O mundo dos primeiros cristãos - A Palestina no tempo de Jesus
O mundo dos primeiros cristãos - A
Palestina no tempo de Jesus
É comum nos dias de
hoje saber que não é possível entender a história de Jesus fora do contexto
histórico em que ele viveu. Sua atuação se deu em um tempo e lugar determinados
dentro de circunstâncias bem concretas. Conhecer esse contexto é um fator
primordial para entender o que significa a vida, as palavras e suas ações,
principalmente para a vida das primeiras comunidades cristãs e para nós hoje.
A sociedade
palestinense sob a tutela do império romano é bastante complexa em sua rede de
relações políticas, econômicas, religiosa e ideológicas. Havia uma insatisfação
e uma instabilidade política que por força ideológica assombrava o povo; havia
uma população bastante heterogênea e grupos opostos; bem como, excessiva
exploração do povo por meios de impostos; divisões administrativas do império
em regiões e locais estratégicos; havia também as divergências teológicas entre
grupos religiosos judeus, bem como divergência e confrontos ideológicos dos
grupos e partidos políticos tanto romano, como judaico.
Do ponto de vista
econômico, o modo de vida e consumo da sociedade era marcado pelos desmandos do
comercio principalmente religioso; como da produção da cerâmica artesanal, da
agricultura, da pecuária, da pesca e dos pequenos trabalhos braçais
(carpintaria, consertos de redes, etc).
Dentro da sociedade, os
pobres eram uma categoria que se apresentava sob variados estereótipos:
assalariados, escravos, artesãos de aldeia e pescadores. Eram os marginalizados
e discriminados sociais. Não ficavam atrás, as viúvas, as mulheres, as
crianças, os doentes, os leprosos, os possessos, os estrangeiros. Sobretudo
essa marginalização adivinha de razões não só sociológicas, mas de razões
religiosas mesmo, onde havia as prescrições levíticas sobre a pureza e impureza
legal, o que tornava as muitas situações dessa gente via de regra,
irreversíveis.
A família tinha uma
imensa importância na vida social e religiosa, pois era guardiã das tradições.
Sua constituição era patriarcal, ai a mulher casada tem força administrativa
dos afazeres domésticos tão somente, mas o poder de decisão compete ao homem.
Socialmente, os grupos
tanto religiosos, como político, ideológico, têm grandes influencia, mas não
tem força de decisão na política dominadora romana.
Eis
algumas de suas características.
Havia o grupo dos
Saduceus: formado pelos grandes proprietários de terras e membros da elite
sacerdotal. Rejeitavam as doutrinas dos fariseus, negavam a ressurreição e o juízo
final. São os maiores colaboradores do império romano, conservadores em
assuntos religiosos e políticos. Foram os principais responsáveis pela morte de
Jesus;
Havia o grupo dos Fariseus: religiosos leigos,
tradicionais, tinham fama de acumularem méritos perante a lei e a religião,
gostava de serem bem vistos pelo povo. Acreditava na imortalidade da alma, na
ressurreição, na existência de anjos e espíritos, a intervenção de Deus nos
destinos humano, e por isso mesmo acreditavam que havia os justos e os
pecadores. Seu conceito e práticas religiosas levavam o povo a afastar-se e ter
uma concepção de Deus e da religião bastante alheia a pratica da misericórdia.
Sua influencia era extraordinariamente grande na religião e na sociedade.
Os Essênios eram uma seita de monges que se consideravam eleitos de
Deus. Eles não participavam do culto e nem valorizavam a instituição religiosa.
Consideravam-se o único povo de Deus legitimo prontos para a batalha do dia da
Javé contra os inimigos. Viviam em pequenas comunidades e mantinham uma regra
de vida comum. Tinham rituais próprios (banhos, refeições, batismos, abluções)
e eram contra os romanos.
Os Zelotes eram os zelosos ou fanáticos, representavam a ala mais
radical dos fariseus. Utilizava-se de armas e formavam grupos revoltosos para
combates contra os romanos. São os zelotas que se empenham na campanha contra
os romanos em 66 d.C e levaram o povo à ruína em Massada.
Também havia os Herodianos que eram colaboradores do
rei Herodes. Funcionários da máquina do Estado, muitos dentre eles eram judeus
e se beneficiavam com o regime. Verdadeiros bajuladores eram olhos e mãos do
rei.
Por fim, temos ai os Samaritanos – que eram habitantes da
região as Samaria, considerados pelos judeus como hereges e pagãos e não tinham
relações amigáveis com essa gente. Para os judeus, os samaritanos eram uma
mistura de povos pagãos com sangue judeus e por isso mesmo eram tidos como
gente pecadora.
Jesus viveu nesse
contexto. Sua pratica evangelizadora vai mostrar o “rosto materno” e humano de
Deus, o Pai. Ele vai ao encontro do doente, do pobre, do pecador, do pescador,
da mulher. Acolhe a criança, o leproso, o cego, o possesso, e lhes mostra a
todos o quanto Deus é Presença Libertadora, Salvadora, agindo no meio do povo.
Sua ação é motivada por amor e obediência ao Pai. Jesus acredita que o Reino de
Deus já está instaurando no meio do povo, ele age e prega essa boa nova e pede
de seus ouvintes a conversão, abertura de mente e coração, atitude de vida – a
metanóia.
A pratica de Jesus será
levada adiante pelos seus discípulos, com a chegada do Espírito Santo, após a
morte e ressurreição do mestre. Eles, como Jesus, acolhe o povo, anunciam-lhe
boas novas, propõe uma nova história de vida com as/nas comunidades cristãs.
A palestina no tempo de
Jesus é um aspecto importante da reflexão bíblica atual. Ela é imediatamente
necessária para uma compreensão mais ampla e abrangente do contexto em que o
Jesus histórico estava situado, consequentemente as diversas referências
bíblicas a lugares, animais, dinheiro e distancias no novo testamento. Muito
dos aspectos geográficos foram-se desenvolvendo ao longo de anos e a expensas
de muitas revoltas – embora não tenhamos explorado sob esse angulo. Os aspectos
econômicos estão diretamente localizados no âmbito da pecuária, da agricultura
, da exportação e importação. Embora não mencionado diretamente, vale lembra
que toda economia, da época de Jesus, estava vinculada a situação política que
esse país vivia, que embora independente em muitos aspectos estava vinculada ao
grande império Romano.
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