
Arrisquemos a viver pelo amor, seguindo os mestres e os escritos das religiões, atingiremos o bem maior: amar para ser amado!

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