A SOCIEDADE EM QUE VIVEMOS
A SOCIEDADE EM QUE VIVEMOS
Para
entendermos a sociedade em que vivemos temos que traçar um caminho correto para
não cairmos em armadilhas. Primeiramente, temos que nos afastar do senso comum,
não podemos balizar nossa análise a partir do que vemos, do que achamos, do que
parece ser.
É
preciso que nos lancemos à uma imersão nos conceitos fundamentais que organizam
a sociedade e, partir da compreensão e desenvolvimento destes conceitos,
ousemos fazer uma análise da conjuntura, ou seja, analisar o universo que
estamos inseridos.
Como
fazer uma análise de conjuntura? Fatores a serem analisados:
1)
Fatores econômicos:
Sem
entendermos como é organizada a economia no nosso país e no mundo (tendo em
vista que nos dias de hoje elas estão diretamente relacionadas) não podemos
compreender o mundo em que vivemos. O primeiro passo é saber qual é o modo de
produção que move nossa sociedade, para que então possamos entender a forma que
isto se relaciona com a política, com nossa vida cotidiana e como perpassa
todas as nossas relações sociais.
Vivemos
no modo de produção capitalista, hoje reinando absoluto no mundo todo. Se dizem
haver diferenças entre um e outro país é porque dentro do capitalismo existem
papéis diferentes para países diferentes. No capitalismo globalizado
imperialista existe uma estrutura de poder estabelecida onde a potencia
imperialista impõe sua política econômica (e com ela a política social,
ambiental e etc) para todo o resto do mundo.
Para
resumir: o capitalismo, modo de produção na qual uma pequena elite detém os
meios de produção e uma grande massa vende sua força de trabalho para
sobreviver. Sua base de funcionamento é a exploração, esta filosofia estende-se
à relação entre pessoas, empresas, países, etc.
2)
Fatores Políticos:
Os
fatores políticos estão diretamente relacionados aos fatores econômicos. Como
diria o importante teórico econômico e cientista político Karl Marx, o Estado é
o comitê de negócios da burguesia. Ou seja, em um sistema capitalista o Estado
existe para defender os interesses dos empresários e manter a população
trabalhadora controlada através de pequenas concessões e benesses. O problema
não está na forma que o povo vota, nos políticos que aí estão, tudo isso faz
parte do funcionamento do sistema tanto nacional como internacionalmente,
obedecendo critérios estabelecidos por aqueles que lideram o capitalismo
internacionalmente, do qual somos somente subsidiários.
3)
Fatores sociais:
Fatores
sociais são o produto das operações realizadas pelos fatores econômicos e
políticos. Se há fome e pobreza não é sem motivo e nem por falta de vontade das
pessoas em fazerem diferente. Desde sua origem o sistema capitalista prevê que
haja sempre uma massa de desempregados que serve como forma de pressão permanente
para aqueles que estão empregados aceitarem condições inferiores de trabalhos
com o medo de perderem seus empregos. Ainda previa-se que outra multidão de
pessoas permaneceria literalmente à margem da sociedade, não fazendo parte da
engrenagem de funcionamento, jogado abaixo da linha da miséria e ignorados
porque não fazendo parte do sistema produtivo e então pouco importam.
A
partir da análise destes elementos fundantes é possível começarmos a
desenvolver uma análise de conjuntura e estudar melhor o funcionamento real de
nossa sociedade, tendo em vista que eles nos levarão à outras questões e assim
sucessivamente. Quanto mais perguntas você estiver mais perto estará da
verdade, para além das aparências, para além do senso comum e mais forte para
poder compreender e, quem sabe, compreendendo, lutar para mudar as coisas como
elas são, mas sabendo que elas podem ser diferentes.
Como viver nossa fé na sociedade
atual?
Hoje,
para muitos cristãos, viver a fé no meio do mundo é todo um desafio. Nunca faltam ocasiões que nos põem à prova e
exigem de nossa parte coerência e valentia para manifestar ao mundo o que
cremos. Vergonha, temor, desconforto, e
muitas outras experiências humanas às vezes nos impedem de viver segundo quem
somos verdadeiramente. No meio de um
mundo carregado de manifestações de uma “cultura de morte” nós, cristãos, temos
o desafio de viver com coerência nossas promessas batismais para assim
iluminar, com o resplendor da fé em Cristo, um mundo que parece perder-se nas
trevas da incredulidade. O cristão é uma
pessoa de fé. Não se pode ser cristão
sem ter-se encontrado com Cristo, pois cristão é quem é “de Cristo”, quem foi
marcado com seu selo indelével na água do Batismo. Nossa fé nasce de um encontro com o Deus vivo
manifestado em Jesus Cristo Nosso Senhor.
Deus nos chama e nos revela seu amor para que vivamos com segurança e
saibamos sobre quem construímos nossa própria vida.
Quando
queremos alicerçar nossa vida sobre o amor de Deus entendemos que a fé não pode
ser algo acessório. O acessório, no
fundo, é um detalhe que pode ou não estar presente, sem alterar o importante. Com a fé não é assim. A existência do cristão deve estar
fundamentada em Deus, naquele que nos concedeu o dom da fé e a quem respondemos
com a adesão sincera e coerente da própria vida. Quando entramos em um quarto
que está às escuras, a princípio é pouco o que podemos ver. Inclusive quando nossos olhos se acostumam à
escuridão, não conseguimos ver com clareza o que há. Tudo muda quando abrimos as cortinas e
janelas, ou acendemos a luz. Então tudo
fica iluminado, e podemos ver com clareza.
De maneira análoga, a luz da fé ilumina nossa existência. A fé ilumina todo o homem: sua inteligência,
sua vontade, seus afetos, suas emoções, sua história, seus desejos, seu futuro
definitivo.
Assim
como não há nada no homem que a luz da fé não ilumine, seria absurdo pensar que
pode haver só “uma parte de mim” que é cristã.
O encontro com Deus é total e, portanto, é toda a pessoa que se encontra
com Deus e a quem Deus transforma. Por
isso acreditamos em Deus com a mente, aderimos a Ele com o coração e procuramos
viver segundo seus ensinamentos na ação. De igual modo, a fé “ilumina também as
relações humanas, porque nasce do amor e segue a dinâmica do amor de Deus”. O Deus digno de fé constrói para os homens
uma cidade confiável. Não há realidade
humana que seja alheia à fé, pois o amor de Deus ilumina tudo o que
existe. É por isso que, não só o homem,
mas também toda a realidade encontrará em Deus seu sentido último: “Eu sou a
luz do mundo; quem me segue não caminhará na escuridão, mas terá a luz da vida”.
O mundo atual
Poderíamos
descrever o tempo atual como um tempo cheio de contrastes e contradições. Em alguns lugares do mundo se deu passos para
uma maior fraternidade, solidariedade e reconciliação. Hoje são muitos os que velam pelo respeito
dos direitos humanos, pela liberdade religiosa, pela solidariedade com o mais
necessitado, pela paz mundial, pelo cuidado com a criação. Em distintas partes do planeta vão
florescendo inumeráveis “sinais de esperança” que permitem sonhar com um mundo
melhor. Mas também sabemos que, como
afirmou o Papa Francisco, com frequência os homens se deixam guiar por ideologias
e lógicas que são ditadas “pelo egoísmo, pelo próprio interesse, pelo lucro,
pelo poder, pelo prazer, e não são ditadas pelo amor, pela busca do bem do
outro”.
Também
vemos que há muitos cristãos imersos em um agnosticismo funcional onde, embora
digam acreditar em Deus, vivem como se Deus não existisse. Esta triste realidade cria uma profunda
ruptura entre a vida cotidiana do cristão e a fé. Assim muitos são “cristãos” na vida privada,
mas na vida pública são homens e mulheres “do mundo”, vivendo segundo o mundo e
não segundo Deus. Quantas vezes,
infelizmente, estas pessoas em nada se distinguem de quem vive de costas para
Deus.
A Igreja não é indiferente ao mundo
de hoje
A
Igreja não se cansa de repetir que as alegrias e as esperanças, as tristezas e
as angústias dos homens de nosso tempo, sobretudo dos pobres e de quantos
sofrem, são também alegrias e esperanças, tristezas e angústias dos discípulos
de Cristo. Isso requer, porém, que os
batizados não reduzam sua fé à vida privada.
Não se pode ser uma pessoa diante de Deus e outra diante dos homens, e a
Igreja — que somos nós, todos os batizados — requer que esse compromisso
alcance todos os rincões da vida. Estando chamado a viver no meio do mundo, o
cristão deve permitir que sua fé impregne toda a sua existência para que possa
iluminar com a luz de Cristo os que vivem nas trevas: “Vocês são a luz do
mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. Ninguém
acende uma lamparina para colocá-la debaixo de um cesto. Pelo contrário, ela é
colocada no lugar próprio para que ilumine todos os que estão na casa. Assim
também a luz de vocês deve brilhar para que os outros vejam as coisas boas que
vocês fazem e louvem o Pai de vocês, que está no céu”.
Estando
no meio do mundo, a vida do cristão se vê iluminada com o testemunho que o
próprio Senhor Jesus deu no meio de nós: “Eu vim ao mundo como luz para que
quem crê em mim não fique na escuridão. Se alguém ouvir minhas palavras e não
as praticar, eu não o julgo. Pois eu vim para salvar o mundo e não para
julgá-lo”. As palavras do Senhor nos
convidam a viver nossa fé sem medos, e sem cair na tentação de diluir aqueles
aspectos que são particularmente sinais de contradição em nosso tempo.
Ser sinais de contradição no mundo
atual
Viver
no meio do mundo, sem ser do mundo, é um chamado exigente. Sabemos que como Igreja nada do humano nos é
alheio e, portanto, devemos procurar que a luz de Cristo ilumine cada rincão do
mundo e a vida das pessoas. Quantos
homens e mulheres vivem nas trevas em nossas cidades, tão perto de muitos
cristãos, e esperam ansiosos a salvação de Deus. E quantos outros por preconceitos, por seus
próprios pecados, ou pelo mau testemunho de alguns cristãos, já não querem
receber o Evangelho da Reconciliação. É por isso que o cristão não só deve
viver sua fé no mundo atual, como também deve fazê-lo integralmente: pensando
como cristão, sentindo como cristão e atuando como cristão. Isso nos levará, muitas vezes, a sermos
sinais de contradição. Devemos recordar
as palavras que o próprio Senhor Jesus dirigiu a seus discípulos: “Eu digo isso
para que, por estarem unidos comigo, vocês tenham paz. No mundo vocês terão
problemas; mas tenham coragem! Eu venci o mundo”.
Apesar
dos desafios, não devemos temer pois sabemos que em Cristo teremos a
vitória. Sigamos as palavras que o Papa
Francisco dirigiu aos jovens exortando-os a ir contracorrente: “Não tenham medo
de ir contracorrente, quando nos querem roubar a esperança, quando nos propõem
estes valores que estão danificados, valores como a comida estragada e quando
uma comida está estragada, nos faz mal; estes valores nos fazem mal. Devemos ir
contracorrente! E vocês, jovens, sejam os primeiros: vão contracorrente e
tenham este orgulho de ir contracorrente. Avante, sejam corajosos e vão
contracorrente! E sejam orgulhosos de fazê-lo!”.
Assim
como o Senhor nos convida a não ter medo, também nos chama a nos prepararmos
para sermos suas testemunhas e perseverarmos até o fim. Pede-nos uma vida espiritual sólida,
anima-nos a buscar os sacramentos com frequência, indica-nos o horizonte da amizade
em Cristo para caminhar junto aos outros irmãos e irmãs na fé pelo caminho da
santidade. Conhecer e estudar a fé,
saber as razões que fundamentam nossa esperança, comunicá-la e explicá-la com a
consciência do formoso dom que temos, são também atitudes que hoje o mundo
necessita e deseja com urgência, mesmo que muitas vezes não o reconheça. Como dizia o Papa: “Avante, sejam corajosos e
vão contracorrente! E sejam orgulhosos de fazê-lo!”
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